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A presença militar de EUA na América Latina

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

Um cruzador estadunidense ladeado por fragatas peruana e chilena. Navy photo by PhotographerÕs Mate 2nd Class Michael Sandberg (RELEASED) Um cruzador estadunidense ladeado por fragatas peruana e chilena. Navy photo by PhotographerÕs Mate 2nd Class Michael Sandberg (RELEASED)

Silvina M. Romano*

O discurso de liberdade, democracia, acercamento diplomático e relações amistosas com América Latina, tão característico da administração Obama no seu afã por reforçar o “poder brando” de sua política exterior, encontra seus limites reais na necessidade de “ordem” e “estabilidade” (refrões muito usados durante a implementação da Doutrina de Segurança Nacional na América Latina).

Na atualidade, as Forças Armadas estadunidenses no Hemisfério estão presentes não só nas mais de 70 bases militares, mas também se materializam em diversos acordos de segurança multi e bi laterais: Plano Colômbia, Iniciativa Regional Andina, Iniciativa Mérida, Iniciativa para a Segurança Regional de América Central, entre outros. Tais pactos incluem programas de treinamento, cursos de capacitado, venda de armas e equipamentos, envolvendo desde as empresas provedoras desses materiais e as agências de segurança estadunidenses como a DEA e o FBI até os governos, empresa e polícias dos países latino-americanos.1

A razão dessa presença é a “segurança de Estados Unidos”, o que implica por definido a segurança e a estabilidade em territórios que poderiam resultar em uma ameaça para Estados Unidos. Nos manuais de treinamento de fins dos anos 1960 se lia claramente o vínculo entre ambos: “La falta de estabilidade política e de ordem sócio-econômica em um país latino-americano põe em cheque a segurança nacional norte-americana. Por conseguinte, EUA deve adotar, em material de treinamento e programas de ajuda militar, táticas destinadas a evitar os riscos de tal instabilidade, através do desenvolvimento econômico e a imposição da ordem”.2

Assim é que a busca pela “estabilidade” é parte do discurso que vem penetrando fortemente na região desde o início da Guerra Fria e que opera como legitimador das intervenções por cima da soberania nacional dos Estados. Atualmente, nas páginas web do Comando Sul, pode-se ler que um dos objetivos das operações Unitas (Southern Seas 2015) é “a continuação do compromisso com a região, orientado a estreitar o trabalho conjunto e promover a estabilidade hemisférica”. Claro que este trabalho conjunto se realiza com países e governos que se encontram alinhados às pautas político-económicas e de segurança que não alteram os preceitos de Washington, como Peru, Chile, Colômbia e Panamá. Os exercícios de treinamento chegam até Brasil: Unitas adestra as forças armadas desse país para combater no campo da guerra eletrônica, em matéria de guerra aérea e submarina, em operações de interceptadas, e executam diversas manobras em conjunto. 3

Em termos gerais, o Comando Sul tem por missão oferecer às nações amigas cursos de treinamento, mecanismos para “compartilhar a informação”, equipamentos e assistência tecnológica, bem como assistência em infra-estrutura (note-se que isso remete especialmente às empresas estadunidenses dedicadas à segurança) Ademais, assessora especialmente em questões de inteligência e em operações de combate ao narcotráfico e o terrorismo, sempre “respeitando os direitos humanos”. 4

Chama atentado o pouco que se tem divulgado sobre isso à opinião pública. É como se essa presença de umas forças armadas copiadas fosse um componente “natural” da soberania dos países da região mesmo em um contexto de reconstrução da memória com respeito à contra-insurgencia, os desaparecimentos forçados, os operativos paramilitares etc, entre a d.Cada de 1950 até finais de 1980. Precisamente durante a Guerra Fria, com relação ao treinamento de tropas latino-americanas em academias estadunidenses, dizia-se que se tratava de treinamento técnico e para nada “político ideológico”. Essa firmação foi desmentida com os acontecimentos em Chile, posteriormente na Argentina, onde as forças armada ocuparam a esfera política formal.

Hoje causa alarme ver a seguinte notícia: “Sub oficiais da Colômbia recebem lições de liderança em Estados Unidos (…) receberão instrução sobre liderança compartilhada, solução de conflitos, liderança e comportamento organizacional e treinamento emocional durante dez dias nas instalações do forte militar de a Houston en San Antonio Texas, por pessoal do Exército Sul dos Estados Unidos”. 5

Algumas cifras ilustram o grau de dependência das forças armadas latino-americanas. A venda de armas estadunidenses para América Latina e Caribe em 2014 alcançou 1.605,861 dólares e em 2012foi de 2.408.527.664 dólares. Os militares latino-americanos que receberam treinamento em 2013 foram 12.157, enquanto que em 2014 foram 14.600. 6

A “estandardização das forças armadas” de acordo com as necessidades de Estados Unidos é uma constante desde o início da Guerra Fria e prossegue até os dias de hoje. O inimigo interno e externo a combater vai mudando de nome, mas sempre está aí para justificar a imposição de uma Segurança Hemisférica que garanta uma mania estabilidade para os negócios (legais, ilegais, locais, transnacionais). Por isso, do império jamais escutaremos o conceito de “fim de um ciclo” mas só de “renovação de estratégias”.

*Original do observatório Latino-americano Cronicon, em
Notas:
[1] Borón, A. (2012) América Latina en la geopolítica del imperialismo. Bs As: Luxemburg, pp. 161-188.
[2] Tapia Valdés, J. (1980) El terrorismo de Estado. La doctrina de la seguridad nacional en el Cono Sur. México: Nueva Imagen p. 58
[3] http://www.southcom.mil/newsroom/Pages/US-Marines-train-with-partner-nat…
[4] http://www.southcom.mil/ourmissions/Pages/Supporting-Our-Partners–Build…
[5] http://www.infodefensa.com/latam/2015/11/03/noticia-estados-unidos-capac…).
[6] http://www.securityassistance.org/latin-america-and-caribbean
ALAI, novembro de 2015.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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