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A repressão mostra sua face

Jorge Maria Rabëlo

Tradução:

José Maria Rabêlo*

Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra
Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra

Pela primeira vez, publicamente, graças à intervenção do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra na Comissão da Verdade, a repressão mostrou sua face. O que se viu ali foi um homem descontrolado, cheio de esgares e tiques nervosos, demonstrando ser capaz de atos de extrema violência e agressividade. Em momento algum esclareceu os questionamentos que lhe eram feitos, vociferando ou negando as acusações, mesmo as mais documentadas.
Suas explicações para os crimes da repressão, inclusive a execução de presos e as torturas, foram as mesmas de muitos outros carrascos, dos nazistas aos assassinos das ditaduras latino-americanas: o combate ao comunismo. Assumindo uma missão que ninguém lhe deu, de salvar o Brasil do comunismo, julgava-se com o direito à vida e à morte dos presos sob suas ordens, conforme disse um dos depoentes na Comissão. Para defender a democracia, ele e seus comparsas implantaram uma ditadura de mais de 20 anos, enviando aos socavões do regime todos os que divergiam de suas opiniões.
A maneira desrespeitosa e ofensiva com que se referiu à presidente Dilma, perante a Comissão e pelas câmeras de televisão, revela a atitude dos agentes repressivos, a começar pelo coronel e outros colegas de farda. Imaginem como teriam tratado a presidente, se estivesse detida, indefesa, nos porões do DOI-Codi de São Paulo, comandado por Ustra. Foi aliás o tratamento brutal que recebeu em outras repartições militares, quando caiu presa sob a mesma acusação de agitadora, terrorista e inimiga do regime.
Esse tumor da repressão lamentavelmente não foi ainda eliminado. Está vivo nas ações e nas palavras de vários de seus chefes e comandados através dos clubes militares, dos livros e publicações da classe, de palestras a públicos especialmente selecionados. Para ver a audácia desses sicários, na defesa de suas ações criminosas e da volta ao passado, basta acessar o site Ternuma – Terrorrismo nunca mais, e outros menos lembrados.
Como fantasmas perdidos no tempo, eles perambulam por aí, ainda hoje, em seus desvarios de combate ao comunismo e aos comunistas.
É pena que essa insanidade, em tempos não distantes, tenha custado tanto sofrimento, tortura e desaparecimento de milhares de brasileiros e brasileiras.
Os Ustras da vida pensam e defendem que tudo isso deveria sinistramente acontecer de novo. O depoimento do militar na Comissão é o retrato dessa postura irracional, de ódio aos adversários e de rejeição a uma sociedade livre e democrática.
O coronel falou como um pequeno füher, repetindo os argumentos e trejeitos de seus inspiradores.
Gorilismo
O único espectador a aplaudir o depoimento do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra na Comissão da Verdade foi o general reformado Luiz Eduardo Rocha Paiva, até pouco tempo atrás Secretário Geral do Exército. O general, em busca de evidência, anda pelo País, tentando justificar o período de trevas que o Brasil viveu durante a Ditadura. Guardem este nome. É hoje o candidato número um ao posto de gorila-mor.
Janela
Graças ao depoimento do coronel Ustra, uma das mais sinistras figuras do regime militar, a repressão mostrou sua face pela primeira vez. Ali ficou claro que os torturadores julgavam-se com o direito à vida e à morte dos que caíam em suas mãos.
*jornalista e ensaísta, editor do jornal Binômio destruído pela ditadura nos anos 1960, representante dos Diálogos do Sul em Minas Gerais.
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jorge Maria Rabëlo

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