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ToggleConfessando uma vida de enganos, corrupção, tortura, sequestros e assassinatos sob suas ordens, o promotor de Nayarit, ex-encarregado de segurança pública em Tepic Édgar Veytia declarou que seu então governador regressou de uma reunião onde presumidamente o presidente Felipe Calderón e seu secretário de Segurança Pública Genaro García Luna haviam dito que “a linha era El Chapo” – ou seja, as instruções eram apoiar essa fração do cartel de Sinaloa – mas os promotores não ofereceram corroboração do que disse sua testemunha cooperante.
Os advogados defensores de García Luna, em sua contra interrogatória, não só ressaltaram a vida profissional de engano, violência e atos corruptos de Veytia, mas também o fato de que não estava presente quando supostamente o presidente e o então secretário de Segurança Pública deram essas instruções.
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Ainda mais, assinalaram que Veytia jamais mencionou o nome de García Luna em múltiplos interrogatórios de promotores estadunidenses até agora e que participar neste julgamento representa uma oportunidade para reduzir sua própria sentença.
No nono dia de audiências com testemunhas e apresentação de evidências no julgamento federal de García Luna, a vigésima testemunha, Veytia, chegou escoltado por policiais em um uniforme bege de réus para se declarar contra García Luna.
De maneira ensaiada, e em inglês, se identificou como ex-promotor de Nayarit e ex-chefe de segurança de Tepic quem ajudou os Beltrán Leyva, e como aceitou pagamentos de 2 milhões de pesos mensais deles acumulando mais de um milhão de dólares durante seu tempo como funcionário público trabalhando com Roberto Sandoval Castañeda, primeiro prefeito de Tepic e depois governador de Nayarit.
Foi em 2011 quando Veytia era secretário de segurança pública de Tepic (e Sandoval era o prefeito que o então governador Ney González lhe contou que havia regressado de uma reunião sobre segurança na cidade do México com o presidente Felipe Calderón e García Luna e que aí lhe disseram que “a linha era Chapo”.
Perguntado o que significava isso, respondeu que era “proteger aos de El Chapo e já não aos Beltrán Leyva” e que não inquiriu mais parque “a um governador não se pede explicações”.
El Siglo de Torreón
Édgar Veytia “nunca, nem um só vez mencionou a nome de Genaro García Luna” em outros depoimentos, afirma a defesa
Longo interrogatório
Durante seu extenso e enredado interrogatório guiado pela promotora Saritha Komatireddy, Veytia contou de uma de várias reuniões com representantes onde “lhe deixaram saber” que Arturo Beltrán Leyva “pagará todos os gastos” para a campanha a governador de Sandoval, “o qual nos pôs do lado dos Beltrán Leyva”. Perguntado se há evidência desse acordo: “os acordos com os narcotraficantes não se fazem por escrito”. E assim foi, até que morreu Arturo Beltrán Leyva.
No entanto, o acordo de “não deter… não molestar” permaneceu vigente em 2010 quando o irmão de Arturo, Héctor Beltrán Leyva, se encarregou do cartel agora conhecido como o H2. Pouco depois, em 2011, Sandoval ganhou o governo com dinheiro dos Beltrán Leyva, segundo Veytia que foi nomeado subprocurador do Estado.
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Contou que, em duas ocasiões , representantes de El Chapo e El Mayo Zambada do cartel de Sinaloa, se aproximaram para expressar seus desejos de “comprar o estado ou a praça” e que na primeira lhe ofereceram 10 milhões de dólares.
Na segunda ocasião, lhe ofereceram 5 milhões e tinham com eles um milhão em efetivo para “fechar o trato”, mas que não aceitou. Aí, “de maneiro muito enérgica” ameaçaram que eles podiam remover de seus postos aqueles que se opunham e que já tinha controle no nível federal, explicando que tinham pago 5 milhões a García Luna, e mencionaram outro pagamento de 3 milhões.
Em outra ocasião, se referiu que viajou com o governador Sandoval e outros ao México aos escritórios gerais da Secretaria de Segurança Pública, onde seu chefe teve uma reunião com García Luna enquanto Veytia foi percorrer o complexo de inteligência da Polícia conhecido como “o bunker” com o subalterno de García Luna, Luis Cárdenas Palomino. Aí Cárdenas Palomino se aproximou e “me disse que estávamos fazendo mal as coisas… e que deveríamos estar do lado de El Chapo”.
O advogado defensor, Florian Miedel, enfocou a trajetória delitiva e enganosa da testemunha, sua espantosa recitação de “se” a perguntas sobre se havia assassinado, torturado, sequestrado, aceitado subornos, e mais.
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Mas em seu contra interrogatório ressaltou sobretudo que depois de colaborar com o governo estadunidense, desde sua prisão em março de 2017, em reuniões com promotores em pelo menos 11 ocasiões de um total de mais de 150 horas entre 2017-2018, onde falou de corrupção de funcionários, incluindo em ex-secretário de Defesa, “nunca, nem um só vez mencionou a nome de Genaro García Luna”.
Mais ainda, foi só depois que Veytia ficou sabendo da prisão de García Luna, em 2019, que forneceu informações a promotores sobre o que supostamente sabia do acusado, isso em troca de uma possível reavaliação de sua condenação de 20 anos de prisão se colaborasse neste julgamento.
Ex-embaixador
No início desta sessão, concluiu o interrogatório do ex-embaixador estadunidense no México, Earl Anthony Wayne, que perguntado pela defesa se alguém lhe havia reportado sobre corrupção e subornos por cartéis de droga ao acusado, respondeu que não. Mas em resposta a uma última pergunta da promotoria, Wayne declarou que sua equipe havia concluído que algumas instituições do governo mexicano “não eram efetivas contra o narcotráfico e que a Polícia Federal não era a “favorita” para perseguir Leyva e o cartel de Sinalou.
Outra testemunha foi o agente do FBI, José Moreno, que ofereceu um relatório da fracassada operação para capturar El Chapo em Los Cabos em 2012, igual que fez esta mesma testemunha e sala no julgamento de Joaquín Guzmán Loera. Agora como então, sublinhou que a operação fracassou em parte porque os 64 agentes da polícia federal não se apresentaram no encontro que se havia acordado para lançar a missão nesse dia e, portanto, El Chapo conseguiu escapar.
Ao final, a promotoria convocou uma oficial de migração especializada em fraude para repassar a solicitação de naturalização submetida por García Luna em 2018, pela qual enfrenta uma das cinco acusações neste julgamento; declaração falsa a autoridades federais. No documento, García Luna afirmou que não havia cometido nenhum delito maior durante sua vida.
A oficial disse que o filtro para o processo de naturalização incluiu certos requisitos para conseguir “o privilégio” da cidadania estadunidense, inclusive demonstrar “um bom caráter moral”.
David Brooks | Correspondente de La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
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