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Brasil sob o desgoverno de Bolsonaro: é hora de derrotar fascistas e conter a pandemia

Não tem como analisar o comportamento de Jair, sua prole e a maior parte de seus ministros sem considerar o fator irresponsabilidade
Bruno Beaklini
Diálogos do Sul Global
Porto Alegre (RS)

Tradução:

Fica difícil fazer análise em tempo real, com a velocidade da pandemia de coronavírus avançando e o desgoverno confundindo mais que ajudando. Nas palavras que seguem a tentativa é nos aproximar do real e das proposições. Vamos começar.

Não tem como analisar o comportamento de Jair Bolsonaro, sua prole e a maior parte de seus ministros sem considerar o fator irresponsabilidade. Muito já me perguntaram a respeito e mais ainda me questiono: Por quê? Qual o nexo causal entre a demência e a necropolítica do presidente que precisa ser urgentemente interditado? Aí vai uma hipótese.

Se Bolsonaro admitir o tamanho da gravidade da pandemia e tomar medidas semelhantes as que vêm sendo tomadas por governos europeus e anglo-saxões – incluindo as primeiras medidas dos EUA sob a administração Trump, governo ao qual ele é servil e lacaio – necessariamente vai precisar mudar o modelo econômico.

Até o momento de eu iniciar este texto a administração de Paulo Guedes – o Chicago Boy à frente do governo protofascista – não havia aportado nem sequer a 3% do PIB em medidas emergenciais para conter os efeitos da pandemia (incluindo o vai e vem da MP 297, a da Sociopatia). Pensemos juntos: no Estado Espanhol estão colocando 20% do PIB no chamado cinturão de seguridade social; os EUA apenas com recursos do governo federal vão aportar cerca de US$ 1 trilhão no auxílio econômico podendo chegar a US$ 4 trilhões de dólares; no Reino Unido o governo do demente e conservador Boris Johnson se compromete a pagar até 80% dos salários dentro de um teto de 2500 libras esterlinas para não sobrecarregar o seguro desemprego do país; a administração central da União Europeia disse que iria colocar cerca de 1 trilhão de euros.

É conta de chegada. Ou os especuladores que comandam a economia brasileira abrem mão do modelo, ou vão dobrar a aposta na confusão e soltar gota a gota para não “ampliar ainda mais o déficit fiscal” do Brasil. É esse o nível da estupidez e da sociopatia.

Não tem como analisar o comportamento de Jair, sua prole e a maior parte de seus ministros sem considerar o fator irresponsabilidade

Foto: Luiza Castro/Sul21
Ruas de Porto Alegre esvaziadas devido ao coronavírus. Av. Independência

Segunda parte

Estamos diante de dois infernos tropicais – e subtropicais no caso da Região Sul – e são simultâneos. O primeiro diz respeito à negação da pandemia em toda a sua dimensão pelo presidente da república, sua prole e asseclas. Para preservar o modelo econômico austericida – ponto de convergência dos golpistas e da traição iniciada no segundo governo Dilma Rousseff quando a chefa de Estado coloca o Joaquim Levy, também Chicago Boy, na Fazenda – e manter a temperatura de agitação protofascista junto a seus seguidores nas redes sociais, o discurso “olavista” é retomado a cada dois dias. E, simultaneamente, o próprio Bolsonaro, ao reforçar mais de si mesmo, perde adesão dobrando a aposta nos 30% a 35% de incondicionais.

Podemos observar neste esforço macabro o discurso olavista de Bolsonaro e o eco retumbante dos manipuladores da fé alheia, os empresários da fé que operam redes de captação de dinheiro sonante (em espécie) em cultos de adoração ao demônio do capitalismo. Não vou citar o nome desses hereges para não entrar em querela jurídica, mas todas e todos sabemos quem são os Fariseus e Herodes do Bananistão, a mesma laia que ajuda a eleger Eduardo Bananinha como o deputado federal mais votado da história do país. Repito o que venho dizendo sem cessar: nem todo evangelicalismo é fariseu assim como nem todo pentecostalismo o é, e tampouco há uma liderança verticalizada nestas religiões. É preciso reconhecer e ser solidário com todo o esforço de protestantes evangélicos da Teologia da Missão Integral, na mesma caminhada da Teologia da Libertação, e primeira linha de luta popular na América.

