A gravidez em meninas e adolescentes – entre 9 e 18 anos – cujas cifras alarmantes se mantêm em alta em todos os nossos países, constituem uma das mais graves patologias sociais e a segunda causa de morte nessa faixa etária. Dada a visão estreita e patriarcal daqueles que estabelecem a pertinência das políticas públicas, assim como de sociedades cujos marcos de valor manifestam uma forte influência de doutrinas religiosas, este setor na população é um dos mais desatendidos e, portanto, carente de estruturas políticas para fazer valer seus direitos. Uma das principais causas da vulnerabilidade na qual se desenvolve a infância é a evidência da absoluta autoridade dos adultos em seu entorno e, consequentemente, a total impotência da infância.
A imensa maioria de mulheres adultas – se não a totalidade – ainda que muitas tentem negá-lo, sofremos o impacto de um sistema cujas normas marginalizam meninas e mulheres como se fosse uma lei da natureza. Os assédios e agressões sexuais, tanto em casa como na vizinhança, nas ruas ou na escola, têm sido uma constante de esmagadora incidência ao ponto de se transformarem em uma espécie de maldição inevitável para essa metade da população. De tais agressões, uma das mais graves consequências é a gravidez em uma etapa precoce do desenvolvimento.
Paula Huven/Folha Imagem
Onde estão a justiça, os sistemas de educação e saúde, onde estão suas famílias?
As instituições encarregadas de salvaguardar a segurança desse importante segmento, no entanto, têm sido incapazes de protegê-lo; seja por falta de políticas públicas ou, simplesmente, por não ter qualquer interesse pela integridade de um setor caracterizado pelo seu escasso poder de incidência política.
Cativas em um sistema que as castiga por sua condição de meninas, as condena à gravidez, parto e maternidade para os quais não estão preparadas física nem psicologicamente, com risco de morte e o desafio de enfrentar uma marginação familiar e social cujo impacto lhes causará isolamento, pobreza, perda de autoestima, patologias físicas e emocionais irreversíveis e inúmeras ameaças contra seu normal desenvolvimento de vida.
Apesar do trabalho de algumas organizações preocupadas em fazer deste sensível tema uma motivo de ação, é evidente a ausência de mecanismos de proteção para evitar os abusos e as consequências devastadoras de tais agressões. As sociedade ainda são incapazes de captar as dimensões de sua responsabilidade em um problema de tal transcendência e se ausentam quando se propõe a urgente necessidade de estabelecer parâmetros legais – como o direito ao aborto e a oportuna educação sexual e reprodutiva – diante desta terrível pandemia de gravidezes precoces, todas elas resultado de violações.
Uma menina não é um brinquedo sexual nem um objeto à disposição dos homens de seu entorno, mas milhares delas terminam por perder sua inocência em uma das formas mais cruéis imagináveis e quem as vitima – a maioria das vezes pessoas “de confiança” como país, irmãos, tios, pastores e sacerdotes, professores e vizinhos – as transformam em suas escravas sexuais sob ameaça, sem a mínima possibilidade de defender-se. Devemos perguntar: onde estão as instâncias que se supõe que devem protegê-las? Onde estão a justiça, os sistemas de educação e saúde, onde estão suas famílias? O drama persiste e as cifras aumentam a cada dia; as meninas desparecem em redes de tráfico ou seus cadáveres são descartados como lixo em qualquer barranco, sem que à sociedade isso seja motivo suficiente para reagir.
*Colaboradora de Diálogos da Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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