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Camarões se destaca na história da África como a cruzamento de caminhos onde convergiram no século XIX as ambições das grandes potencias coloniais europeias que disputavam suas valiosas riquezas naturais, mas anteriormente, como importante centro para o comércio de escravos.
Como uma herança desse passado, este país África Ocidental é dos poucos do continente que possui como idiomas oficiais o francês e o inglês, além de 24 idiomas nativos repartidos entre numerosos grupos étnicos, os quais tem sua origem nos povos banto e pigmeu.
Três grupos principais conformam as etnias do país: as de idioma banto, no sul e ocidente; a de fala sudanesa no norte. Os banto se estabeleceram procedentes da África Equatorial.
O primeiro grupo que chegou ao país incluía os makas, os duales e os ndjenas e, mais tarde, no século XIX os fang e os bebe. Os de língua sudanesa são integrados pelos sao, os fula e os kanuri. Os habitantes mais antigos são os pigmeus (mandinga e banguelli).
Esses grupos originários se desenvolveram no clima quente e húmido que caracteriza o país, com sua ampla rede hidrográfica formada por rios navegáveis que desembocam no Golfo d Biafra, numerosos lagos entre os quais se destaca o Grande Ende, situado na cratera de um vulcão, com 208 metros de profundidade. Acrescente-se majestosos bosques.
Portugueses à vista
Essa conjunção de povos e formidável natureza foi o que viram os primeiros europeus que chegaram a Camarões, os navegantes portugueses, que em 1472 exploraram as costas do que é hoje territórios de Angola, Gabão e Congo. Os lusitanos iniciaram o comercio de escravos, enviados a sua colônia do outro lado do Atlântico, o Brasil. Porém tão promissor comércio, que incluía também o marfim e o azeita de palma, atraiu primeiro os ingleses, logo os franceses e posteriormente os alemães.
Britânicos e gauleses participaram ativamente no tráfico de escravos. Inglaterra instituiu no Caribe um empório colonial com a posse de várias ilhas. França também se apoderou de ilhas na mesma região.
Entre as metrópoles se desencadeou uma férrea luta pelo domínio de Camarões. A guerra de rapinagem entre as potencias europeias culminou com a posse do território por parte da Alemanha em 1884 que, em princípio, durante o governo do chanceler Otto von Bismarck, mostrara-se relutante em conquistas coloniais em terras africanas.
Oposição à escravidão e a colonização
Os povos camaronenses ofereceram tenaz resistência aos estrangeiros caçadores de escravos. Ingleses, franceses, espanhóis, portugueses e outros atuavam brutalmente utilizando nessas condições dos métodos mais ferozes.
Para os alemães não foi nada fácil ocupar a totalidade do território de Camarões devido a oposição dos nativos. Foi necessário utilizara frota de guerra germânica e inglesa para bombardear as costas com o propósito de manter serrarias e depósitos de madeiras onde a maior parte dos trabalhadores africanos morriam de fome como consequência das condições inumanas de trabalho.
Para conquistar o interior do país foram necessárias 60 expedições alemãs, até que finalmente conseguiram submete-los e firmar um tratado com o sultão Abadama. O acordo, como todos os estabelecidos entre colonialistas e os africanos foi sistematicamente violado.
A derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi igualmente desastrosa para o destino das possessões no continente africano: perderam todas as colônias Em 1920 Camarões foi dividido e outorgado sob mandato da Sociedade de Nações, antecessora da atual Nações Unidas.
O ocidente foi entregue a Inglaterra e a parte oriental a França que ficou com 75% do território. Essas duas nações rivais já tinham se apoderado da maior parte do continente. Em menor grão tenham territórios Portugal, Bélgica, Itália, Espanha, esta com uma única colônia, a Guiné Equatorial.
Em 1946 os destinos de Camarões foram novamente para mãos de um organismo internacional: a tutela da nascente Organização das Nações Unidas depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O fim da grande guerra mundial significou o despertar do nacionalismo africano e das ânsias de liberdade dos povos.
Depois de uma prolongada luta política, as duas partes de Camarões, o ocidente inglês e o oriente francês se uniram depois da independência para formar, em 1961, a República Unida de Camarões. Quatro séculos de escravidão e colonialismo chegaram ao fim.
*De Prensa Latina para Diálogos do Sul