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“Metáfora para enterrar de vez era Pinochet”, diz autor da imagem-síntese do plebiscito

A ilustração do artista chileno Félix Vega ganhou as redes sociais, traduzindo o sentimento dos brasileiros que torciam e torcem por novos rumos latinos
Deborah Moreira
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Na semana em que o Chile decidiu, por plebiscito, por uma nova constituinte, a ilustração do artista chileno Félix Vega ganhou as redes sociais, traduzindo o sentimento dos brasileiros que torciam e torcem por novos rumos latinos. Os ventos sopraram mais ao Sul, fazendo com que a bandeira chilena se descolasse da imensa bandeira estadunidense.

A imagem é uma síntese do sentimento despertado com o resultado da consulta: 78,27% dos chilenos que foram às urnas votaram pelo “Apruebo” de uma nova Constituição, com uma participação expressiva, de metade dos quase 15 milhões de eleitores habilitados, um pouco mais de sete milhões.

Procurado pela Diálogos do Sul, o artista falou da surpresa em saber da repercussão no Brasil da ilustração, que foi criada em 2019 e também sobre seu trabalho e política. 

Em 2021, planeja lançar, em parceria com o escritor Francisco Ortega, uma HQ sobre o ditador Augusto Pinochet, que deu um golpe militar em 11 de setembro de 1973, depondo o então presidente chileno Salvador Allende, que pretendia realizar reformas de base e se declarava socialista.

A ilustração do artista chileno Félix Vega ganhou as redes sociais, traduzindo o sentimento dos brasileiros que torciam e torcem por novos rumos latinos

Félix Vega
Os ventos sopraram mais ao sul fazendo com que a bandeira chilena se descolasse da imensa bandeira estadunidense.

Confira abaixo a conversa realizada em uma rede social.

Qua, 10:53

Diálogos do Sul: Oi, tudo bem? Você é o autor daquela imagem da bandeira do Chile saindo da bandeira dos EUA? Você topa dar uma entrevista para o Brasil? Acredito que teria muita repercussão. Todos querem saber como você teve a ideia.

Qua, 12:59

Félix Vega: Sim. Sou eu o autor. Sim, ficarei feliz em conversar com você. A ideia surgiu em resposta a este incidente constrangedor, em 2018:

Qua, 18:24

Sim. Não lembrava. Foi em setembro de 2018. Algumas pessoas e sites de esquerda no Brasil publicaram sua ilustração neste momento em que o Chile aprovou um processo para uma nova constituinte, desprendendo-se das ideias do ditador Pinochet, vinculado aos Estados Unidos. Muitos disseram  que sua ilustração é genial para este momento. O que pensa sobre isso?

Foi uma agradável surpresa, pois meus quadrinhos não são conhecidos ou publicados no Brasil. A ilustração foi feita em outubro de 2019 por ocasião do surto social que o Chile viveu naquele momento. Pensei nisso como uma resposta ao encontro embaraçoso em que Piñera deu a Trump uma bandeira dos Estados Unidos com uma bandeira chilena no centro. Um ato patético de submissão ao imperialismo. Agora, com o triunfo esmagador da aprovação de uma mudança da Constituição de Pinochet e Chicago Boys, a imagem recupera seu significado como uma metáfora para enterrar de vez a era Pinochet.

Qui, 12:53

Te enviarei algumas perguntas a mais, tudo bem? 

Está bem. Te respondo agora mesmo.

Qual o enfoque do seu trabalho? A política é um tema presente na sua obra?

Eu escrevo e ilustro histórias em quadrinhos. O mais conhecido é Juan Buscamares, que até foi publicado no Brasil em 1999 na revista de quadrinhos Heavy Metal.

E fala sobre o quê?

A história é sobre o apocalipse, que começa com a colonização da América pelos europeus e termina com uma seca global que transforma toda a terra em um deserto global.

Tenho outra publicação que se chama Duam: a pedra de luz, uma história em quadrinhos de fantasia ambientada no povo Mapuche.

Uau! Que Maravilha.

Sempre há elementos políticos contra o colonialismo, militarismo e religiões. Agora, por exemplio, estou fazendo uma biografia em quadrinhos sobre Pinochet, juntamente com o escritor Francisco Ortega. Será publicada no Chile em 2021.

Como você vê o cenário político atual na América Latina?

Os últimos anos foram de avanço do fascismo em grande parte da América Latina, mas os povos estão resistindo e se rebelando. A Bolívia já conseguiu reverter. No Chile, estamos resistimos há muito tempo. Espero que tão logo as nações irmãs da América Latina sejam fortalecidas com isso que está acontecendo agora.

Brasil e Chile vivem momentos muito diferentes? Ou não?

Ambos os países têm presidentes psicopatas semelhantes, que baseiam seu apoio no medo e no desprezo pelas minorias e pelo meio ambiente. A diferença é que Piñera é um hipócrita e Bolsonaro um arrogante, mas eles pensam da mesma forma. Felizmente, nos rebelamos no Chile, mas não apenas contra Piñera, mas contra um sistema que se arrasta desde Pinochet.

Com a internet, como está o mercado para ilustradores? Essa repercussão que teve a sua ilustração aqui no Brasil é algo positivo, né?

Essa ilustração se difundiu bastante nas redes sociais aqui do Chile também, mas, infelizmente, retiraram minha assinatura e autoria. Não sei porquê. Mas, não importa. O importante é a mensagem e não o autor.

Existem os riscos de haver mais plágio e reprodução sem autorização ou como aconteceu agora, omitindo autoria?

Internet é um risco que corremos de ter nossas obras publicadas sem autorização, mas também nos dá a possibilidade de publicar para todo o mundo, sem intermediários.

Qui, 19:23

Sim. Aqui também difundiram a imagem sem falar seu nome. Felizmente, encontrei uma outra imagem em que havia a assinatura “Vega 2019” e te encontrei em uma busca rápida na internet.

 Obrigado por pesquisar.

Como podemos encontrar sua obra aqui no Brasil? Posso divulgar seu blog?

Sim, você pode publicar meu blog, Instagram e Twitter: @FelixBuscamares. Meus livros são encontrados na busca da Amazon, em espanhol ou francês.

Relendo nossa conversa, sinto falta de um encerramento. Você pode falar qual a sua expectativa sobre a nova constituição? 

Em relação à nova Constituição, o problema é que o Congresso determinou que os que vão redigi-la são os membros dos partidos políticos. Mas, o povo deseja que sejam pessoas independentes. O bom é que será igual: o mesmo número de mulheres e de homens. Também está sendo discutido uma cota de membros que representem os povos indígenas.

Colaboração: Deborah Moreira


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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