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A Soberania Nacional violada e ninguém protesta

Paulo Cannabrava Filho

Tradução:

“É urgente resgatar a bandeira pela defesa, ou melhor, pelo resgate da soberania nacional.”

Paulo Cannabrava Filho*

paulo canabrava

  1. Característica do que ou quem é soberano: Tinham a seu favor a soberania do eleitorado
  2. Autoridade suprema de soberano: Sua soberania se estendeu a todo o continente
  3. P.ext. Fig. Domínio, território de um soberano
  4. Autoridade moral, intelectual (soberania da razão; soberania da justiça
  5. Característica do que não tem recurso ou apelação: Não havia como reverter a soberania de sua decisão.
  6. Pol. Propriedade que tem um Estado de ser independente, senhor de seu território e imune aos interesses ou pretensões de qualquer potência estrangeira
  7. Primazia, prioridade de algo. Arrogância, altivez.

Com ato de corrupção explícita Michel Temer se livra de ser julgado por corrupção. Ou não é corrupção liberar dois milhões, aqui, outro milhão acolá, uns 3 bilhões para garantir (ou comprar?) o voto que o manteve no poder. E ainda punir com expulsão os infiéis estendendo a punição com a demissão de seus apaniguados.

Parabéns, senhor Temer. Deu um show de capacidade de articulação. Sabe manejar seus iguais.

Será que alguém tinha dúvida de que isso aconteceria?

Parece que sim. Se não, por que a insistência em brigar pelo Fora Temer? Desgastante brigar por uma bandeira de uma derrota anunciada. Não é a toa que grassa perplexidade por toda nação.

É urgente resgatar a bandeira pela defesa, ou melhor, pelo resgate da soberania nacional.

Temer também conseguiu dar um chega pra lá no Janot, o supremo procurador geral. Vitória sobre os irmãos Marinho  que com a Globo estava apostando tudo para derrubar o presidente, aliás, o falso presidente. Parabéns, Michel, ganhou duas páginas inteiras do Estadão. Parabéns, mas, não pense que seu inferno acabou. Outras rodadas virão com apostas talvez mais altas.

Meu avô, sábio por velho, dizia… o buraco é mais embaixo, está em outro lugar. Temos insistido nisso, no diversionismo com que estão ludibriando a nação. Enquanto a mídia faz espetáculo, a Nação sangra, a soberania está sendo estraçalhada.

É urgente resgatar a bandeira pela defesa, ou melhor, pelo resgate da soberania nacional. Sem soberania, todas e qualquer outra bandeira de luta dará com os burros n’água.

Onde estão os petroleiros? Onde estão a CUT e as mais de dez Centrais Sindicais que se dizem operárias, os sindicatos? Onde está o PT, onde está o Lula? Onde os que se dizem socialistas, comunistas, nacionalistas, democratas, social democratas? Não haverá democracia sem soberania, assim como não haverá desenvolvimento sem soberania.

Nenhuma reação enquanto desmontam a Petrobrás, enquanto entregam as riquezas nacionais. Não é só o Estado que está sendo desmontado. É a capacidade produtiva do país.

A prioridade deve ser a soberania

a soberania nacional que está sendo estraçalhada, é a democracia que está sendo estuprada.

“A soberania nacional que está sendo estraçalhada, é a democracia que está sendo estuprada.”

Para recuperar a soberania é preciso devolver às pessoas a capacidade de pensar criticamente, formar os quadros com consciência nacional.

Diz a Constituição que as forças armadas têm como função precípua a defesa da soberania nacional. Nacional com tudo o que esse termo implica, inclusive a cultura entendida como tudo que é resultado da criação humana. Será que não se dão conta de que estão sendo usados contra o próprio povo de onde foram paridos?

Onde está o Estado Maior das Forças Armadas? Estará por acaso em Miami, no US Southern Command? Parece que sim, pois é isso que pretende o Acordo de Cooperação militar firmado pelos presidentes Dilma e Obama em julho de 2015. Leia o artigo sobre esse acordo no link abaixo (1).

