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Peru | Eleições 2021: Nem as 10 Pragas do Egito ajudarão a salvar os oprimidos

Ainda faltam seis semanas para o segundo turno eleitoral e tudo o que disseram, até agora, os porta-vozes da reação haverá de multiplicar-se. Portanto, o caminho libertador está nas mãos do povo
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
Lima

Tradução:

A Bíblia conta que quando os egípcios se achavam mais oprimidos pelo faraó, Moisés o advertiu que se não deixava livre o seu povo, se desencadeariam terríveis pragas sobre seu reino. 

Como o monarca não acedeu à sua demanda, a água se converteu em sangue e os peixes morreram. E como não houve retificação, sucederam outras 9 pragas que finalmente dobraram a vontade do poderoso e os afetados conseguiram a salvação demandada pelo Profeta.

A alusão não podia vir ao caso se pensássemos no que ocorre no Peru de hoje.  Depois de tudo, o faraó era uma autoridade despótica que martirizava seus súditos e Moisés buscava salvá-los. 

Em outras palavras, as pragas que caíram sobre o Egito ajudaram a redimir os oprimidos.  O tempo mudou o olhar sobre os fatos e agora se toma o caso como uma espécie de maldição descarregada pela ira, e castigo sem misericórdia. 

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Nesse sentido se pode considerar o conjunto de ruindades com as que se ameaça nosso povo se persistir na vontade de ungir o professor Castillo como Mandatário da Nação nas eleições que culminarão em 6 de junho. 

Se naquela época se falava de pragas para se referir a rãs, mosquitos e insetos, à pestilência, úlceras e coceiras e granizo de fogo e gelo, hoje os que pretendem interpretar a suposta vontade suprema, recolhem ameaças não menos tormentosas nem intimidatórias.

Ainda faltam seis semanas para o segundo turno eleitoral e tudo o que disseram, até agora, os porta-vozes da reação haverá de multiplicar-se. Portanto, o caminho libertador está nas mãos do povo

Twitter | Reprodução
O caminho libertador está nas mãos do povo

Recomendações imperiais

Para começar, como o governo dos Estados Unidos emitiu uma “recomendação” aos seus cidadãos para que não visitem o Peru enquanto durar a pandemia dada a gravidade da crise sanitária, os bustos falantes de Willax TV,  asseguraram que esta é a primeira reação de Washington ante “o perigo” que implica o resultado da eleição que se aproxima no Peru. 

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A manobra tem um viés definido. Busca “advertir” os peruanos que já começou uma espécie de isolamento ou de bloqueio por parte do nosso poderoso vizinho do norte, porque nos acham dispostos a assumir um caminho que não é do agrado deste Supremo de listas e estrelas.

Desse ponto de vista é que eles, agora, querem ver-nos como a Venezuela, ou como Cuba, isto é, como “sancionados” por “algo que fizeram”. E claro, se é assim, a culpa não será nunca do castigador, mas sim do castigado porque o que busca o forte é “corrigir” o que deve sanear-se.

Esses países quiseram cobrar por sua conta e isso deve ser sancionado.

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E se persistirmos nessa espécie de “vontade errática”, virão outras pragas: o dólar subirá de preço, se desvalorizará nossa moeda, cairá a Bolsa de Valores, perderemos nossos mercados, não nos venderão armas, nos fecharão os créditos, não virão capitais, desaparecerá o investimento, quebrará o mercado interno e aparecerá a recessão.

Em outras palavras, cairão sobre nossos débeis ombros, e uma depois da outra, todas as calamidades. As 10 pragas do Egito e algo mais.

Ofensiva midiática

Isso é o que se depreende da campanha midiática desatada pela classe dominante, horrorizada diante da possibilidade de sofrer uma derrota na eleição que se aproxima. E é que, na verdade, nunca se apresentou uma situação tão clara, e graças à qual os peruanos estaremos prestos a abrir um caminho de dignidade e de justiça.

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É claro que a ofensiva midiática desatada contra o povo está cheia de insensatezes. A 68% dos peruanos o anticomunismo não lhes importa e ninguém, em seu sano juízo, lhe poderia ocorrer que um país poderia seguir o caminho de outro. Tampouco, idealizar um “programa de governo” baseado na iniquidade e na violência.

Ninguém pensaria na necessidade de requisitar moradias, veículos ou fogões. Sustentar esses despropósitos não faria senão revelar o nanismo mental dos que incubam tamanhos desatinos.

Ainda faltam seis semanas para o segundo turno eleitoral. Tudo o que disseram os porta-vozes da reação haverá de multiplicar-se e crescer. Milhares de outras mentiras serão ditas com um duplo propósito: enganar as pessoas e assustar o povo.

Fazer acreditar no que não existe, e intimidar as pessoas para que percam a fé na vitória e terminem entregando o poder – uma vez mais – aos seus opressores.

Medo e proteção armada

O medo é o que estimula essa campanha.

Por isso Hugo Guerra fala das armas para proteger (suas) ideias; enquanto outros, mais timoratos, aconselham ter um “plano b”: passaporte na mão, contas secretas no exterior, visto para outros países, dinheiro à mão.

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São os que pensam que das 37 estratégias, a melhor é correr.

É curioso, os que mediante uma declaração de Evo Morales e outra de José Mujica gritam desaforados exigindo que “ninguém se meta nos assuntos peruanos”, se metem todos os dias com os assuntos da Venezuela, de Cuba e até da Coreia do Norte.

E os que dizem que um estrangeiro não tem direito de criticar um político peruano, e passam o dia atacando Lula, Nicolás Maduro ou Daniel Ortega. Que autoridade podem ter os que agem assim?

As Pragas do Egito não ajudarão, em nosso caso, a salvar os oprimidos mas a escravizá-los mais. O caminho libertador está nas mãos do povo.

Gustavo Espinoza M., Colaborador de Diálogos do Sul de Lima, Peru.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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