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Colômbia: FARC exige fim do extermínio de ex guerrilheiros, indígenas e líderes sociais

Apesar do silêncio e tolerância de Duque, a FARC ratificou sua "indeclinável decisão de continuar trabalhando pela paz e a reconciliação nacional"
Redação Prensa Latina
Prensa Latina
Bogotá

Tradução:

O partido colombiano Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC) exigiu hoje o fim do que considera extermínio contra ex-guerrilheiros em processo de reincorporação à vida civil.

A exigência foi externada pela direção ao denunciar o assassinato de outro ex-combatente em um contexto marcado por atos de violência que também têm entre suas vítimas frequentes líderes sociais, indígenas e defensores de direitos humanos.

Segundo a denúncia, ontem à noite foi assassinado o ex-guerrilheiro Edwin de Jesús Carrascal, na vereda (tipo de subdivisão territorial dos diferentes municípios do país) San Antonio de Coloso, Sucre (departamento do norte), informou a FARC em sua conta no Twitter.

Dois sujeitos armados bateram na porta de sua casa e dispararam contra ele. Aqui compram-se votos, perseguem e matam a oposição e fica tudo por isso mesmo. #DuquePareElExterminio, disse.

Em tal contexto, a FARC denunciou recentemente o recrudescimento da violência contra ex-guerrilheiros, considerando que quase 190 foram assassinados desde a assinatura em 2016 do Acordo de Paz negociado em Havana pelo Estado e a ex-guerrilha FARC-EP.

Também saudou e reconheceu a vontade expressa recentemente pelo Congresso da República, em suas comissões de paz, frente à gravidade da situação de segurança dos ex-guerrilheiros em processo de reincorporação e suas famílias, que se manifesta na criação da Comissão de Alto Nível, para acompanhar esta situação.

Solicitou ainda a essa Comissão, “que escute em reunião formal uma delegação de nosso partido a fim de transmitir-lhes nossas preocupações”.

Não queremos deixar passar esta oportunidade sem mencionar a gravidade do que vem ocorrendo no município de Algeciras (sul), onde, assim como no município de Ituango (noroeste), nossos companheiros e suas famílias não encontraram garantias para sua permanência no território, acrescentou.

O Acordo de Paz é um acordo de Estado, razão pela qual consideramos da maior importância que outros poderes se ocupem de uma situação que claramente põem em risco a consolidação da paz estável e duradoura para toda a Colômbia, propósito fundamental que deve contar com o apoio de todos os colombianos e das instituições, afirmou.

Além disso, o partido ratificou “a indeclinável decisão de continuar trabalhando pela paz e a reconciliação nacional”.

Apesar do silêncio e tolerância de Duque, a FARC ratificou sua "indeclinável decisão de continuar trabalhando pela paz e a reconciliação nacional"

Prensa Latina
#DuquePareElExterminio

Responsabilidade do Estado

Luz Marina Hache, integrante do Movimento Nacional de Vítimas de Crimes de Estado (Movice) na Colômbia, apontou hoje o desconhecimento do governo sobre sua responsabilidade como autor desses delitos.

“O Estado tem uma Constituição segundo a qual tem obrigação de velar pela vida, honra e bens de seus cidadãos” disse, durante uma conversa com Prensa Latina.

“Não fez isso com o povo, e sim com pessoas ou interesses econômicos, não com a maioria do povo, nem vai fazer, do jeito que vamos. Ou seja, que tem uma responsabilidade”, afirmou Hache, vítima de desaparecimento forçado há 33 anos.

Em sua opinião, “é por isso que temos neste país assassinatos seletivos, massacres, desaparecimentos forçados, deslocamentos, ameaças, os mal chamados falsos positivos que não são mais que execuções extrajudiciais, montagens judiciais, sempre com quem pensa diferente do Estado”.

“O descumprimento destas obrigações vem de mais de 60 anos. No Estado colombiano se arraigou a teoria do inimigo interno. Essa teoria, que vem da Escola das Américas dos Estados Unidos, desempenhou um papel importante nos comandos do Exército Nacional que decidiram transmiti-la de uma a outra geração”, afirmou.

“Segundo essa teoria não é preciso buscar o inimigo fora e sim internamente. O Estado dedicou-se a perseguir quem pensa e age diferentemente na defesa de interesses que para eles são supremos”, observou.

Acrescentou que “o Estado colombiano não cumpre com suas responsabilidades de garantir o direito à vida, à liberdade, à saúde, à educação, ao trabalho, à moradia digna. Neste Movimento – criado há 15 anos – reivindicamos o direito à vida e à liberdade que as pessoas têm”, reforçou.

Hache afirmou que quando desapareceram com seu esposo “desestruturaram minha vida porque eu tinha quatro filhos, ele de uma ou outra forma era quem me apoiava economicamente, ideologicamente também porque foi uma pessoa que sempre me disse: você pode, eu não vou cortar suas asas”.

Ou seja, “quando desapareceram com ele, comecei a sentir que minha obrigação era reivindicar seu nome”, explicou.

Em um contexto marcado por assassinatos de ex-guerrilheiros, defensores de direitos humanos e líderes sociais, Hache referiu-se ao “silêncio do presidente (Iván) Duque sobre a morte das pessoas”.

“Neste momento mantêm todo o mundo falando do coronavírus que é, creio eu, uma cortina de fumaça para que não se continue desenterrando coisas”, acrescentou.

“Quiseram nos distrair com isso, e essa tática não é nova. O Estado colombiano sempre mantém a opinião pública atrás de cortinas de fumaça para que possam fazer o que mais lhes convém”, finalizou.

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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