Mas, apesar dessas considerações, na alta hierarquia do farisaísmo, aí se encontra o perigo. Os líderes empresariais que comandam os pontos de captação de dinheiro vivo – nos cultos em grandes centros de adoração ao bezerro de ouro – e, não por coincidência, estão à frente de poderosos conglomerados midiático-empresariais, estes sim são perigosos apoiadores do proto fascismo tropical e do irresponsável que foi eleito presidente.

Pense no mais alucinado olavista, junto ao mais famigerado apoiador do extermínio parapolicial e acrescente ao mais idiotizado dos imbecis manipulados pelos fariseus. Eis a soma explosiva do bolsonarismo de base, nossos vizinhos e vizinhas de classe média baixa; da classe trabalhadora e nas comunidades periféricas. Pessoas com quem convivemos todos os dias e não se manifestam abertamente, mas se transformam como “possuídos” nas redes sociais, “orgulhosos” de errarem concordância e regência, dilacerando a língua de Machado de Assis e Carolina de Jesus tal como elogiam a tortura e as execuções extralegais. O Brasil tem essa composição ideológica no tecido social e instituições que reproduzem e alimentam tal tipo de comportamento. Esse é o dado de realidade e não há como negar, apenas lutar e organizar para transformar essas condições.

Tamanha tragédia social também atinge aos ignorantes com diploma de nível “superior”, onde não tem pensamento crítico e tudo é adesão por conveniência. O discurso do “Coiso” estava pronto para a “necropolítica dentro da ‘normalidade” do Brasil violento, mas não para uma pandemia mundial. Eis o motivo porque Bolsonaro quando fala, e só lhe resta falar porque governar não sabe e liderar menos ainda, entra na parábola do “sapo e do escorpião”. Logo, ele tem de baixar de 30% de apoio e assim ligar o sinal de alarme, de vez. Quem sabe ao menos no combate à pandemia, seu desgoverno cujo ministro da Saúde é muito criticado pela gestão de 2019 justamente por não defender o SUS, consegue realizar algo diferente de ser macabro e incompetente?

Terceira parte

Vamos supor então que finalmente Bolsonaro assuma o tamanho da pandemia e tome todas as medidas necessárias para achatar a curva de expansão do vírus. Qual a consequência lógica disso? Uma diminuição ainda mais drástica da atividade econômica, passando pelo tema da circulação controlada de cargas e pessoas, e a necessidade urgente de Planificação Econômica dos serviços essenciais.

A decisão correta agora seria garantir a quarentena de todas as categorias do mundo do trabalho que não fossem consideradas essenciais segundo o Ministro da Saúde seguindo as orientações da OMS. Isso vai ocorrer? Na íntegra possivelmente não, a não ser que os governos estaduais sigam tomando à dianteira e se contrapondo à inação do desgoverno de Bolsonaro.

Se todas as orientações da OMS forem consideradas e aplicadas pelo Ministério da Saúde, como fica a atividade econômica no Brasil? Outro problema concreto. Como aplicar estas orientações em comunidades urbanas com péssimas condições sanitárias? E os recursos dos governos locais nas rubricas de orçamento além da saúde coletiva? Como diria um cronista das antigas “é né, pois é”.

Novamente o desgoverno Bolsonaro terá de brigar não mais com seus apoiadores nos estratos sociais mais próximos da base da pirâmide mensurada do IBGE (mais um dos institutos de pesquisas negados pelo olavismo imbecil), mas com o topo da cadeia alimentar urbana, com agiotas e sonegadores importadores (como um certo empresário calvo que aparece sem parar falando estupidez).

