Muito se falou no Brasil sobre as eleições parlamentares na Colômbia. O destaque se deu pelo fato de a prefeita eleita na cidade de Bogotá, capital colombiana, Cláudia López, ser abertamente lésbica em um país onde os direitos da comunidade LGBTQI+ não estão garantidos.
Mas, outro fato relevante e que também merece destaque foi a derrota do caudilho Álvaro Uribe no pleito, como afirma a jornalista colombiana Natalia Andrea Mera Sandoval, em entrevista à ComunicaSul* / Diálogos do Sul: “foram eleições muito singulares, nas quais a derrota do uribismo foi o mais importante para o país”.
O político de extrema-direita foi presidente colombiano entre 2002 e 2010, mas nunca deixou de dar as cartas no país. Após sua saída do posto, Uribe elegeu seu sucessor, Juan Manuel Santos (2010-2018) — que acabou rompendo com ele — e também o atual mandatário, Iván Duque.
"¡Por fin ganamos!", publicou Cláudia López em suas redes sociais
“Perdemos. Reconheço a derrota com humildade. A luta pela democracia não tem fim”, afirmou o ex-mandatário ao justificar a perda do comando da cidade de Medellin, principal reduto de seu partido, Centro Democrático.
Perdimos, reconozco la derrota con humildad. La lucha por la democracia no tiene fin.
— Álvaro Uribe Vélez (@AlvaroUribeVel) October 27, 2019
Uma das explicações para a derrota do uribismo é a má administração de Duque. Um dos principais complicadores de sua gestão é o ponto de inflexão nos acordos de paz assinados com a então guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), hoje convertida em partido político com a mesma sigla, Força Alternativa Revolucionária do Comum. Diante do não cumprimento dos acordos, uma parte dos guerrilheiros decidiu retomar a luta armada.
O descontentamento popular também é crescente. Ainda é cedo para medir os impactos e se o movimento deve se espalhar pelo país, mas nesta quinta-feira (31) houve uma massiva marcha estudantil em Medellin contra as reformas trabalhista e previdenciária e para reivindicar o cumprimento dos acordos feitos pelo governo nacional com os universitários no ano passado.
Expectativas
É neste cenário que se insere a vitória de López. De acordo com Mera, “há uma grande expectativa sobre a gestão que ela poderá desenvolver”.
Mera observa que o partido de López não é necessariamente de esquerda e destaca o importante papel que López teve na ONU nos seis anos em que foi consultora para um projeto de moradia em Ciudad Bolívar, em Bogotá. Ela “ganhou a confiança do povo por estar a par da agenda política e dos interesses da capital”.
A política, filiada ao Partido Verde, construiu uma aliança com o Polo Democrático, agrupação de esquerda no país e tem em sua trajetória política feitos importantes como ter “denunciado crimes da parapolítica [vinculação de paramilitares na política colombiana] enquanto estava no Senado”.
Uribe é investigado no país por seus supostos vínculos paramilitares (no Brasil chamados de milicianos). Inclusive, o ex-paramilitar Pablo Hernán Sierra afirmou recentemente que “todos os chefes das autodefesas [paramilitares] sabem que Álvaro Uribe foi nossa referência política, ele nos entregou o fusil e depois nos tirou”. A declaração foi realizada durante um depoimento no marco de uma investigação contra o caudilho.
* Vanessa Martina Silva é editora da Diálogos do Sul e integra o Coletivo de Comunicação Colaborativa ComunicaSul, que está cobrindo as eleições na Bolívia, Argentina e Uruguai com o apoio das seguintes entidades: Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé; Hora do Povo; Diálogos do Sul; SaibaMais; 6 três comunicação; Jaya Dharma Audiovisual; Fundação Perseu; Abramo; Fundação Mauricio Grabois; CTB; CUT; Adurn-Sindicato; Apeoesp; Contee; CNTE; Sinasefe-Natal; Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região; Sindsep-SP e Sinpro MG.
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