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ToggleDonald Trump apresentou-se em um tribunal estadual em Nova York no primeiro dia de um julgamento civil, acusado de fraude e conspiração empresarial no qual, potencialmente, poderia perder o controle de várias propriedades icônicas estampadas com seu nome, junto com sua imagem de empresário extraordinariamente exitoso, com a qual se tornou estrela de televisão e depois presidente.
Mas sua presença no julgamento também lhe oferece mais uma oportunidade para captar a atenção nacional, em que se projetou como um candidato insurgente e um mártir batalhando para resgatar o seu país dos “radicais” e corruptos no poder.
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O majestoso edifício do Tribunal Supremo da Estado de Nova York, em Manhattan, rodeado de valas, incluindo o pequeno parque em frente, a Praça Foley, resguardado por uma ampla presença policial em coordenação com o Serviço Secreto e outras agências ante temores de violência política por parte de simpatizantes do ex-mandatário, serviu como cenário para o teatro que Trump deseja criar ao qualificar este caso como parte da “caça às bruxas” para descarrilar sua campanha eleitoral impulsada por “democratas radicais”.
Porém, o julgamento, embora às vezes projetado como espetáculo pelos meios (que cara e atitude tinham, qual a cor da gravata dos atores, quem estava feio ou não), é uma das primeiras vezes em que a impunidade do autoproclamado grande empresário de bens raízes poderiam ser anuladas com consequências muito reais. Ainda mais, este julgamento civil é só um de cinco que já estão programados contra Trump; os outros quatro são processos criminais que poderiam implicar condenações à prisão.
Se for declarado culpado das acusações de fraude e conspiração para inflar o valor de suas propriedades, Trump potencialmente poderia perder o controle de várias de suas propriedades icônicas, como a Torre Trump na Quinta Avenida (onde pernoitou em seu apartamento triplo, onde supostamente tem uma privada de ouro), e de onde desceu a escada elétrica para anunciar sua primeira candidatura presidencial com uma mensagem que incluiu a famosa frase contra o México e os mexicanos, assim como outros edifícios e clubes de golfe em Nova York. Além disso, poderia ser proibido para sempre de fazer e manejar negócios no estado de Nova York.
Twitter | Reprodução
Por ora, este julgamento e o teatro político ao redor deste e dos outros processos contra Trump continuarão
Samba de uma nota só
Ao chegar ao tribunal, Trump continuou com sua mensagem de que este, como todos os casos contra ele, são parte de um esforço para barrar seu regresso à Casa Branca. “Este é a continuação da maior caçada de bruxas de todos os tempos”, afirmou, continuando com sua opinião de que tudo isto é parte de um grande ataque político da “esquerda radical”.
Na sala do tribunal, Trump sentou-se na mesa da defesa, na frente do juiz Arthur Engoron, a quem já havia insultado ao chamá-lo de “transtornado”, “injusto” e “odiado de Trump”, e no recesso do almoço o ex-mandatário apelou para que o juiz seja destituído de seu posto. À sua esquerda do outro lado do corredor na sala estava sentada a procuradora geral do estado de Nova York, Letitia James, que formulou a acusação, à qual ele chamou de “racista” (ela é afro-estadunidense) e “corrupta”.
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O juiz, em um julgamento civil sem júri, já determinou na semana passado e antes desta audiência que, com base nas provas apresentadas, Trump inflou sua fortuna declarada até 2,2 bilhões de dólares, ao exagerar o valor de várias de suas propriedades e de sua empresa, com isso ilegalmente obtendo empréstimos e seguros favoráveis. Ordenou que as licenças de operação de negócios de Trump em Nova York fossem canceladas e que as propriedades passassem às mãos de um administrador nomeado pelo juiz – embora tudo isto ainda não tenha sido implementado.
Porém, durante este julgamento, o juiz avaliará outras seis acusações contra ele, e decidirá sobre a solicitação da procuradora de impor uma multa de 250 milhões de dólares e proibir Trump e sua família (seus filhos e altos executivos também estão acusados neste processo) de encabeçar empresas no estado de Nova York.
De fato, a procuradora James disse que as provas que serão apresentadas no julgamento, fruto de uma investigação de três anos, demonstrarão que Trump inflou sua fortuna em até 3,6 bilhões de dólares. Disse que tem a intenção de pôr Trump, seus dois filhos e sua filha Ivanka no banco das testemunhas para serem interrogados pelos promotores neste julgamento.
James, antes de ingressar no tribunal, comentou aos meios que “minha mensagem é simples: não importa quão poderoso é, não importa quanto dinheiro pensa que tem, ninguém está acima da lei”.
Agendas livres
O juiz pediu aos promotores e advogados defensores que deixem livres suas agendas para este julgamento até o fim de dezembro, e embora se espere que dezenas de testemunhas sejam convocadas a participar, o julgamento não durará tanto. Já os advogados de Trump já informaram que têm a intenção de apelar das decisões do juiz ante tribunais superiores, o que implicaria que este caso seria prolongado, talvez, até depois das eleições de novembro de 2024, na qual Trump espera regressar à Casa Branca.
Por ora, este julgamento e o teatro político ao redor deste e dos outros processos contra Trump continuarão. Ainda antes da abertura das portas do tribunal na manhã desta segunda-feira, a campanha de Trump já estava usando este julgamento para arrecadar fundos de seus simpatizantes enviando mensagens de que as doações dos milhões de “patriotas” que “recusam render nosso país à tirania” será logrado para derrotar “estes marxistas” que fizeram tudo para evitar que Trump regresse à Casa Branca.
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Por sua vez, o filho de Trump, Don Jr, tentou competir com a hipérbole habitual de seu pai, declarando em um programa de rádio sobre o julgamento que “este se parece o início da Revolução Bolchevique – não te queremos e então vamos confiscar sua propriedade”.
Do lado de fora, as ameaças de algum motim por parte dos fanáticos de Trump não se produziu, só umas poucas pessoas com um par de bandeiras pró Trump e um homem vestido de negro, com botas militares, gritava de vez em quando: “Te amamos Trump”. Outros poucos deram voltas do lado de fora do edifício com camisetas com a imagem do ex-mandatário no cárcere e o lema “prendam-no” e outras que simplesmente diziam “culpado”.
David Brooks e Jim Cason | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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