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Alvo de sanções há anos, Venezuela se fortalece e confronta nova ofensiva dos EUA

Segundo Maduro, planos extremistas continuam ativos e são apoiados pela Casa Branca, que se nega a aceitar a institucionalidade venezuelana
Carlos Fazio
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Depois da revelação de cinco planos golpistas detectados e desarticulados nos últimos meses pelo Ministério Público e pelos corpos de Inteligência venezuelanos − que envolvem militares e setores da extrema-direita local recrutados pela Agência Central de Inteligência (CIA) e pela Administração de Controle de Drogas (DEA) −, e com a desculpa da inabilitação política de María Corina Machado (a nova Guaidó de Washington para a eleição presidencial da Venezuela neste ano de 2024), a Casa Branca voltou a brandir sua tradicional política de ingerência, anunciando a retomada de medidas coercitivas ilegais e ilegítimas como pressão contra o governo de Nicolás Maduro.

Em 26 de janeiro, o Tribunal Superior de Justiça venezuelano ratificou a inabilitação para ocupar cargos públicos por 15 anos de Machado, fundadora do partido conservador Vente Venezuela, imposta pela Controladoria Geral da República em setembro de 2021 por estar envolvida na trama de corrupção orquestrada pelo usurpador Juan Guaidó (o presidente fake auspiciado pela administração de Donald Trump), que propiciou o bloqueio criminoso dos EUA à República Bolivariana assim como o despojamento milionário de empresas e riquezas do Estado venezuelano (como Citgo Holding Inc., Citgo Petroleum Corporation e Manómeros Colombo Venezolanos, SA), com o sequestro e roubo de 31 toneladas de ouro venezuelano. Machado, com acesso direto à Sala Oval de Biden desde o governo de George W. Bush, defendeu a invasão estrangeira em seu país mediante a invocação do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) e da polêmica doutrina intervencionista Responsabilidade de Proteger (R2P).

Em 29 de janeiro, amparando-se na interpretação de Washington dos Acordos de Barbados, assinados em outubro último pelo governo de Maduro e a oposição venezuelana, o Bureau de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC, na sigla em inglês) do Departamento do Tesouro − principal ferramenta de guerra por meios não militares dos EUA −, informou que desde 13 de fevereiro estaria revogada a licença que permitia a estadunidenses estabelecer relações comerciais com a mineradora de ouro estatal Minerven. A empresa aurífera foi agregada à lista de proibida da OFAC em 2019 e seus ativos bloqueados, mas em outubro de 2023 Washington emitiu uma isenção de seis meses desta sanção, como parte da agenda eleitoral subscrita por Maduro e a Plataforma Unitária da oposição em Bridgetown (da que Machado não faz parte).

Um dia depois, o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, fixou como limite 18 de abril para retomar as sanções contra os setores de petróleo e gás, e a sede diplomática dos EUA para a Venezuela (radicada em Bogotá, Colômbia), replicou na rede X o ultimatum do porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, almirante John Kirby: as autoridades venezuelanas tinham “até abril” para “permitir aos partidos e candidatos da oposição participar adequadamente”. Ou seja, em clara violação do direito internacional, a administração Biden voltou à velha práxis bipartista, que pretende manter como refém político o Estado venezuelano mediante o esquema de sanções coercitivas, um mecanismo para aplicação de castigos coletivos à população venezuelana.

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Segundo Maduro, planos extremistas continuam ativos e são apoiados pela Casa Branca, que se nega a aceitar a institucionalidade venezuelana

Foto: Reprodução / Nicolás Maduro / X
Trama conspiracionista é impulsionada pela CIA, a DEA e o Pentágono

Diante do que considerou uma deliberada tentativa de golpear a indústria venezuelana de hidrocarbonetos, a vice-presidenta Delcy Rodríguez replicou pelo X que se os EUA intensificassem a agressão econômica contra seu país, a partir de 13 de fevereiro ficariam revogados de maneira imediata os voos de repatriação de migrantes venezuelanos (o que poderia prejudicar as pretensões de reeleição de Joe Biden) e seriam adotadas outras contramedidas.

Por sua vez, o presidente do Parlamento, Jorge Rodríguez, questionou o prazo de 18 de abril dado pelos EUA para reimpor sanções, e retrucou: “Economizem o lapso, ianques de merda”. Por sua vez, o presidente Maduro afirmou que, apesar das sanções impostas pelos EUA e a União Europeia, Venezuela aprendeu a enfrentar todo tipo de dificuldades, lembrando que a extrema-direita vernácula, referenciada na “oligarquia dos sobrenomes” − como “os Borges, López, Machado, Ledezma e Capriles”−, sempre quiz “incendiar o país” promovendo “sanções e bloqueios; até tentaram criar um Estado paralelo” que foi derrotado e terminou “no lixo da história”. No entanto, advertiu que os planos extremistas continuam ativos e são apoiados pelos EUA, que se negam a aceitar a institucionalidade e as decisões do Estado venezuelano.

A escalada de tensões começou em 22 de janeiro, quando o procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, anunciou a detenção de 32 pessoas (entre elas 18 militares), supostamente envolvidas em cinco conspirações de terrorismo e planos para assassinar o presidente Maduro, o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, e o governador de Táchira, Freddy Bernal. O próprio Maduro disse que das conspirações desmanteladas tinham participado militares trazidos dos EUA, Peru, Colômbia e oficiais venezuelanos cooptados em 2020 e 2021 pela CIA, que, com a DEA e agentes de inteligência do Exército colombiano, tentaram desestabilizar a fronteira colombo-venezuelana.

O subsecretário de Estado dos EUA, Brian Nichols, disse que estas acusações não tinham fundamento, e Jorge Rodríguez lhe respondeu que Washington costuma “negar os fatos sem sequer ater-se à evidência”. E acrescentou: “Devemos esperar, como no Chile, que sejam desclassificados os documentos?” (em referência ao golpe de Estado contra Salvador Allende).

Neste contexto, o ministro da Defesa, Padrino, denunciou que a empresa petroleira estadunidense ExxonMobil financia as tentativas de magnicídio contra Maduro, visando apoderar-se do território de Esequibo, em disputa com a Guiana. Em novembro passado, Maduro culpou a ExxonMobil e o Comando Sul do Pentágono de semear um conflito militar em Esequibo para “saquear os recursos energéticos”. Em sua pugna geopolítica com a aliança estratégica China-Rússia, para Washington, a Venezuela, rica em hidrocarbonetos e não alinhada aos EUA, é vital. Responde a isso a trama conspiracionista impulsionada pela CIA, a DEA e o Pentágono contra a Venezuela?

Carlos Fazio | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Ana Corbisier


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