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América Latina pode ser grande aliada na onda progressista e antifascista dos EUA

Forças no Norte e no Sul estão mais distantes e separadas do que em qualquer momento durante as últimas quatro ou cinco décadas
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Na disputa pelo futuro imediato dos Estados Unidos, Trump e suas fileiras com tintas fascistas parecem manter como refém o debate político a julgar pelas manchetes dos principais meios de notícias. Mas, o que não se menciona tanto é que, ao mesmo tempo, o mosaico progressista de forças democratizadoras estadunidenses estão em seu momento mais forte em décadas.

Uma quarta parte dos deputados da Câmara Baixa do Congresso estão no chamado Caucus Progressista – algo nem sonhado há uns poucos anos. Alguns dos movimentos, sobretudo os renovados pelos jovens – como Black Lives Matter (e sua parte mais radical, Movement for Black Lives) – o movimento ambientalista – sobretudo em torno à mudança climática – e na batalha por controlar as armas de fogo – como o movimento pelos direitos dos imigrantes – chegaram a ser maiores e amplos que seu antecessores.

Movimentos que se definem como impulsores de mudança política como o Democratic Socialists of America, o Working Families Party e outros, também têm dimensões sem precedentes. Ainda mais, os que dizem favorecer o socialismo sobre o capitalismo nunca foram tantos, incluindo uma maioria dos jovens. 

Nos últimos meses, foram vistos milagres em diversas lutas: a nova vitalidade do movimento trabalhista se expressa em mais de 220 lojas da Starbucks – nas quais, em poucos meses, funcionários votaram para sindicalizarem-se – nas novas lutas na Amazon e em diversos setores do que se chama de “economia gig”.

Até mesmo aproximadamente 30 trabalhadoras em um “clube de cavalheiros” em Los Angeles estão tentando converter-se no primeiro clube de strip-tease sindicalizado nos Estados Unidos.

Lutas contra a concentração de riqueza

Em diferentes pontos do país, se intensificam as lutas contra a concentração de riqueza e as políticas neoliberais que aceleraram a desigualdade econômica a níveis sem precedentes em décadas. 

São essas forças progressistas os aliados naturais de suas contrapartes na América Latina e que, afinal de contas, estão lutando contra essencialmente o mesmo inimigo definido como os conservadores, o fascismo, os promotores do neoliberalismo e outros mais. Sem aliança e solidariedade internacional, não haverá futuro. 

Futuro da humanidade é importante demais para ficar refém de países como os EUA

Diante disso, o que mais assombra nessa conjuntura é que parece que estas forças no Norte e no Sul estão mais distantes e separadas do que em qualquer momento durante as últimas quatro ou cinco décadas.

Em parte, isso se pode explicar pelo surgimento de um nacionalismo às vezes bastante superficial que simplifica as relações internacionais a uma só entre cúpulas e não povos.

Forças no Norte e no Sul estão mais distantes e separadas do que em qualquer momento durante as últimas quatro ou cinco décadas

Creative Commons

Sem alianças e solidariedade internacional entre as forças democratizadoras, não haverá, em última análise, futuro para ninguém

Nacionalismo dos países do Sul

Para os países do sul, as razões para promover o nacionalismo são óbvias, dada a história que todos conhecemos, e o contexto é defesa ou escudo contra o poder estadunidense, europeu ou suas empresas transnacionais.

Mas ao mesmo tempo, o “nacionalismo” de governos ou partidos progressistas anti-imperialistas também pode distorcer ou apagar um dos princípios mais sagrados da esquerda: o internacionalismo. 

O historiador Howard Zinn, autor de “A Outra História dos Estados Unidos”, entre outros livros, colaborador do La Jornada e cujo centenário de seu nascimento foi neste 24 de agosto, insistia em resgatar a história de resistência, rebelião e solidariedade dentro e fora deste país, e é claro que foi um feroz opositor do poder imperial de seu país. Em 2005, cinco anos antes de sua morte, escreveu no La Jornada: 

“Não é o nacionalismo – essa devoção a uma bandeira, um hino e uma fronteira, tão feroz que engendra um assassinato massivo – um dos grandes males de nosso tempo igual ao racismo e ao ódio religioso? Estas formas de pensamento cultivadas, alimentadas e doutrinadas desde a infância, foram sempre úteis para aqueles que estão no poder, e mortais para aqueles que não estão”. 

A tarefa é como definir nacionalismo. Sem alianças e solidariedade internacional entre as forças democratizadoras do Norte e do Sul, não haverá, em última análise, futuro para ninguém.

David Brooks, correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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