Na luta pela soberania nacional não podemos deixar de lado os militares. Eles são filhos de nosso povo e tem a responsabilidade constitucional de garantir a soberania nacional. Defender a soberania é defender em primeiro lugar o povo pois não existe nação sem povo, e sem povo se perde o conceito de nacional.

Os militares já atuaram como algozes do povo a serviço da anti-pátria. Como nenhum torturador ou seus mandantes foram punidos, ficou o trauma que provoca a rejeição de uma maior aproximação com os militares. Está errado. Os militares e o povo têm de juntos defender a soberania nacional. Nessa questão, um não existe sem o outro.

O exército atuar na escalada de militarização do Estado brasileiro, como está ocorrendo no Rio de Janeiro, reacende esses traumas passados, tanto de um lado como de outro. Não resolveu e nem vai resolver o problema da violência, nem vai acabar com essa verdadeira guerra civil que cobra mais de 60 mil mortos a cada ano. O estado contra o povo. Isso só muda mudando o Estado.

No lugar de ocupar as favelas os militares deveriam estar protegendo nossos recursos minerais saqueados a fluxo contínuo, proteger nosso petróleo, nossas águas, nossas terras, nossos indígenas em processo contínuo de genocídio.

Soberania? Soberania alimentar, soberania energética, soberania sobre o bioma, sobre a água, enfim sobre todos os recursos naturais e não naturais, os criados e fabricados. Soberania cultural.

Defender a soberania é libertar-se da servidão intelectual. Devolver às escolas o pensamento crítico, fazer a Universidade pensar o país do ponto de vista nacional.

Ocupar e politizar todos os espaços

Desânimo, apatia, medo, paranóia, ódio ao outro, a nação está em surto psicótico. Como sair dele? Só com terapia intensiva.

Os espaços com o povo organizado em que havia politização, se fazia política, se pensava no país, abandonados, foram ocupados e agora só há alienação, ódio, consumo, teologia da prosperidade, Vênus platinada.

Ou voltamos a ocupar esses espaços ou continuaremos vítimas das maldades desses bandidos despudorados que usurparam o poder.  E eles tentarão de tudo para manter-se no poder. Tudo, fraude, principalmente repressão.

Já ensaiam de novo com uma emenda parlamentarista. Parlamentarismo  que já foi por duas vezes rechaçado oficialmente pelo povo: primeiro no plebiscito de 1962 e outra vez na Constituinte de 1987.

O foco para a mobilização e organização popular tem que ser claro, objetivo. Não resolve chorar sobre o leite derramado. Tem que devolver a esperança não como abstração, mas como crença na força do povo organizado para alcançar os objetivos de defesa da democracia e da soberania nacional.

Em torno desses objetivos é possível formar uma frente ampla de salvação nacional. Pois é disso que se trata, pois é a soberania nacional que está sendo estraçalhada, é a democracia que está sendo estuprada.

Unidos em torno dessa bandeira de salvação nacional, será possível buscar consenso sobre a construção de um novo Estado, uma nova ordem política, e um projeto nacional de desenvolvimento.

Chega de denuncismo, chega de chorar sobre os espaços perdidos. Não há lugar para regressar ao passado, pois seria a confirmação do status quo. Em torno dessas bandeiras há que se desencadear um grande movimento nas escolas, nos bairros, em cada família, para defender a democracia e a soberania. Chegou a hora da juventude em sua rebeldia assumir o protagonismo da construção do futuro. Só se constrói o futuro tendo um país soberano e um projeto nacional de desenvolvimento.

(1) Para entender os acordos de cooperação militar firmados pelos presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama: http://operamundi.uol.com.br/dialogosdosul/pra-que-servem-os-acordos-dilmaobama-ii/04072015/

*Jornalista editor de Diálogos do Sul.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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