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A hecatombe neoliberal – Parte 2

Jorge Maria Rabëlo

Tradução:

José Maria Rabêlo*

A situação é esta, como havia tratado no artigo anterior: o neoliberalismo está levando a Europa a uma nova crise, que, segundo os especialistas, poderá ser pior que a Grande Depressão dos anos 30.
Os números são catastróficos: a Espanha tem 25% de sua população economicamente ativa desempregada, índice que chega a 50% entre os mais jovens; a Grécia não faz por menos, são quase 20% sem trabalho e um caos político que ameaça a própria institucionalidade do país; a orgulhosa Inglaterra, que se imaginava à margem do desastre, vive o pior ciclo econômico dos últimos 100 anos; a Irlanda, apresentada durante longo tempo como exemplo bem sucedido das políticas neoliberais, amarga um período de retrocesso da economia, marcado por um desemprego de também 20% da população. Da Espanha à Letônia, como diz o Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, a Europa sente-se invadida pelo fantasma da crise e da desesperança.
Em nível mundial, a estagnação já produziu uma perda de mais de 50 milhões de postos de trabalho, com relação aos que existiam antes de 2008. Até o fim do ano, segundo dados da OIT, Organização Internacional do Trabalho, serão 200 milhões de pessoas desempregadas.
A reação às políticas que levaram a esse quadro de ruina econômica manifesta-se por todo o continente.
Num reflexo da agitação que pulsa nas ruas de quase todas as capitais europeias, onze países viram cair seus governos comprometidos com o neoliberalismo (Espanha, Portugal, Bulgária, Finlândia, Hungria, Irlanda, Letônia, Lituânia, Eslovênia, Holanda e França) e outros, como a Inglaterra e a Alemanha, que sofreram pesadas derrotas eleitorais.
Diante da revolta popular, os governantes, pelo menos em palavras, começam a reconhecer que é preciso buscar outros caminhos, na contramão das medidas de austeridade, seguidas até aqui.
Não bastam essas palavras nem o choro pelo fracasso. Impõe-se uma mudança real e radical do modelo adotado nos últimos anos, baseado na valorização irracional do mercado e nos desprezo às questões sociais, que resultou na hecatombe que se desenha no horizonte.
Graças as suas últimas administrações, o Brasil está mostrando ao mundo que há alternativas às doutrinas neoliberais, que nos quiseram impingir como verdadeiras e definitivas. É hora de avançar, para que essas conquistas se consolidem.
Janela
O neoliberalismo levou o mundo ao pior desastre dos tempos modernos, uma hecatombe que ameaça levar à ruina vários países.
Neiva
O Brasil perdeu, na madrugada de 10 de maio, um grande combatente social. Neiva Moreira, jornalista, deputado e dirigente partidário, deixou-nos aos 94 anos, ao fim de uma extraordinária trajetória de luta e coerência política.
Nos anos anteriores ao golpe de 1964, participou de inúmeros movimentos populares, nacionalmente e em seu estado natal, o Maranhão, como o da defesa do petróleo (“O petróleo é nosso”) e pela criação da Petrobrás; a campanha das reformas de base do governo Goulart e a resistência à conspiração que levou à intervenção militar. No exílio, atuou decisivamente no esquema de divulgação e denúncia dos crimes da ditadura. Em 1979, juntamente com Brizola e outros companheiros, teve atuação destacada na organização do histórico Encontro de Lisboa, pela reconstituição do Trabalhismo. De volta do exílio, além de eleger-se deputado federal, com relevante desempenho, fundou Cadernos do 3º Mundo, fazendo da revista uma trincheira no combate ao neoliberalismo e à política de privatizações do governo de FHC. E assim foi em toda a sua vida.
A seu lado, tomei parte em vários daqueles momentos, inclusive quando fomos encarregados por Brizola de dar a forma final à chamada Carta de Lisboa, documento matricial do PDT.
Não é fácil escrever sobre Neiva em tão poucas linhas. Há uma expressão, entretanto, que resume toda sua irretocável biografia: foi um patriota que amou o Brasil e seu povo acima de tudo.
Será impossível esquecê-lo, especialmente pelos que o conheceram de perto. Em meu caso, num convívio de mais de 50 anos, que se interrompe agora pela inelutabilidade da morte.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Maria Rabëlo

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