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A luta do povo saaraui por libertação nacional nas páginas da Cadernos de Terceiro Mundo

Luta do povo saaraui é uma das últimas lutas por libertação nacional ainda remanescentes na atualidade
Gabriel Rodrigues Farias
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

No último sábado (14/11/2020), a Frente Polisário decidiu anunciar o fim do cessar-fogo de quase três décadas e retomou a luta armada contra o Marrocos. O motivo disso seriam as tensões entre o grupo e o governo marroquino na fronteira com a Mauritânia, dando um reinicio as hostilidades entre o Reino de Marrocos e o movimento de libertação.

Bom, é provável que muita gente desconheça a existência da Frente Polisário e os motivos do conflito com as autoridades marroquinas. 

Para quem não sabe, a região denominada de Saara Ocidental, onde fica o povo saaraui, foi colônia espanhola até 1975. Ao sair da região, o governo espanhol acabou dividindo o território saaraui entre os governos de Marrocos e da Mauritânia sem a consulta da população local. 

A Frente Polisário (acrônimo de Frente Popular de Liberación de Saguía el Hamra y Río de Oro), que fora criada em 1973 para combater o domínio espanhol, passou então a resistir militarmente contra a ocupação dos dois países vizinhos.

O governo da Mauritânia chegou a se retirar da região em 1979, enquanto os combates entre as forças revolucionárias e as tropas marroquinas continuaram até o fim da década de 1980. 

Em 1991, a ONU negociou um cessar-fogo entre ambas as partes, anunciando a realização de um referendo na qual a população do Saara Ocidental votaria por sua independência. 

No entanto, esse referendo nunca foi realizado porque o governo de Marrocos exigia que toda a população residente no Saara Ocidental pudesse votar, enquanto a Frente Polisária só admitia o voto dos habitantes que já estavam no território saaraui antes da ocupação do país vizinho, excluindo os marroquinos que ingressam na região como colonos depois de 1975. Desde então, a Frente Polisário acusa as autoridades marroquinas de sabotarem a autodeterminação da região.

Devido a essas circunstâncias, pode-se dizer que a luta do povo saaraui é uma das últimas lutas por libertação nacional ainda remanescentes na atualidade.

Luta do povo saaraui é uma das últimas lutas por libertação nacional ainda remanescentes na atualidade

IELA
Muita gente desconhece a existência da Frente Polisário e os motivos do conflito com as autoridades marroquinas.

Nesse sentido, decidimos ressaltar que a luta povo saaraui esteve presente nas páginas da Cadernos do Terceiro Mundo. Em 1978, dois representantes da Frente Polisária, Ahmed e Bilal, passaram por vários países da América Latina com o objetivo de propagar a luta de seu povo. 
Em uma entrevista concedida a revista, ambos falaram sobre a luta por independência na região e do papel das nações estrangeiras no conflito. Países como França, Arábia Saudita e até mesmo a Argentina de Videla forneciam armamentos para os governos da Mauritânia e Marrocos. A vizinha Argélia, por outro lado, se solidarizou pela luta do povo saaraui, criando, em 1976, campos de refugiados para as vítimas da guerra.
Os entrevistados também denunciavam as próprias condições sociais dos países ocupantes. Marrocos era governado por um rei déspota onde 85% da população era analfabeta e 89% vivia na pobreza. 
Mauritânia também seria um país miserável dependente de quadros militares do exército marroquino. Eles também falaram que as mulheres também tinham um papel fundamental na luta por libertação e grandes responsabilidades em aspectos políticos, de saúde pública e de assistência social.

Memória

Tema complexo, que requer uma análise de longo prazo e a compreensão da geopolítica atual. Para uma visão histórica do tema, compartilhamos reportagem publicada na revista Cadernos do Terceiro Mundo de 1997.

A Diálogos do Sul é a continuidade digital da revista fundada em setembro de 1974 por Beatriz Bissio, Neiva Moreira e Pablo Piacentini em Buenos Aires:

A recuperação e tratamento do acervo da Cadernos do Terceiro Mundo foi realizada pelo Centro de Documentação e Imagem do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, fruto de uma parceria entre o LPPE-IFCH/UERJ (Laboratório de Pesquisa de Práticas de Ensino em História do IFCH), o NIEAAS/UFRJ (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul) e o NEHPAL/UFRRJ (Núcleo de Estudos da História Política da América Latina), com financiamento do Governo do Estado do Maranhão.


Texto publicado originalmente na página Revista Cadernos do Terceiro Mundo – Acervo Digitalizado

‘’Frente Polisário visita a América Latina’’ por Cristina Canoura
CADERNOS TERCEIRO MUNDO. Lisboa: Tricontinental Editora, Lda., ano 1, n. 2, fev-mar. 1978, p. 41-46.

Confira a edição completa da revista nº 166 :

   

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gabriel Rodrigues Farias

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