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Abismo entre países irmãos: o que explica inflação no Peru 1000% acima que na Bolívia?

Taxa estratosférica atinge outros países da América Latina, cujas populações veem poder de compra minguar cada dia mais
Juan Verástegui Vásquez
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Na Bolívia, é a mais baixa de mundo
No Peru, é 1,067% mais alta que na Bolívia

Não nos custa muito crer que o melhor banqueiro da América Latina, Julio Velarde F, presidente do Banco Central de Reserva do Peru (BCRP), não possa controlar a INFLAÇÃO

O banqueiro não pode com a inflação que, como sabemos, é o pior flagelo para os pobres; seu salário dá, a cada dia, para comprar cada vez menos meios quilos de arroz, o pular comidas e ninguém se encarrega de equiparar o salário com a inflação; enquanto o melhor banqueiro fixa seu salário ele mesmo. Todos os meses sobe a inflação, mas não todos os anos se ajustam os salários neste país, e menos ainda de acordo com a inflação.

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O Art.84 da Constituição Fujimorista, determina que o BCRP é pessoa jurídica de direito público, tem autonomia dentro do marco de sua Lei Orgânica. A finalidade do Banco é preservar a estabilidade monetáriaregular a moeda e o crédito do sistema financeiro… O Banco está proibido de conceder financiamento ao erário…” 

O que diz a Constituição da Bolívia a respeito de seu Banco Central. “Bolívia, determina que é o Estado, através do Órgão Executivo, quem determinará os objetivos da política monetário e cambial do país, em coordenação com o Banco Central da Bolívia”. Como vemos e o governo que determina a política monetária conjuntamente com seu Banco Central. Ratificando, ademais, que o Estado regulará o sistema financeiro com critério de igualdade de oportunidades, solidariedade, distribuição e redistribuição equitativa.

Bolívia é reconhecida mundialmente por política econômica de sucesso contra inflação

O Estado, através de sua política financeira, priorizará a demanda de serviços financeiros dos setores da micro e pequena empresa, artesanato, comércio, serviços, organizações comunitárias e cooperativas de produção. O Estado fomentará a criação de entidades financeiras não bancárias com fins de investimento socialmente produtivo.

O Banco Central da Bolívia e as entidades e instituições públicas não reconhecerão devedores da banca ou de entidades financeiras privadas. As operações financeiras da Administração Pública, em seus diferentes níveis de governo, serão realizadas por uma entidade bancária pública. 

Como vemos existe uma diferença abismal no que se refere ao Banco Central; no caso da Bolívia, orienta-se a fins sociais e benéficos; no Peru são os grandes capitais, nacionais e estrangeiros, os favorecidos.

A inflação, em nosso país, se incrementa mês a mês e sua presidência, até agora, não a pode controlar, ao banqueiro é impossível “preservar a estabilidade monetária”, que, por mandato constitucional, está obrigado a fazer. 

Taxa estratosférica atinge outros países da América Latina, cujas populações veem poder de compra minguar cada dia mais

EneasMx/Wikimedia Commons
Na gestão de Evo Morales M., se conseguiu “desdolarizar” a economia, graças a um contundente pragmatismo e vontade de soberania




Bolívia de Evo

Na Bolívia, e desde Evo Morales, a inflação a têm controlada, e até houve uma rebaixa de preços de – 0.11 % nestes dois primeiros meses deste 2023 (invejável e assombroso, na Bolívia os produtos baixam de preço). De acordo com o ministro de economia da Bolívia, em fevereiro, os principais rubros que tiveram uma importante rebaixa em seus custos foram o frango (-15,38 %), tomate (-28 %), o transporte interdepartamental (-12 %) e a carne de rês (-0,7 %).

De acordo com o FMI, enquanto a inflação interanual ficou na Bolívia em um magro 0,77%, que é uma das mais baixas do mundo, em troca para toda a região rondará o 10% anual, que é um incremento muito mais pronunciado que na Bolívia: o que significa que na Bolívia a inflação é 1,199 % menos que em toda a região latino-americana. Depois da Bolívia ser “o mendigo da América” e dever dinheiro para todo mundo, com Evo Morales o salário dá para comprar mais produtos a cada dia, porque os seus preços baixam.

