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Ajudei a violar repúblicas na América Central em favor de Wall Street, diz major dos EUA

O culto ao poder militar deste país é algo praticado desde sempre por presidentes e líderes políticos de ambos os partidos
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“Dediquei 33 anos e quatro meses ao serviço militar ativo como membro da força militar mais ágil deste país, os fuzileiros navais. Servi em postos comissionados desde segundo tenente a major general. E durante esse período dediquei a maior parte do meu tempo a ser um espancador de alta categoria para o grande empresariado, para Wall Street e para os banqueiros.

Em suma, fui um estafador, um gângster para o capitalismo… Ajudei a fazer seguro o México, especialmente Tampico, para os interesses petroleiros estadunidenses, em 1914. Ajudei a fazer do Haiti e Cuba um lugar decente onde os meninos do National City Bank puderam arrecadar rendas. Ajudei na violação de meia dúzia de repúblicas centro-americanas para benefício de Wall Street… Ajudei a purificar a Nicarágua para a casa bancária internacional de Brown Brothers em 1909-1912. Trouxe à luz a República Dominicana para os interesses açucareiros estadunidenses, em 1916. Na China, ajudei a assegurar que a Standard Oi pudesse avançar sem ser incomodada. 

“Durante esses anos tinha, como diziam os amigos dos quartos do fundo, um negócio pra lá de sombrio. Olhando para trás, creio que teria podido oferecer algumas pistas a Al Capone. O máximo que ele conseguiu foi operar seu negócio em três distritos. Eu operei em três continentes”. 

O major general Smedley Butler, autor destas palavras, em 1935, foi em seu tempo o militar mais condecorado dos Estados Unidos, inclusive com a Medalha de Honra por seu papel na batalha de ocupação de Veracruz em 22 de abril de 1924. Muitos conhecem essas citações, mas sempre vale recordá-las como parte da longa história de dissidência nos Estados Unidos contra suas aventuras bélicas.

O culto ao poder militar deste país é algo praticado desde sempre por presidentes e líderes políticos de ambos os partidos

La Jornada
Algumas das operações bélicas são realizadas agora de maneira mais "discreta"

Atualmente, o gasto em “defesa” – aprovado de maneira bipartidária (em certos rubros como esse existe um consenso apesar da suposta polarização política no país) – ascende a aproximadamente 740 bilhões de dólares, mais que o orçamento militar combinado dos próximos 10 países com os maiores orçamentos militares. Isso é, segundo cálculos do Friends Committee on National Legislation, mais de 2 bilhões de dólares por dia, mais de um milhão de dólares por minuto.

Segundo cifras recentes do projeto Custos de Guerra da Universidade Brown, os Estados Unidos gastaram mais 6,4 trilhões em guerras e operações militares no Afeganistão, Paquistão e Iraque desde 2001, onde se registraram pelo menos 800 mil mortes, a maioria de civis.

Algumas das operações bélicas são realizadas agora de maneira mais “discreta”, por exemplo, o governo de Barack Obama realizou pelo menos 500 ataques por drones, assassinando mais de 4 pessoas.  

O culto ao poder militar deste país é algo praticado por presidentes e líderes políticos de ambos os partidos. O novo governo de Biden declarou que entre seus objetivos está o de restaurar a liderança estadunidense no mundo. Biden formulou uma consigna de que os Estados Unidos serão líderes não apenas através do “exemplo de nosso poderio, mas sim pelo poder de nosso exemplo”.  

Isto enquanto a violência política armada, além da criminosa, dentro do “país exemplar” chegou a tais níveis que até foi efetuada uma intentona de golpe de estado, e o centro de sua capital está sob proteção de milhares de soldados armados da Guarda Nacional, não para enfrentar algum inimigo externo, mas sim o “terrorismo doméstico” de seus próprios cidadãos (muitos deles veteranos militares).  

A violência dentro do país não pode ser desvinculada de sua história de violência no nível internacional. Vale recordar as palavras do Reverendo Martin Luther King, que em 1967 declarou que não podia falar mais sobre a violência que se sofria nas cidades estadunidenses sem abordar “o maior fornecedor de violência no mundo hoje em dia: meu próprio governo”. 

Bruce Springsteen: War.


George Carlin: Nos gusta la guerra:

David Brooks é correspondente de La Jornada em Nova York.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

   

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David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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