Se por um milagre de Santo Antônio Conselheiro o desgoverno dos imbecis seguir as orientações da OMS, não vai querer seguir as demais indicações das agências da ONU, como garantia de renda básica para toda a cidadania, ainda mais em momento de calamidade. Fazendo isso, Bolsonaro teria de escolher entre seguir no governo abrindo mão do austericídio dos Chicago Boys, e ao mesmo tempo, abrir parcelas do governo para outra leva de neoliberais, estes posando de “arrependidos” ou a favor de medidas extremas contra o modelo de necrose social que a canalhada neoliberal a soldo dos agiotas sempre defendeu. Novamente não vou citar nomes aqui, mas sugiro que todas e todos identifiquem estes que se encontra em condição de “arrependimento passageiro” e vejam o papel que cumpriram em gestões privatistas ou a posição na cadeia alimentar da agiotagem internacional operando no Brasil sob os nomes pomposos como “gestores de risco”.

A Globo, ela mesma, com todo o seu potencial, reflete quase que integralmente nas editorias de “economia” (o mais sensato seria denominar editorias de especulação pela financeirização) uma desesperada tentativa de preservar o modelo, mas se opondo ao presidente irresponsável. Essa pode ser a janela de oportunidade, a direita está rachada, a extrema direita se isolando e até a banca e os especuladores podem estar à beira de um ataque de nervos com o demente no Planalto.

Última parte

Falando em obviedades é hora de enterrar de vez o neoliberalismo e com este toda a dimensão imbecilizadora do olavismo e adjacências. Se o governo federal quisesse – mesmo sabendo que não quer – tomaria passos básicos. Listei alguns, depois de conversar com professoras e pesquisadores de economia política e moderna teoria monetária (MMT), listei algumas medidas que têm certo acúmulo de experiência histórica e poderiam ser tomados imediatamente.

Seriam estes, não exclusivos:

– federalizar ou perdoar a dívida de estados e municípios, condicionando a aplicação desses recursos para conter a pandemia e diminuir o impacto sócio-econômico

– fim ou alteração tanto da Regra de Ouro como do Teto de Gastos

– possibilidade do Banco Central e da Caixa Econômica comprar títulos do Tesouro Nacional (diminuindo assim a pressão de dealers assim do circuito da jogatina financeira)

– decretar a economia planificada para bens essenciais e incluir nesta essencialidade tudo o que garantir o bem-estar coletivo

– suspensão imediata de contas básicas como luz, água, telefone, internet e acesso a cestas básicas para estudantes da rede pública que tinham acesso à merenda escolar

– garantia de emprego e renda com a cobertura do salário pelo governo (até 80% com um teto ampliado, ao exemplo da medida sendo tomada pelo Reino Unido e até mesmo pela Venezuela)

– linhas de crédito e capital de giro para os pequenos negócios, com um teto na movimentação anual e que gerem empregos diretos

– renda básica universal conforme recomendação da ONU

Seriam passos básicos iniciais, para evitar que a pandemia se transforme em uma desgraça societária. É o oposto da necropolítica, do farisaísmo, dos protofascistas e sociopatas da agiotagem encrustados na alta hierarquia econômica do desgoverno Bolsonaro. A situação é tão grave que tem até especulador profissional, gerente de corretora de aplicação de risco exigindo gastos ilimitados assim como um Plano Marshall tropical. É a hora. Derrotar os fascistas e conter a pandemia.

O momento é de pressionar e nos prepararmos para dar o troco quando o isolamento social for suspenso. Amanhã sempre será outro dia.

Bruno Lima Rocha é pós-doutorando em economia política, doutor e mestre em ciência política e professor nos cursos de relações internacionais e jornalismo. Colaborador da Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Bruno Beaklini

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