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A concentração de meios de comunicação no Perú

Gustavo Espinoza M.

Tradução:

Gustavo Espinoza M.*

gustavo espinoza perfil dialogos do sulO tema da concentração de meios esteve e continua estando no centro do debate político nacional. Gerado por um fato pontual: a aquisição de ações dos diários “Correo” e “Ojo”, posto a venda pela família Agois, para a empresa editora do “El Comercio”; deu lugar a uma áspera disputa em que originalmente apareceram como interessados os proprietários de “El Comercio” e seus sócios e também rivais, os donos do diário “La República” de honrosa tradição no passado.

el_comercio-concentracion-de-mediosAté aí o tema da concentração de meios podia ser visto reduzido a um extremo formal: uma só pessoa, ou um grupo de pessoas, tomava em suas mãos o controle da maioria dos meios de comunicação – no caso, 78% – e exercia o monopólio da informação.
Era legal, lícito e ético, ou seja, admissível que isso ocorresse em uma sociedade formalmente livre e proclamadamente democrática, ou melhor, isso descambava para o totalitarismo que os “democratas” de nosso tempo dizem recusar? Eis a questão.
Na abordagem do tema, os editorialistas do decano da imprensa peruana se limitaram a assegurar que não existia incompatibilidade entre propriedade e orientação da parte dos meios.
No caso específico, empenharam-se em assegurar que eles tinham adquirido a parte “administrativa” da cadeia de jornais em venda, mas não sua orientação política que ficava em mãos dos antigos donos que conservavam esse direito.
Essa suposta explicação caiu por si mesma não só na análise do tema, mas na vida prática.
Objetivamente, os novos e os velhos proprietários dos meios adquiridos prestavam culto à mesma vela, ou seja, respondiam à mesma opção política: por conta dessa aliança apro-fujimorista (da Apra e Fujimori) que luta no Peru por recapturar o controle da vida nacional anulando com o pouco conquistado pela cidadania em matéria de vida democrática e outros.
Em outras palavras, os Agois, tal como os Miro Quesada (donos de “El Comercio”) adoram a abjeta máfia que teve em mãos as rédeas do poder durante muitos anos e que usou para enriquecer, saqueando descaradamente os bens nacionais e a fazenda pública.
Concretamente, ambos os grupos econômicos apoiam hoje com franqueza a Keiko Fujimori e aspiram vê-la convertida na futura presidenta da República. E ambos poderiam também, desavergonhadamente, optar por Alan García, caso a situação levasse a isso.
Em outras palavras, estariam dispostos a fazer confluir em uma só voz a orientação de quase 80% dos meios de comunicação peruanos – televisionada, radial e escrita – perfilando-se contra o povo.
No entendimento dos porta-vozes do “La República” isso equivaleria a uma detestável “concentração de meios”, que trata de impor uma espécie de “pensamento único” ao desprevenido cidadão no marco dos processos eleitorais que se aproximam.
El-Guso-1Não obstante, a situação hoje sofreu notáveis mutações. Os 78% que já está nas mãos dos super poderosos donos da “grande imprensa”, soma-se a porcentagem que corresponde ao “La República” na abordagem do tema da Venezuela. Essas duas vertentes – supostamente “democráticas” – cerraram fila em favor dos golpistas venezuelanos empenhados em derrubar um governo constitucionalmente eleito pelo povo, e que odeiam em uníssono. E por isso atribuem ao governo as mortes produzidas pelo terror fascista nas ruas da Venezuela.
De fato, ambas competem entre si para ver quem qualifica mais depreciativamente  o governo do presidente Nicolás Maduro, a quem chamam por impropérios, rompendo todas as normas elementares de cortesia.
Ambos também, no cumprimento dessa tarefa, distorcem descaradamente a realidade, deformam os fatos, inventam outros e projetam no cenário informativo imagens que nada têm a ver com o que ocorre na Pátria de Bolívar.
Para eles, os comandos fascistas em ação, esses que semeiam terror, violência e morte nas ruas da capital, são “democratas”. E as mulheres, os jovens e os trabalhadores que marcham em honra à pátria e a sua história, são apenas “assalariados do regime”. E repetem isso todos os dias para desorientar os leitores.
Dessa maneira, contra Venezuela, o comandante Hugo Chávez, o presidente Maduro e o legado bolivariano, armou-se uma “concentração de meios’ que só se tinha visto antes no início dos anos sessenta contra a Revolução Cubana.
Vale recordar que nessa época, todos os meios de comunicação existentes – sob a batuta da SIP e seu presidente Jules Dubois, veterano agente da CIA – apontavam seus fogos contra La Habana, provavelmente com o mesmo ódio com que fazem hoje, não só contra La Habana, mas também contra Caracas, sinal inequívoco que “o mal” não só não despareceu como se expande.
Hoje golpeiam Caracas, porém, aspiram a um jogo mágico – uma espécie de “efeito dominó”- que permita a queda de Caracas para tomar Manágua, Quito, La Paz, Brasília, Buenos Aires, Montevidéu e mais recentemente San Salvador e Santiago. E até Lima, de passagem, para que não fique sombra de nada. A voracidade não tem limites!
Em lembrança ao primeiro aniversário da morte do comandante Chávez, foram realizados em Caracas grandes e solenes atos civis e militares que, na conjuntura, expressaram o apoio claro ao processo que se desenvolve no país.
Contudo, a “concentração de meios” silenciou isso em todos os idiomas. Do mesmo modo que silenciou as manifestações dos peruanos em homenagem a Venezuela, mas, destacou as grosseiras provocações de alguns desclassados que buscavam violência diante das sedes diplomáticas de Venezuela e Cuba em Lima.
Essa “concentração de meios” que procura impor a qualquer preço uma mensagem única sobre o que ocorre na Venezuela, estende-se também à questão peruana. Especificamente se expressa na campanha contra o presidente da República.
Consideram-no “débil” ou “indeciso” quando não “cúmplice do chavismo” quando se referem a questão da Venezuela. E no que se refere a sua gestão, imputam-lhe ser dirigido por sua esposa, em termos nada elegantes.
Contra (a candidata) Nadine Heredia, a “concentração de meios” é total:100% dos meios – televisivos, radial e escrito- estão contra ela talvez porque sabem que é a pedra que poderia impedir o que eles cozinham com tanto esmero: conseguir um segundo turno em 2016 com os candidatos Keiko e Garcia, de modo que, como dizem em bom vernáculo, os peruanos terão de eleger entre o cocô e a merda. É a isso que a “concentração de meios”, à margem dos acionistas ou proprietários, está praticando em nosso país.
Temos o dever de enfrentar e derrotar essa santa aliança.
*Colaborador de Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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