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América Latina, Eurásia, Golfo Pérsico: quais países caminham para aposentar o dólar?

"A participação das moedas nacionais nos acordos entre os países do Brics já está crescendo rapidamente", afirmou recentemente Sergei Lavrov
Redação Sputnik Brasil
Sputnik Brasil
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

As sanções dos EUA contra a Rússia e outros países colocaram em risco o domínio do dólar, já que as nações visadas estão buscando alternativas, disse a secretária do Tesouro norte-americano, Janet Yellen, a uma agência de notícias no último dia (17).

“Existe um risco quando usamos sanções financeiras ligadas ao papel do dólar que, com o tempo, podem minar a hegemonia do dólar“, disse Yellen.

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Então, quais países estão prontos para descartar o uso da moeda dos EUA em transações comerciais?

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"A participação das moedas nacionais nos acordos entre os países do Brics já está crescendo rapidamente", afirmou recentemente Sergei Lavrov

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Rússia

Em um novo sinal da pressão da Rússia para abandonar o dólar, o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, disse em um comunicado na semana passada (14) que a tendência de abandonar o dólar por acordos no comércio internacional é “irreversível”.

Lavrov acrescentou que o processo de “fuga” do dólar de vários países, incluindo a Rússia, já está em vigor e que “certamente se acelerará” no futuro imediato.

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Segundo o ministro, os EUA deram um tiro no próprio pé, administrando a economia mundial por meio do papel dominante do dólar. Lavrov acrescentou que as sanções impostas por Washington a Moscou por causa de sua operação militar especial na Ucrânia indicaram a necessidade de outros países reduzirem sua dependência do Ocidente.

Isso ecoou comentários anteriores do presidente Vladimir Putin sobre o “processo inevitável de desdolarização”, que ele disse estar ocorrendo atualmente na Rússia e exige a reestruturação da economia nacional o mais rápido possível.

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O Ministério das Finanças da Rússia, por sua vez, chamou repetidamente o dólar de “tóxico”, enquanto o chefe do banco VTB da Rússia, Andrei Kostin, descreveu a moeda americana como a arma mais poderosa de Washington, permitindo-lhe “dominar e assustar outros países”. A Rússia não tem outra escolha a não ser “seguir o caminho da desdolarização”, segundo ele.


Brasil e China

Separadamente, na semana passada, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva exortou os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) a encontrar uma alternativa para substituir o dólar no comércio exterior.

“Por que uma instituição como o Banco do Brics não pode ter uma moeda para financiar as relações comerciais entre o Brasil e a China, entre o Brasil e todos os outros países do Brics?”, indagou Lula durante uma visita ao Novo Banco de Desenvolvimento, com sede em Xangai.

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Ao mesmo tempo, ele admitiu que abandonar o dólar é “difícil porque não estamos acostumados [à ideia]. Todo mundo depende de apenas uma moeda”.

Lula falou depois que o Brasil fechou um acordo com a China para negociar em suas próprias moedas, em uma tentativa de abandonar o dólar como intermediário. A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos disse que o acordo vai ajudar a “reduzir custos e promover um comércio bilateral ainda maior e facilitar investimentos”.

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A mídia ocidental, por sua vez, noticiou na época que o acordo deveria “permitir que a China, a principal rival da hegemonia econômica dos EUA, e o Brasil, a maior economia da América Latina, conduzissem suas maciças transações comerciais e financeiras diretamente, trocando yuan por reais e vice-versa ao invés de passar pelo dólar”.

Um meio de comunicação estatal chinês disse, entretanto, que o maior banco comercial do país, o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC, na sigla em inglês), processou a primeira liquidação transfronteiriça de yuans no Brasil em sua filial local, “marcando outro passo significativo na globalização do yuan“.

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A transação se tornou a primeira desse tipo desde que o banco central da China autorizou o ICBC como um banco de compensação de yuans no Brasil em fevereiro.

Especialistas chineses foram citados pelo veículo dizendo que “espera-se que os acordos em yuans impulsionem a recuperação econômica e comercial regional na era pós-COVID-19 e ajudem as empresas a encontrar uma alternativa mais confiável ao dólar americano, à medida que buscam um comércio transfronteiriço mais seguro e acordos de investimento”.

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O pesquisador assistente do Departamento de Estudos Latino-Americanos e Caribenhos do Instituto de Estudos Internacionais da China, Zhang Jieyu, disse à agência que o acordo do yuan com o Brasil “envia uma mensagem clara da crescente aceitação e influência da moeda chinesa globalmente, que servirá como um exemplo a ser seguido por mais países”.

A agência informou que “enquanto o dólar americano ainda domina as reservas cambiais do Brasil, o papel do yuan, como uma moeda de reserva internacional em ascensão, tem sido destacado ultimamente”.

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Um recente relatório de pesquisa do Banco Central do Brasil mostrou que, no final de 2022, a proporção do yuan nas reservas cambiais internacionais do Brasil atingiu 5,37%, superando a proporção do euro em 4,74%, o que significa que o yuan se torna a segunda maior moeda de reserva do país sul-americano.


