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Opositores de Ortega enviados aos EUA relatam experiências após libertação

“O que sabemos até agora é que o governo dos Estados Unidos lhes aplicará um visto humanitário, que é a licença de estadia por dois anos”, afirma exilada
Redação La Jornada
La Jornada
Manágua

Tradução:

A libertação e “desterro” aos Estados Unidos de 222 presos políticos nicaraguenses é “uma nova oportunidade de vida” e uma “emoção desbordante” perante a onda de repressão imposta pelo presidente Daniel Ortega, disseram as até ontem presas políticas Karla Patricia Vega Canales e Suyen Barahona Cuán.

Karla Patricia Vega Canales em entrevista telefônica com o La Jornada afirma: “Me sinto muito feliz com esta decisão. Estávamos sendo torturadas: nos metiam em celas de castigo, não nos faziam passar a comida; e mim não me faziam ver o sol, não me davam roupa. Estou feliz por uma parte, mas triste por outra; é que deixei na Nicarágua minha família, e vou lutar para ver como posso trazê-la para os Estados Unidos. Isto vai em represália; a tomam comigo, vão a tomar com minha família. 

Depois de umas horas de ter chegado a Washington, detida em novembro passado e condenada na terça-feira passada a 15 anos de prisão por conspiração contra o Estado e delitos cibernéticos, expõe: “As pessoas na Nicarágua estão desesperadas, mas não podem falar. Não têm a facilidade que agora temos nós”. 

“O governo de Ortega está fazendo demasiadas coisas; está assassinando caladamente, está reprimindo caladamente; ninguém diz nada. Há que dar voz para que todo mundo perceba o que está se passando na Nicarágua. Que viva a Nicarágua “, expressa Vega Canales, uma dona de casa, que não pertence a nenhum grupo político, mas participou em protestos. 

“O que sabemos até agora é que o governo dos Estados Unidos lhes aplicará um visto humanitário, que é a licença de estadia por dois anos”, afirma exilada

Artigo 66
Governo dos EUA lhes estará assistindo por três noites em um hotel enquanto se logra conectar todas essas pessoas em diferentes opções

Após chegar aos Estados Unidos, Suyen Barahona Cuán, outra das liberadas e dirigente do partido União Democrática Renovadora (Unamos), diz em um vídeo difundido em redes sociais: “é uma emoção desbordante por ver tanta gente amiga, tanta gente comprometida” 

“Viajamos juntos, pessoas que haviam sido injustamente encarceradas há quatro ou cinco anos atrás, muito antes de que eu fosse detida. Assim é que foi uma alegria imensa, um triunfo para os nicaraguenses”, agrega Barahona detida em junho de 2021 e sentenciada em fevereiro passado a 8 anos de prisão. 

Mídia, ultradireita e hierarquia eclesiástica: a suposta “perseguição religiosa” na Nicarágua

Ligia Gómez, nicaraguense exilada nos Estados Unidos e que recebeu seus compatriotas, comenta em entrevista à La Jornada que “o que aconteceu hoje é um assunto de esperança. Todos temos esperança com o que aconteceu. Tanto eles como nós estamos contentes de que o povo nicaraguense tenha uma segunda oportunidade de vida”. 

“O que eles nos disseram é que os foram tirando das prisões às 2 da madrugada para levá-los à força aérea de Nicarágua, para que subissem a um avião. Disseram que os levavam a outro país sem precisar qual, nem tampouco lhe notificaram que perdiam a nacionalidade nicaraguense. Eles se deram conta só quando chegaram aqui, mas eles dizem que continuam sendo nicaraguenses e ninguém lhes pode tirar isso”, agregou quem foi secretária da Frente Sandinista de Liberación Nacional no Banco Central da Nicarágua. 

Detalhou que “nos contaram que lhes deram um passaporte na prisão porque não tinham nenhum documento para viajar, nada. Estando aqui se deram conta de onde estavam. Os mantiveram desinformados praticamente em todo o processo. 

“O que sabemos até agora é que o governo dos Estados Unidos lhes aplicará um visto humanitário, que é a licença de estadia por dois anos, tempo no qual poderiam pedir asilo político. É só o que sabemos até o momento”, reforça.


Três noites

Assegura que o governo estadunidense somente lhes estará assistindo por três noites em um hotel enquanto se logra conectar todas essas pessoas em diferentes opções. 

“Em seu semblante, eles manifestam cansaço pelo longo que foi todo esse processo, se sente muita expressão de sua parte. Também há muita incerteza ainda. Nos disseram que não têm ninguém, nem amigos nem conhecidos aqui. No entanto, as pessoas que vivem aqui se dispuseram a apoiá-los. Não sou a única que está aqui. Lhes ofereceram seu apoio, traduzindo coisas ou oferecendo seus contatos por qualquer circunstância”, relata. 

Detalha que escutou “que lhes estão dizendo ‘vocês não estão sozinhos, aqui estamos os nicaraguenses para apoiá-los’, vocês têm aqui seus compatriotas. Simplesmente os abraçam e os acolhem. Então, eles têm o apoio dessas pessoas que viveram no país por muitos anos e que se uniram em solidariedade para recebê-los”. 

Ligia Gómez chegou aos Estados Unidos em setembro de 2018 após renunciar ao seu cargo de secretária política da Frente Sandinista e denunciar ações do governo de Ortega ante o Congresso estadunidense.

“Não podia regressar ao meu país. Desde antes de sair do país, já vivia perseguição política e ameaças. Praticamente não posso regressar ao meu país. Agora me cabe apoiar as pessoas que estão chegando; muitos deles, a maioria deles não tem familiares nos Estados Unidos que os recebam”, destaca.

Redação La Jornada
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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