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Com estratégias diferentes de combate ao coronavírus, Argentina e Uruguai veem contágios dispararem

Países que já foram exemplo na região agora constam entre os de maior contágio por milhão de habitantes
Fernanda Paixão
Brasil de Fato
Buenos Aires

Tradução:

Os contágios de covid-19 dispararam no Uruguai e na Argentina nas últimas semanas. Os países se destacam na América Latina em número de casos relativos confirmados da doença: o Uruguai consta como 2º país do mundo em contágios por milhão de habitantes, e a Argentina, em , ambos os únicos da região entre os principais do ranking do Our World in Data.

O cenário atual, acentuado ao longo do mês de abril, põe em paralelo os dois países que, sob governos de linhas ideológicas opostas, adotaram posturas diferentes diante da pandemia.

O Uruguai, atualmente governado pela direita, não teve medidas de controle social para prevenção de contágios até então, pois o presidente Luis Lacalle Pou (Partido Nacional) afirmou ser contra “um Estado policial”.

Enquanto isso, o presidente argentino Alberto Fernández (Frente de Todos) adotou medidas restritivas na Argentina desde o início da pandemia no país, com flexibilizações de acordo com os dados epidemiológicos de cada província.

O quadro de avanço de vacinação relativa às populações também tem apresentado números bem diferentes: o Uruguai, em avanço muito mais acelerado, já vacinou 31,14% da população, enquanto a Argentina, em passos mais lentos, imunizou 12,44% da população. O Brasil fica um pouco atrás, com 11,67%.

Ainda assim, com seus 3,5 milhões de habitantes, o Uruguai apresenta o cenário mais crítico da região hoje, com 660,39 casos confirmados por milhão de habitantes, seis vezes a média global. 

A Argentina alcançou uma marca próxima com os dados registrados em 20 de abril, com uma média de 644,86 de casos positivos por milhão de habitantes, enquanto o Brasil, atualmente, apresenta uma média três vezes acima da média global, com 326,41 por milhão.

Em uma tentativa de controlar a curva crescente de contágios e evitar o colapso do sistema de saúde, o Uruguai e a Argentina tomaram medidas de prevenção que também provocaram comoção social. 

No caso da Argentina, a direita tem sido enfática no pedido de “liberdade” e, em pleno ano eleitoral, tem apostado na pauta da educação para promover manifestações contra o governo; já no Uruguai, a população tem exigido mais medidas de controle do governo, que se limitou a fechar as escolas e restringir espetáculos públicos.

Países que já foram exemplo na região agora constam entre os de maior contágio por milhão de habitantes

Wikimedia Commons
Uruguai consta como 2º país do mundo em contágios por milhão de habitantes, e a Argentina, em 8º.

Argentina

Em abril, os casos de covid-19 na Argentina triplicaram em relação a março, marcando a chamada segunda onda de covid-19 no país. Este ano, o recorde de contágios diários foi registrado em 16 de abril, com 29.472 diagnósticos positivos de coronavírus no país.

A ministra de Saúde, Carla Vizzotti, apontou na semana passada que, apesar de contar com quase 95% dos profissionais da saúde vacinados e com um sistema de saúde melhor preparado em relação ao ano passado, a Argentina encara a pandemia em um momento com “maior circulação de pessoas, mais acidentes de trânsito, um aumento acelerado de casos e novas variantes do vírus”.

A recomendação é manter o atendimento ambulatorial de casos covid-19 e reprogramar as cirurgias que possam ser adiadas. Os hospitais da capital federal voltaram priorizar os atendimentos e os turnos somente para casos de coronavírus no início de abril, em um processo de adaptação para enfrentar a segunda onda. Outras consultas são feitas por telefone ou chamada de vídeo.

A atual região de maior número de casos é a Área Metropolitana de Buenos Aires (Amba), zona urbana que inclui a capital federal e 40 municípios da província de Buenos Aires e que representa 37% da população da Argentina. 

O governo nacional estipulou para a região a restrição de circulação das 20h às 6h, a suspensão de atividades esportivas, recreativas e religiosas em lugares fechados, assim como as aulas presenciais até o dia 30 de abril.

A decisão provocou a reação da oposição, que governa a capital federal. O chefe de governo Horacio Rodríguez Larreta levou o caso à Corte Suprema, reivindicando a “autonomia da capital“, levantando a bandeira das aulas presenciais como elemento principal de preocupação do seu governo. No entanto, o governo da capital cortou 70% do orçamento da área da educação em 2021.

Uruguai

O Uruguai registrou o pico máximo de contágios diários da pandemia em 9 de abril deste ano, com 7.289 casos confirmados. Nesse dia, também registrou o recorde de mortes, com 88 vítimas da doença.

Segundo o ministro da Saúde uruguaio, Daniel Salinas, o “ponto de inflexão” foi a primeira quinzena de fevereiro, com a chegada da variante brasileira P1.

Em um mês, a média móvel (calculada com base nos últimos 7 dias) de casos diários subiu mais que o dobro, atualmente em 2.842; há um mês, a média era de 1.398 casos por dia. Em seu pior momento, na semana passada, a média chegou a superar 3 mil casos diários.

Apesar da curva começar a cair, a situação relativa da população é pior que a do Brasil: em uma comparação por milhão de habitantes, o Uruguai tem uma média de 818 casos diários por milhão de habitantes, enquanto o Brasil, atualmente, apresenta uma média de 297. Segundo a sociedade Uruguaia de Medicina Intensiva, 74,5% das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) estão ocupadas.

O país já acumula 169.327 infectados e 2.022 mortes por coronavírus. O governo uruguaio tem apostado no programa de vacinação como medida principal para sair da crise sanitária que acometeu o país este ano, e já conta com 31% da população imunizada, sendo 10% as vacinadas com ambas as doses da Pfizer, AstraZeneca ou Sinovac.

O presidente Lacalle Pou decretou a suspensão das aulas presenciais até o início de maio, assim como atividades culturais, como cinemas, shows e teatros. 

Edição: Camila Maciel


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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