Índia

Embora a Índia esteja pessimista sobre o comércio de yuan devido às relações tensas do país com a China, a própria ideia de diversificar as moedas de comércio exterior é de grande interesse para Nova Deli.

Relatos da mídia disseram na semana passada que uma série de países estava conversando com o banco central da Índia para discutir a conclusão de transações comerciais mútuas em rúpias indianas.

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Os países supostamente incluem os vizinhos imediatos da Índia, como as Maldivas e Mianmar, bem como a Rússia e até o Reino Unido, Alemanha e Nova Zelândia.

Segundo os relatórios, empresas e bancos dos países mencionados planejam agora criar as chamadas “contas vostro” (conta de correspondente estrangeiro) em bancos indianos, o que vai os ajudar a fechar negócios para o fornecimento de produtos indianos no exterior e vice-versa.

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No momento, o sistema parece bastante complicado, visto que a abertura de cada uma dessas contas deve ser aprovada pelos reguladores indianos e que os saldos acumulados das contas só podem ser investidos em títulos do governo indiano. Especialistas dizem que, embora o sistema esteja fora de sintonia com os princípios do livre comércio, ele representa um grande avanço. Acredita-se que o esquema já tenha sido testado em transações relacionadas ao comércio russo-indiano e da Índia e do Irã.


Campanha do Brics para ‘aposentar’ o dólar

Quanto ao Brics como um todo, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse em fevereiro que os Estados-membros do grupo já estão trabalhando ativamente para aumentar os pagamentos em moedas nacionais no comércio mútuo e nas operações financeiras devido à falta de confiabilidade do dólar.

“A participação das moedas nacionais nos acordos entre os países do Brics já está crescendo rapidamente. Os países do Brics têm iniciativas que contemplam a necessidade de trabalhar na criação de sua própria moeda. A razão é muito simples: não podemos confiar em mecanismos que estão nas mãos daqueles que podem trapacear a qualquer momento e se recusar a cumprir suas obrigações”, disse Lavrov a repórteres.

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O economista e pesquisador russo, Mikhail Khazin, disse à Sputnik que o domínio do dólar pode acabar com o surgimento de várias zonas de moeda alternativa, incluindo as regiões da América Latina, Eurásia, China e Índia.

Khazin argumentou que o processo já está em andamento e que “agora faz sentido criar um sistema de pagamento que combine os sistemas monetários das zonas eurasiana, chinesa, indiana e latino-americana”.

“É preciso criar um sistema de pagamentos independente do dólar”, destacou.

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Nações do golfo

Em meados de março, o Chinese Export-Import Bank supostamente fechou o primeiro acordo de cooperação e empréstimo com o Banco Nacional da Arábia Saudita. O objetivo é garantir a liquidação futura das transações entre empresas dos dois países em moedas nacionais.

De acordo com especialistas, Riad começou a considerar a mudança para o comércio de yuans já em março de 2022, e sua cooperação ativa com Pequim neste setor nos últimos meses contribuiu significativamente para o processo.

Fim da hegemonia do petrodólar: comércio global de petróleo pressiona por desdolarização

No final do mês de março, a China assinou o primeiro acordo de energia liquidado em yuan referente a cerca de 65 mil toneladas de gás natural liquefeito (GNL) dos Emirados Árabes Unidos.

A transação foi realizada pela China National Offshore Oil Corporation (CNOOC, na sigla em inglês) e pela francesa TotalEnergies por meio da Bolsa de Petróleo e Gás Natural de Xangai. Representantes da empresa chinesa de petróleo e gás CNOOC disseram que pretendem continuar promovendo a “inovação” no comércio de GNL.

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O acordo ocorreu depois que o Banco Central do Iraque anunciou em fevereiro que planejava permitir que o comércio da China fosse liquidado diretamente em yuan pela primeira vez, em um esforço para melhorar o acesso à moeda estrangeira.

O banco central disse que busca compensar a escassez de dólares nos mercados locais, que já havia feito o governo aprovar uma revalorização da moeda.

“É a primeira vez que as importações da China serão financiadas em yuan, já que as importações iraquianas da China foram financiadas apenas em dólares [americanos]”, disse o consultor econômico do governo, Mudhir Salih, a uma agência de notícias do Reino Unido.

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As observações seguiram o especialista russo Mikhail Khazin que disse à Sputnik que o processo “inevitável” de desdolarização foi facilitado pelas amplas sanções de Washington contra os principais atores globais, incluindo a Rússia, e o uso do dólar como um mecanismo de “punição”.

Ao congelar os ativos do Banco Central da Rússia, separando a nação do sistema de pagamento SWIFT e proibindo as exportações de cédulas bancárias nominais em dólares americanos para o país, Washington enviou um sinal sinistro a outros atores mundiais, concluiu o especialista russo.

Redação | Sputnik News


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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