Mercado, inflação, juros: O que a grande mídia repete sobre Economia é uma farsa

No Peru a inflação anualizada é de 8,99%, o que representa que no Peru a inflação anual é de 1,067% mais do que na Bolívia. Esta cifra representa a mais alta dos últimos 26 anos. Significou que este flagelo (deterioro da capacidade de compra do povo) golpeia muito mais aos peruanos que aos bolivianos. Na Bolívia, baixam os preços dos bens e serviços.

Com relação ao tipo de câmbio, a Bolívia tem um tipo de câmbio fixo, com o dólar a 6,96 bolivianos. Este comportamento foi implementado pelo socialista EVO MORALES M, presidente da Bolívia, fato que permite estabilidade nos preços dos bens e serviços, mantendo um equilíbrio assombroso. No Peru, nesses últimos tempos, o dólar dispara dia após dia, chegando a custar mais de quatro soles em 2021. Esta volatilidade é prejudicial para a economia. O neoliberalismo prejudicou enormemente o país. O Estado não pode intervir para nada e buscar equilibrar a economia em favor dos pobres. Produtores e consumidores em todo o mundo estão sendo golpeados pelo aumento dos preços dos combustíveis e dos alimentos, gerando inflação. 

Em troca, na Bolívia, com a nacionalização dos hidrocarbonetos por parte do Estado, com Evo Morales M., é dono de toda essa riqueza, fato que lhe permitiu e permite imensos recursos e contribui para a baixa inflação (até há deflação) . De acordo com a BBC Mundo, o elemento chave que explica uma baixa inflação é que “aumentou muito a produção agropecuária, especialmente o tomate e a cebola que moderam e mitigam os elementos inflacionários”.

No Peru, o gás, o petróleo, a agroindústria, a pesca pertencem a grandes transnacionais estrangeiras e peruana que levam grátis, sem pagar nada. O gás chegou a custar 75 soles e na Bolívia era 8 soles; o petróleo está pelas nuvens e todo esse lucro não corresponde ao país, porque seu próprio gás não lhe pertence. Em Echarate (Cusco), lugar onde se produz quase 100% do gás que se consome no país, custa 150 soles e as pessoas cozinham com lenha porque não conseguem comprar seu próprio gás.


Subsídios e restrições às exportações

Na Bolívia, o preço da gasolina se mantém em torno dos US$0,50 por litro e os artigos da cesta básica tampouco experimentaram incrementos. Isto se deve aos bondosos subsídios ao controle de preços do governo de Evo, como causa fundamental para não afetar a economia dos mais pobres. 

Apesar dos custos do petróleo seguirem disparados nos mercados internacionais, o monopólio estatal que distribui a gasolina na Bolívia tem absorvido totalmente esse impacto ao não alterar seu preço subsidiado. Em consequência, os produtores agrários não se viram obrigados a transferir aos consumidores finais (o povo) o aumento de seus custos de produção derivado da alta dos combustíveis, como sucedeu em outras países (BBC Mundo)

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A Bolívia também conta com mecanismos que ajudam a conter a inflação dos alimentos, como a Empresa de Apoio à Produção de Alimentos (Emapa), uma companhia estatal que brinda apoio financeiro aos produtores agropecuários, e o Fundo Rotatório de Segurança Alimentar, que importa alimentos com cargo às contas públicas e os distribui no mercado para manter os preços baixos. No Peru, grandes transnacionais, agroexportadores nacionais e estrangeiras se encarregam de levar para fora nosso alimento e não deixam nada para o país. Ainda mais, as irrigações foram feitas com dinheiro do povo e só devolveram 7%. 

Em uma das suas últimas ações, o Fundo Rotário, na Bolívia, injetou 10.000 toneladas de farinha de trigo no mercado para evitar um aumento no preço do pão. Aqui, em nosso país, lobbies e grandes interesses comerciais fazem com que o trigo para nosso pão de cada dia, seja cem por cento trazido do estrangeiro (transgênico) por grandes empresas transnacionais, enquanto nossas terras estão desocupadas e o camponês na maior pobreza. 

