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Criada em 1954, Federação Sindical Mundial continua sendo farol para movimento operário

Na época de sua criação, a fundação da FSM foi uma grande vitória do proletariado, e um êxito dos partidários da unidade no movimento operário internacional
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

1945 foi, talvez, o ano mais importante do século XX. Maio marcou o fim da Segunda Guerra Mundial e a derrota do fascismo. A Alemanha Nazista foi quebrada pela ofensiva vigorosa do Exército Soviético que chegou a Berlim e livrou o mundo da Besta Parda. Pouco depois, em setembro, nasceu a Organização das Nações Unidas. Sobre a base da antiga Liga das Nações, que naufragara pelo oportunismo dos políticos ocidentais e por sua incapacidade para deter a garra assassina do fascismo. 

Para os trabalhadores, no entanto, a data mais relevante depois do 9 de maio ocorreu em 3 de outubro, quando em Paris ficou formalmente constituída a Federação Sindical Mundial, criada pela vontade dos mais poderosos sindicatos da Europa Ocidental e da União Soviética. Na época, a fundação da FSM foi uma grande vitória do proletariado, e um êxito dos partidários da unidade no movimento operário internacional. 

Ela foi fundada pela vontade dos segmentos mais avançados do movimento operário, congregados na capital francesa em setembro de 1945, por iniciativa da corrente revolucionária que havia adquirido particular autoridade e força, coroando seus objetivos no Primeiro Congresso Mundial dos Sindicatos, reunido umas semanas antes. Nesse evento, segundo deixam constância os historiadores, se encontraram sindicatos de 56 países, que representavam um total de 67 milhões de filiados em todos os continente. 

Para que fosse possível forjar este vigoroso processo social, inédito nas história dos povos, desempenharam um papel decisivo os Sindicatos Soviéticos, o TUC Britânico e a Confederação Geral de Trabalhadores, a CGT da França, uma velha estrutura sindical fundada por Marcel Cachin nos anos vinte.  

Foram os sindicatos ingleses, em realidade, os que tiveram a primeira iniciativa na matéria. Já em 1941, quando choviam bombas germanas sobre Londres, o TUC Britânico formulou um angustioso apelo à luta contra o nazi fascismo, e se dirigiu ao Conselho Central dos Sindicatos Soviéticos para convidá-los a cooperar na luta contra os efeitos nocivos da guerra, expressados na ofensiva alemã contra os povos. Foi esse o ponto de partida para o entendimento que se concretizaria quatro anos mais tarde. A formação de um Comitê Anglo-Soviético deu forma e conteúdo a essa cooperação e se converteu na ferramenta de solidariedade que era requerida pelos trabalhadores nesse período da história. 

A FSM viu sua ação complicada pelo início da guerra fria, no início de 1947. A morte de Roosevelt, antes do final do conflito, e a subida de Truman à Casa Branca, marcou um distanciamento entre os Países Aliados vencedores do Colapso mundial anterior.

A Guerra Fria, o discurso de Churchill em Fulton e “a Cortina de ferro” que saiu dele, marcaram um rumo diferente para os povos. O plano Marshall, financiou a divisão dos sindicatos e o nascimento da Agência Central de Inteligência – a CIA – consumou esse propósito. Seu agente Irving Brown –ricamente financiado por Washington- completou o trabalho.

Na França e na Itália surgiram sindicatos paralelos à organização classista dos trabalhadores, e nos Estados Unidos foi alterado o perfil da classe operária, com o surgimento de correntes de colaboração de classes estimuladas pelas Grandes Corporações.

A Federação Sindical Mundial continuou na briga em condições adversas, mas identificando-se com as bandeiras mais avançadas da humanidade. A luta pela paz desempenhou um papel decisivo no esforço de incrementar vontades. A ela somou-se o apoio resoluto à luta nacional libertadora travada pelo povos da Ásia, África e América Latina; e ao combate pela defesa dos direitos e conquistas dos trabalhadores nos países capitalistas mais desenvolvidos.

O apoio ao Vietnã, nos anos duros da guerra derivada da agressão imperialista; o respaldo ativo à Revolução Cubana; a solidariedade com os povos da América afetados pelo fascismo no Brasil, Uruguai, Chile e Argentina; e a identificação com a causa de Angola, Moçambique, África do Sul e outros povos desse continente, serviu para arredondar uma linha de ação que contou com as organizações classistas de todos os países na primeira linha.

O papel dos Sindicatos Soviéticos foi paradigmático em todo este período da história. O processo de formação de quadros sindicais e o apoio significativo às centrais sindicais que operavam em distintos continentes e países marcou a tônica do período.

No Peru, a CGTP reconstituída em junho de 1968 desempenhou um papel decisivo na afirmação da presença da FSM, que se manteve até hoje. O IV Congresso Nacional Sindical, celebrado em março de 1976 foi, nessa etapa, o ponto mais alto da central internacional em nosso país. O então Secretário Geral da FSM, o uruguaio Enrique Pastorino instalou o Congresso que aprovaria as Teses da Classe Operária que conservam sua atualidade até hoje. 

A FSM continua sendo um farol de luz para o movimento operário e para os povos de todos os continentes e países. Honra à sua história e às suas lutas!

*Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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