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Ex-chanceler do Peru "troca" EUA por Cuba e diz que inteligência da ilha opera na América

Segundo Miguel Mackay, protestos na cidade peruana de Puno são resultado da influência cubano no país andino
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Francamente alarmado pela escassa qualidade pessoal dos mandatários da República, um conhecido cipaio do Império, clamou recentemente, nas páginas de um matutino pelo “regresso dos vice-reis”. Sim, demandava claramente o retorno ao colonialismo com todas as suas expressões de adulação, submissão e vassalagem. 

E é que o Peru seja um Estado Independente e Soberano – ainda com todas as suas precariedades e limitações – lhe dói na alma. Por isso mesmo, ele radica na Espanha – “A Mãe Pátria”– onde se sente melhor, muito melhor que “nesta mansa e desabrida terra”, como a considerará José Carlos Mariátegui nos anos do civilista José Pardo.

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Esse modo de ver as coisas não deveria surpreender. É a óptica que maneja uma pequena crosta parasitária que fala em nome da Classe Dominante, e que detesta tudo o que soe a democracia real, independência ou liberdade. Para ela, a sociedade perfeita é outra: a que se vale da exploração humana e institui o servilismo e a dominação como o pão cotidiano.

Porque mira as coisas desse modo, odeia todo processo emancipador e todo alento de progresso. O mundo de vice-reis, que constroem pontes e tribunais como o da Santa Inquisição, para eles é mais pródigo, fresco e doce, que este cenário convulso no qual os trabalhadores exigem direitos e os povos originários levantam a voz. 

Foi nessa linha que outro personagem de opereta – o efêmero Chanceler Miguel Ángel Rodríguez Mackay – afirmou há alguns dias em certa imprensa cloacal que “os protestos radicais em Puno teriam a assessoria da inteligência cubana”. 

Aportou alguma prova o senhor? Encontrou fundamento para sua aventurada asseveração? Sustentou de algum modo a peregrina tese assim exposta? Claro que não. Por isso a pôs em condicional. E se limitou, como um emplumado papagaio, a repetir formulações que constroem “serviços” de outro país. 

Segundo Miguel Mackay, protestos na cidade peruana de Puno são resultado da influência cubano no país andino

Andina
Segundo Miguel Mackay, os "instrumentos” da inteligência de Cuba são os organismos que prestam solidariedade à ilha

O diplomata partiu de uma ideia engenhosa: “Para ninguém é um segredo –disse – que a Inteligência cubana opera em todo o continente americano”. E afirma depois que essa “é a lógica maestra de toda política exterior do país caribenho”. Pareceria que este venerável cidadão teria se equivocado de país, porque o que opera – através de sua inteligência – no continente e no mundo são Estados Unidos da América. Não o sabe, ou andou distraído quando devia abordar o tema? Porque tonto não é, e tão mal informado não deve estar. Ademais, a frase é perfeita: USA.    

É bom, em todo caso, que recorde que nos anos 70 do século passado, foi expulsa do Peru a legação da Agência Central de Inteligência que operava a partir de um escritório situado no edifício Grau ao mando de um tal Shaper, e que anos mais tarde – já nos 80 – foi restabelecida com todos os seus bens restituídos e suas funções aceitas. 

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Desse modo continuou “operando” no Peru e na América sem empacho algum, e desta vez ao mando de um diplomata conhecido, o embaixador Sérgio Siracusa. Como não teve argumento algum, o entrevistado se remontou aos anos 60 do século passado quando – segundo ele – a inteligência cubana apoiava as guerrilhas em diversos países”. A ambiguidade é simplesmente ridícula. 

Naqueles anos, os governos de todos os países da América – exceto o México – estavam contra Cuba. Não é verdade que o Presidente Prado ordenou ao chanceler Porras que fosse à OEA e expulsasse daí a Cuba, o que este desacatou? Claro que se o encargo tivesse sido entregue a Rodríguez Mackay, a ordem teria sido cumprida com beneplácito. Certo? Nesse então (quase) todos os governos agiram igual.  E apoiaram tudo: o terrorismo, o bloqueio, Praia Girón, o atentado de Barbados, tudo. Que podiam esperar da “inteligência cubana”? Sorrisos e aplausos? 

O diplomata não poupou elogios à Inteligência Cubana, à qual odeia, e lhe atribuiu inclusive poderes mágicos. Disse, em efeito, que é capaz de tudo. Desde desestabilizar governos até “acabar com a democracia” em toda parte. E isso, apenas para aplicar as “receitas” do Foro de São Paulo e forjar “o Socialismo do século XXI”.

Claro que não dá ponto sem nó. Disse que “seus instrumentos” são os organismos de solidariedade com Cuba e que seu executor é nada menos que o embaixador Zamora, um diplomata com quase 50 anos de atividade da área. 

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Assim, como quem não quer nada, jogou um partido em dois campos. Abriu a porta para qualificar como “agentes da inteligência cubana” os que organizem, alentem ou promovam a solidariedade a Cuba; e pôs na mira a um funcionário com quem – se supõe – teve vínculos normais no período em que foi titular de Torre Tagle, durante o governo de Pedro Castillo, tempo em que ele, sem dúvida, lhe estendeu a mão. No fundo, busca romper com Cuba outra vez, só que agora nem pretexto tem. 

Hoje, alude a Zamoro e o figura como a expressão do Agente 007, um super espião ao que lhe inventa toda classe de histórias truculentas. Logo dirá que era “a eminência gris” que se movia atrás da sombra do espanhol Hernández. 

Tanto o jornalista como o diplomata sonham despertos com o retorno dos Vice-reis. Se tanto lhe apaixona o tema, fariam bem em recordar um deles, dom José Fernando de Abascal y Sousa, o qual em 1816 fugiu de Lima quando em um ato público lhe lançaram três pequenas bolsas que continham favas (habas), cal e sal. Perspicaz o homem, as pôs em ordem e leu a mensagem: Sal Abas Cal (Saia Abascal). E então, saiu apressado e não parou até a capital Ibérica.  

Se são tão inteligentes e despertos, porque não lançam três bolsinhas a Dina e logram que vá embora? Assim, ninguém necessitará que voltem os vice-reis. Bastará que os súditos decidam radicar em Madri. Aí terão reis.

Gustavo Espinoza M. | Colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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