Na Bolívia, para exportar se requer os Certificados de exportação, e com isso se garante que a prioridade é dos bolivianos. No Peru, a Agricultura Familiar nos provê com 80% dos alimentos que requeremos, enquanto 100% dos grandes agroexportadores vão para fora. Não lhes importa a fome do povo. Se há demanda insatisfeita da população boliviana, os produtos não se exportam até satisfazer o consumo nacional. 

A preços internacionais, a Bolívia exporta gás, eletricidade, matérias primas, e também minérios, fato que lhe permite ter maior liquidez em divisas e equilibrar o tipo de câmbio. Para o seu povo, vende barato porque tem subvenções. De acordo com Alfredo Serrano Mancilla e Oglietti, este comportamento benigno da economia boliviana, não é um milagre, nem casual, menos ainda produto do neoliberalismo.


Desdolarização

Na gestão de Evo Morales M., se conseguiu  “desdolarizar” a economia, graças a um contundente pragmatismo e vontade de soberania de seu presidente. Antes de Evo, só 15% dos depósitos estavam em moeda nacional; em matéria de crédito unicamente 7% se outorgava em pesos bolivianos, todo o mundo usava dólares. Em 2019, com Evo, 99% dos depósitos e 87% dos empréstimos são em pesos bolivianos. Na atualidade, todos os bolivianos preferem emprestar em pesos e tomar depósitos em pesos porque é uma moeda forte e rentável. 

Oxalá estes neoliberais aprendam e apliquem um modelo econômico de desenvolvimento nacional. Não vamos pormenorizar uma série de medidas macro e microeconômicas que implementou o presidente Evo Morales M., só mencionaremos os que tiveram meio impacto na população:

1) desanimou a compra-venda de divisas ampliando o diferencial cambiário entre compra e venda de divisas até uma diferença de 10 centavos;

2) aumentou a 66.5% o encaixe líquido que os bancos devem ter por cada depósito em dólares, enquanto o encaixe para os depósitos em pesos é de 11%, com o fim de encarecer os custos dos créditos em dólares;

3) foram oferecidas taxas ligeiramente mais altos para os que economizavam em pesos; 

4) foi estabelecido um imposto às transações financeiras e, dólares que afeta somente as caixas de poupança com mais de 2 mil dólares e os depósitos a prazos menores ao ano;

5) se aumentaram os requisitos para outorgar créditos em moeda estrangeira e se facilitou o crédito em moeda nacional, pelo qual aumentou muito a preferência a outorgar empréstimos em pesos;

6) foram emitidos títulos públicos em moeda nacional e desaparecem os títulos em dólares;

7) usando vários instrumentos, em especial os coeficientes de reservas e cotas máximas, orientou-se o crédito bancário às atividades produtivas, especialmente a moradia social, empresas, microcrédito expandidos a carteira de créditos em quase 7 vezes;

8) os tipos de juros que resultaram desta política são invejáveis, abaixo de 10% para os créditos hipotecários e de 7% para Pymes. Entre outras medidas.

Finalmente, na Bolívia já se fabricam carros com peças, partes e componentes de origem nacional. E já fabricam também, bateria com seu lítio que é propriedade do Estado boliviano, enquanto no Peru, o lítio é de propriedade de estrangeiros e não pagam absolutamente nada quando levam. 

O credo neoliberal, adoece de variáveis, teorias e planos para o desenvolvimento dos países pobres como o nosso. Nestes últimos trinta anos os mil milionários incrementaram sua fortuna escandalosamente, em detrimento dos países pobres. O 15 dos mais ricos do mundo têm riqueza equivalente aos 99% dos pobres. No Peru existe na atualidade, 3 milhões de famintos, cerca da metade das nossas crianças têm anemia e mais de 14% são desnutridos crônicos, etc, etc. 

Ninguém deveria ir deitar com fome no nosso país. Temos muita riqueza, mas de nada nos serve, outros a levam grátis.

Juan Verástegui Vásquez | Colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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