Multitudinárias marchas e atos em Buenos Aires e em toda a Argentina, no dia da Memória, Verdade e Justiça, a 47 anos do golpe cívico militar de 24 de março de 1976, significaram uma advertência sobre a necessidade de defender a democracia em perigo nestes tempos, especialmente depois da tentativa de magnicídio contra a ex-presidenta e atual vice-presidenta, Cristina Fernández de Kirchner, em 1° de setembro de 2022, e pelo avanço de um “Partido Judicial”, sob controle da oposição de direita, que age como um novo esquema de ditadura substituindo o Partido Militar.
A convocatória dos organismos de direitos humanos, partidos políticos, organizações sociais, foi sob a consigna “A 47 anos do golpe genocida, Memória, Verdade e Justiça para defender a democracia”, com o agregado: “Corporação Judicial, Nunca Mais”. Por outro lado, o apoio a Cristina e o repúdio à perseguição judicial foi parte do documento que os organismos leram na Praça de Maio.
A resposta à chamada surpreendeu neste ano porque a maioria dos que assistiram eram jovens e incluso adolescentes, expressando-se contra as tentativas de negacionismo, recrudescida nos discursos inclusive nos blocos opositores no Congresso, especialmente porque nas últimas horas o ex-presidente Mauricio Macri, falou uma vez mais do que chamou o “curro” (negócios sujos) dos direitos humanos.
Sob a consigna “Memória, Verdade e Justiça” e “Democracia sem máfias”, La Cámpora e outros agrupamentos kirchneristas marcharam desde cedo a partir da antiga Escola de Mecânica da Armada (ESMA) o maior centro clandestino de detenção e extermínio.
A marcha, os cartazes e discursos foram todos mais que emocionantes, e em alguns deles reluziu o nome ou a imagem de Hebe de Bonafini, que era presidenta da Associação de Mães de Praça de Maio, e que morreu em novembro passado.
Foto: Cristina Kirchner/Twitter
Analista Fernando Cibeira: "Comemoração no Dia da Memória está marcada pelos questionamentos ao que se conhece como lawfare"
Também houve muita emoção pelo contexto social na Argentina e na América Latina, e as denúncias sobre o rebrote de uma nova direita com os grupos econômicos, os meios de comunicação e uma maioria de juízes e promotores, incluindo a Corte Suprema, quando está em marcha um julgamento político sobre esta instituição que se desenvolve no Congresso da nação.
“Vamos seguir cuidando desta democracia na Argentina e em toda a Pátria Grande sempre… porque quando o fazemos, reclamamos que terminem as práticas e discursos de ódio e de negacionismo”, disse Estela de Carlotto, a presidenta das Avós da Praça de Maio, na leitura de um documento que fechou a jornada de comemoração na história praça.
Estas manifestações se produziram umas horas depois do encerramento do Terceiro Fórum Mundial de Direitos Humanos, o mais amplo de todos, onde houve importantes referências às situações na Argentina e na América Latina. Também foi importante o Grupo de Puebla, ao qual compareceram nomeados juristas e vice-presidentes, que respaldaram a vice-presidenta Fernández de Kirchner e denunciaram o perigo em que estão as democracias na região.
Os destacados letrados, entre eles Eugenio Zafaronni e Baltazar Garzón, advertiram que a recente tentativa condenação à prisão e a inabilitação a perpetuidade de Fernández de Kirchner é ilegal. Desmascararam ponto por ponto esta sentença; um por um foram estudados todos os pontos de uma sentença onde não havia uma só prova, mas só indícios. Isto será levado a organismos internacionais.
Ademais, destacou-se que celebram este ano os 40 anos de continuidade democrática, “pelo que esta comemoração no Dia da Memória está marcada pelos questionamentos ao que se conhece como lawfare: “o trabalho combinado do Poder Judicial, do poder econômico, midiático e da direita política contra as forças populares”, como declara o analista Fernando Cibeira.
“Referentes dos organismos de direitos humanos, juízes, promotores e investigadores analisam e refletem sobre os logros de um processo que já conta com quase 300 julgamentos por crimes de lesa humanidade e 1.115 condenados. Também propõem a necessidade de conhecer o que sucedeu com cada um dos 30 mil desaparecidos, com todos as crianças apropriadas, assim como avançar sobre os cúmplices civis da ditadura e, em um contexto de reaparecimento de discursos negacionistas, melhorar a transmissão da memória para sustentar o reclamo de Nunca Más”. A vice-presidenta escreveu no twitter: “a democracia está em perigo”.
Stella Calloni | Correspondente do La Jornada em Buenos Aires.
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