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A morte de Víctor Jara

João Baptista Pimentel Neto

Tradução:

chile-73“Víctor foi levado prisioneiro ao Estádio Chile. Ali cantava canções de luta para levantar o ânimo dos milhares de companheiros presos.

Em um momento determinado, Víctor desceu à platéia e se aproximou de uma das portas por onde entravam os detidos. Ali topou -a queima ropa- com o comandante do campo de prisioneiros. Este olhou pra ele, fez o gesto mímico do guitarrista. Víctor concordou com movendo a cabeça, sorrindo com tristeza e ingenuidade. O militar sorriu, contente com sua descoberta.
Levaram Víctor até uma mesa e ordenaram que colocasse as mãos sobre ela. Rapidamente surgiu um machado. De um só golpe cortaram os dedos da mão direita. Os dedos caíram ao piso de madeira, vibrando e se mexendo ainda, enquanto o corpo de Víctor se movimentava pesadamente.
Em seguida choveram sobre ele golpes, pontapés e os gritos de “canta agora… canta…”, a fúria desencadeada e os insultos solenes do verdugo diante de “um alarido coletivo” dos detidos.
De improviso, Víctor se incorporou, trabalhosamente, e com olhar perdido se dirigiu às galerias do estádio… fez-se um silêncio profundo. E então gritou:
“Vamos lá companheiros, vamos fazer a vontade do senhor comandante”.
Afirmou-se por uns instantes e levantando suas mãos ensanguentadas, começou a cantar com voz ansiosa o hino da Unidade Popular, acompanhado em coro por todos.
Aquele espetáculo era demais para os militares. Soou uma ráfia e o corpo de Víctor começou a se dobrar para frente, como se fizesse uma longa referência a seus companheiros. Em seguida caiu de costa e ficou ali estendido…”
*Do livro Chile Anatomia de um Golpe, de Paulo Cannabrava Filho, Manuel Gonzalez Lana e Carlos Parra del Campo – Editorial Horizonte, Lima, Perú, 1974.
Este livro foi publicado logo que se instaurou a ditadura militar comandada pelo general Augusto Pinochet Ugarte que desencadeou  intensa repressão contra os chilenos que apoiavam o governo do socialista Salvador Allende deposto, e a estrangeiros, principalmente latino-americanos que tinham buscado refúgio no Chile fugindo das ditaduras que já dominavam no Brasil, Argentina e Bolívia.
O livro recolhe testemunhos de pessoas que conseguiram escapar com vida entre os centenas que passaram por Lima e foram recebidos solidariamente enquanto esperavam o destino que lhes sería dado de acordo com os planos da Acnur, a Agência de Refugiados das Nações Unidas. Foi intensa a solidariedade dos peruanos. Recebiam os refugiados e ofereciam assistência médica, psicológica, procuravam onde melhor alojá-los com dignidade.
Esse livro denuncia com riqueza de pormenores comprobatórios a participação de Estados Unidos e do Brasil além de empresas transnacionais na articulação e execução do golpe e posterior apoio à ditadura repressiva de Pinochet. Na tragédia de 11 de setembro de 1973, os aviões que bombardearam o Palácio de la Moneda e os navios cubanos que estavam ancorados no porto de Valparaiso eram pilotados por militares estadunidenses.

O outro 11

O 11 de setembro das Torres gémeas em Nova York. O maior desastre não foi em Nova York com algumas centenas de mortos. A maior desgraça veio logo em seguida com milhões de mortos no Iraque e no Afeganistão. Esse outro 11 de setembro foi o pretexto armado pelo “son of Bush” para a guerra, depois que o congresso lhe negou recursos para a fantástica Guerra nas Estrelas, a cortina de mísseis nucleares. Bush queria a guerra porque o complexo militar-industrial necessitava dela para manter em movimento a economia  do país. O 11 de setembro é realmente um dia de luto para a humanidade. Não se pode deixar de lembrar.
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

João Baptista Pimentel Neto Jornalista e editor da Diálogos Do Sul.

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