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A política não é suja por si só, o problema está em (alguns dos) seus representantes

Exercício de poder foi se consolidando como uma arma de ataque contra as sociedades às quais deveria prestar contas
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul
Cidade da Guatemala

Tradução:

O exercício da política não é sujo por si só; sua aura contaminada e opaca tem sido produto de mal desempenho daqueles que possuem a autoridade para tomar decisões que afetam a comunidade que representam. É evidente que a política, como atividade e como sistema de governança, é um recurso indispensável na vida de qualquer sociedade organizada cujo bem-estar dependa de uma visão inteligente sobre a distribuição de suas riquezas, o equilíbrio de poderes entre suas instituições e a transparência na gestão de suas autoridades. 

Em nosso continente, com sua cauda de conflitos armados, violações de direitos humanos, submissão ante o poder de impérios econômico-corporativos e o generoso patrocínio da droga a candidatos e governantes, a palavra “política” foi se transformando em sinônimo de corrupção. O abuso de autoridade e a violação impune de leis e tratados, com a consequente geração de uma espécie de ideologia da desconfiança cuja força afeta o presente e o futuro das nações, provocou um ambiente de ceticismo entre a juventude atual, a qual já não crê – com muita razão – no sistema. 

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Os jovens não só foram enganados uma e outra vez, tirando-lhes oportunidades de acesso a uma vida melhor; também lhes negam as ferramentas capazes de proporcionar informação necessária e confiável sobre as distintas opções e sobre o cenário eleitoral. Os sistemas educativos – os quais, de passagem, dependem de políticas públicas – foram empobrecidos para satisfazer os interesses das elites econômicas, que dependem de empregos mal remunerados e da imposição de sua própria agenda. 

A isso é imprescindível somar as leis criadas pelas assembleias legislativas à sua própria medida com o fim de manter o controle sobre o poder político partidário, às costas da cidadania. Estes sistemas têm obstaculizado o acesso de líderes populares às altas magistraturas, têm impedido a reformulação das leis eleitorais e têm criminalizado toda oposição utilizando um discurso populista com vislumbres das táticas da Guerra Fria. Ou seja, o exercício da política foi se consolidando como uma arma de ataque contra as sociedades às quais deveria prestar contas. 

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São poucos os países de nosso continente onde ainda existem instituições capazes de gerar um nível aceitável de confiança no exercício do poder. Mas, em sua maioria, as nações foram invadidas por indivíduos incapazes, corruptos, aliados com as elites econômicas e submetidos à vontade de outros países mais poderosos, cujos interesses estão acima dos interesses dos nossos povos. Isto sem contar com a pressões de organizações criminosas de narcotráfico, tráfico de pessoas e controle de prisões, cujas presenças ominosas estão infiltradas até nos mais elevados estratos dos governos. 

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As primeiras vítimas deste ambiente de ceticismo e perda de credibilidade são os processos eleitorais. Neles se evidencia com força o desgaste de sistemas supostamente democráticos que hoje não resistem à menor análise. É nestas supostas “festas cívicas” onde fica manifesto o grave empobrecimento do poder cidadão e a ausência de propostas políticas capazes de dar a volta ao desprestígio que hoje impera. 

Um governo corrupto tende claramente para o estabelecimento de uma ditadura.

Carolina Vasquez Araya | Colaboradora da Diálogos do Sul na Cidade de Guatemala.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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