O domínio do patriarcado constitui a marca escura de uma luta atávica, por meio da qual a mulher tenta conquistar sua independência – cada vez com melhores armas – e construir uma vida de liberdade.
Este eterno enfrentamento não trata de costumes nem tradições, mas sim de uma guerra de guerrilhas travada por um setor da população – pré munido de todo tipo de armas: legais, físicas e doutrinárias – contra outro que só possui a certeza de sua razão. E assim transcorreram os séculos.
Para começar a compreender a dimensão deste sistema de dominação, é preciso ir além das aparências e medir o enorme impacto sobre a vida de mais da metade da população do planeta.
Isto não só se reduz em uma violência aparente no maltrato físico, social e psicológico, cuja constante presença impede o desenvolvimento pleno de meninas, adolescentes e mulheres adultas, mas também na maneira solapada como as condena à dependência econômica graças à influência nefasta de uma visão de maternidade e de família, distorcida e marcada por uma autoridade ilegítima.
Para ativista, situação das mulheres pouco mudou com ocupação dos EUA no Afeganistão
A partir de um esquema de injustiça histórica de tal magnitude, compreende-se a maneira como as sociedades toleram o abuso, a tortura, a marginação e a crueldade extrema contra as mulheres pelo só fato de sê-lo.
Basta olhar as estatísticas onde se reflete de maneira transparente quão frágil é seu status e de que modo lhe é impedido alcançar um pleno domínio sobre sua vida e seu corpo.
Pt.org
Este fato é fato patente nas aberrantes cifras de feminicídios, sequestros, desaparecimentos, tráfico e violações contra meninas
Em países sumidos no subdesenvolvimento, esta realidade é esmagadora e estampa uma visão aberrante do feminino como débil – física e intelectualmente – e naturalmente subordinado, tanto desde o jurídico como desde as doutrinas religiosas.
Por isso, cada tentativa de avançar e despejar o caminho para o desenvolvimento pleno do setor feminino tem encontrado os maiores obstáculos, inclusive desde seu próprio âmbito.
O fato de que, ao haver-se visto na necessidades de conquistar cada pedaço de liberdade com a ruptura – muitas vezes violenta – dos obstáculos religiosos, sociais e legais para ocupar um lugar no mundo real tenha sido objeto de burla, rechaço e condenação, é motivo suficiente para refletir sobre esta absurda estrutura do poder.
O que será das mulheres que eu conheci no Afeganistão agora que o Talibã voltou ao poder?
Nos âmbitos domésticos, de trabalho e sociais, a mulher ainda ocupa um espaço sujeito à condescendência e à correção política e não ao pleno direito.
Este retrato não obedece a uma visão distorcida da realidade. É um fato patente nas aberrantes cifras de feminicídios, sequestros, desaparecimentos, tráfico e violações contra meninas, adolescentes e mulheres, crimes impunes que poucas vezes – ou quase nunca – chegam à etapa de investigação e condenação.
Elas são as ausentes em sociedades indiferentes à sua condição de seres humanos, com tudo o que isso implica em respeito, autonomia e capacidades. Elas são aquelas que experimentaram em carne própria o desprezo de seus pares e o abandono da sociedade.
No transfundo deste drama de injustiças está a eterna luta pelo poder. Dela se desprende a enorme maquinaria do patriarcado, cuja predominância descansa sobre uma autoridade imposta pela força e as enormes vantagens de ter à sua disposição todo um contingente de mulheres capazes de aportar, pelo força da tradição, seu trabalho não remunerado, sua riqueza criativa e sua inacabável resistência à dor.
A luta para reivindicar seus direitos enfrenta – por óbvias razões – uma feroz resistência.
O lugar da mulher na sociedade é, ainda, um tema pendente.
Carolina Vásquez Araya, Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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