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A luz acendeu, a cortina levantou e a arte saiu de casa, mas algumas estrelas não voltarão mais

A pandemia ainda não acabou e o nosso inimigo invisível ainda continua fazendo suas vítimas
Danilo Nunes
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Aos poucos, vamos retomando os encontros presenciais, o olho no olho, os espetáculos, os shows, mas entendendo que a pandemia ainda não acabou e o nosso inimigo invisível ainda continua fazendo suas vítimas (embora o número de contaminação tenha reduzido) ou aguardando paciente, o próximo descuido para atacar. Sim, voltamos, mas com todos os cuidados e medidas necessárias para manter a população o mais segura possível, fazendo aos poucos, a economia girar novamente e os palcos se iluminarem. A luz se acendeu, a cortina se levantou e a arte saiu de casa.

A impressão que tenho é de ter dormido e sonhado que o mundo havia acabado e que só nos restava um computador para matarmos a saudade das paisagens através das fotos, lembranças e das pessoas que, através de streamings e aplicativos acionamos para não nos sentirmos sós. Será que sonhei?A poucos dias, ao me levantar e colocar o pé pra fora de casa, seguindo para tomar um café com amigos na padaria do Maneco, descobri que o filme Marighella de Wagner Moura está nos cinemas e que Fernanda Montenegro e Gilberto Gil foram eleitos e imortalizados, respectivamente para as cadeiras 17 e 20 da Academia Brasileira de Letras.

A  pandemia ainda não acabou e o nosso inimigo invisível ainda continua fazendo suas vítimas

Montágem Diálogos do Sul
Fernanda Montenegro, Seu Jorge e Gilberto Gil são icones da cultura brasileira e mundial.

Hoje quando acordei, fiquei sabendo que na mesa do bar, muitos e muitas não estariam mais. Descobri que o genial Aldir Blanc virou nome de lei, que o único jeito de ver o sorriso reluzente do Tarcisão seria em algum canal onde eu pudesse assistir as reprises de seus personagens. Hoje percebi que a comédia de Paulo Gustavo estaria nas lembranças e saudade e que não teria mais a oportunidade de assistir, presencialmente o show de Marília Mendonça

Uma carta de até breve a Marília Mendonça: que sua voz siga ecoando em cada canto do mundo

Hoje, ao despertar, me olhei no espelho e percebi que envelheci um pouco e comecei a lembrar do meu sonho. Com papel e caneta, comecei a escrever (rapidamente) para não deixar a lembrança se esvair e só não consegui distinguir o sonho da realidade. Sonhei com um mundo diferente do que vejo.

Hoje quando estava escrevendo o que penso ser apenas sonho, lembrei que os povos indígenas do Brasil tinham suas terras e direitos assegurados e que negors, negras, mulheres, população LBTQI+ viviam com oportunidade e igualdade social. Sonhei que as favelas eram comunidades onde a educação, saúde e bem-estar se faziam presentes. Sonhei que não existia fome, não existia desigualdade e que a Cultura era um bem precioso que estava sendo fomentada e preservada. 

Entrevista com Teresa Cristina: “Eu sou o samba, a voz do morro sou eu mesmo, sim senhor”

O mais intrigante é que fui até a banca e comprei o jornal (o que poderia ter feito na web) e procurei a informação sobre a presidência do Brasil, pois sonhei que o Bolsonaro caiu, sua quadrilha de filhos e genocidas corruptos estavam presos e o povo brasileiro caiu na real. Não encontrei a informação. Será que alguém pode me responder: será que sonhei?

* Danilo Nunes é músico, ator, poeta, historiador e pesquisador de Cultura Popular Brasileira e Latinoamericana 

Instagram: @danilonunes013

Facebook: @danilonunesbr


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