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Assassinatos e violência aumentam na Colômbia em meio à pandemia de Covid-19

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz denunciou que foram assassinados 14 líderes sociais desde 6 de março, quando se confirmou o primeiro caso de Covid-19 no país
Masiel Fernández Bolaños
Prensa Latina
Bogotá

Tradução:

A Colômbia acrescenta outro problema, também mortal, à preocupação gerada pela pandemia da Covid-19: a persistente violência que golpeia principalmente líderes sociais, defensores de direitos humanos, ex guerrilheiros, indígenas e afrodescendentes.

Nesse contexto, várias vozes mencionaram a persistente violência em meio à crise sanitária provocada pela pandemia de Covid-19.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz denunciou que foram assassinados 14 líderes sociais desde 6 de março último, dia em que se confirmou o primeiro caso de Covid-19 no país.

A Rede Nacional de Iniciativas Cidadãs pela Paz e contra a Guerra afirmou que continuam as ameaças e o genocídio de líderes sociais. Líderes sociais afirmam que continuam matando-os enquanto a atenção se concentra no coronavírus, afirmou.

Incrível que a ministra do Interior (Alicia Arango) diga que, no correr deste ano, apenas tenham sido assassinados oito líderes sociais, quando a ONU fala em 64, disse Diana Sánchez, defensora de direitos humanos.

Por sua vez, segundo o senador Roy Barreras, presidente da Comissão de Paz do Senado, “há números diferentes sobre assassinatos, mas todos coincidem em que assassinatos de ex combatentes e líderes sociais continuam”.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz denunciou que foram assassinados 14 líderes sociais desde 6 de março, quando se confirmou o primeiro caso de Covid-19 no país

Prensa Latina
A ONU pronunciou-se pela adoção de medidas na Colômbia para pôr fim aos assassinatos

Enfrentamentos entre grupos armados

Indígenas colombianos denunciam com frequência enfrentamentos entre grupos armados ilegais no departamento de Chocó (oeste), situação que atenta contra a vida das comunidades.

Neste sentido, afirmaram que esses choques colocam “nossa população embora como escudo humano na linha do fogo cruzado, violando com esta ação os direitos humanos e o direito internacional humanitário”.

Relataram que tudo isso os leva a um total confinamento, devido à proibição por parte dos grupos armados de deslocamento para localidades em que possam resguardar-se das balas, sendo obrigados a resistir em meio ao confronto entre aqueles grupos.

Os botes da comunidade foram imobilizados por membros destes grupos. Alguns habitantes fazem longas caminhadas pelas montanhas, levando seus filhos pequenos nos braços, idosos enfermos e crianças, denunciaram.

Por isso, fizeram um apelo de emergência a todos os organismos humanitários, pleiteando “o respeito à vida, em momentos críticos para as comunidades afro e indígenas que se complicam ainda mais com o transbordamento, há dias, dos rios Pogue e Chicué”.

Também disseram que a situação difícil pela qual passa a população embora os obrigou a abandonar seus lares e a refugiar-se em meio à densidade da selva, apesar de que queriam cumprir em seus abrigos o isolamento preventivo obrigatório decretado pelo governo como medida de contenção ante a pandemia de Covid-19.

Desde semanas anteriores, as diversas organizações com jurisdição neste território ancestral, vêm denunciando o acionar de grupos armados ilegais que atentam contra a vida de nossas comunidades e cujos ataques se tornam cada dia mais constantes, transformando os abrigos em um território hostil, afirmaram.

A ONU pede fim de assassinatos

No final de março último, a ONU pronunciou-se pela adoção de medidas na Colômbia para pôr fim aos assassinatos de líderes sociais, defensores dos direitos humanos e ex-combatentes.

Assim se pronunciou o secretário geral das Nações Unidas, António Guterres, em seu mais recente Informe trimestral ao Conselho de Segurança sobre a Missão de Verificação da ONU neste país, que cobre de 27 de dezembro de 2019 a 26 de março último.

Guterres indicou como a principal prioridade para 2020 a adoção de todas as medidas necessárias para pôr fim à tragédia dos assassinatos de líderes sociais, defensores dos direitos humanos e ex combatentes em processo de reincorporação à vida civil.

Durante o período do Informe esclareceu-se que a Missão verificou 16 assassinatos de ex guerrilheiros, com o que a cifra total ascende a 190 desde a assinatura em 2016 do Acordo de Paz entre o Estado e a outrora Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP).

Aproximadamente 73% do total de assassinatos de ex combatentes ocorreram em zonas rurais caracterizadas por uma presença limitada do Estado, pobreza, economias ilícitas e presença de organizações criminosas, esclareceu.

O informe também destacou que, de 1º de janeiro a 24 de março deste ano, o Escritório da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos recebeu 56 denúncias de assassinatos de líderes sociais e defensores de direitos humanos, seis dos quais foram verificados.

O secretário geral fez um apelo para que se fortaleçam os mecanismos previstos no Acordo para garantir a segurança e a proteção dessas pessoas e de suas comunidades.

Como outra prioridade para este ano, observou que devem ser fortalecidas as bases do processo de reincorporação a mais longo prazo, e assegurar que os benefícios da reincorporação cheguem a todos os ex combatentes.

Guterres mencionou a importância de que as comunidades, e em especial as vítimas, estejam no centro de todos os esforços de consolidação da paz.

“O êxito a longo prazo do Acordo de Paz será determinado em última instância pela medida em que as comunidades que sofreram décadas de violência possam desfrutar dos benefícios da paz”, disse.

Masiel Fernández Bolaños, Correspondente de Prensa Latina na Colômbia.

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Masiel Fernández Bolaños

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