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25 fatos que provam que a América Latina está no centro da disputa geopolítica que os EUA travam com Rússia e China

Protestos em Cuba, assassinato de Jovenel Moïse, no Haiti, e golpes de Estado recentes em Brasil e Bolívia são algumas das evidências das garras do império sobre a região
Jeferson Miola
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

A influência crescente da China na América Latina em vários âmbitos — comercial, financeiro, político, econômico, tecnológico e de investimentos — desatou reações vigorosas do establishment estadunidense com o objetivo de recompor sua debilitada hegemonia hemisférica.

Trata-se da conhecida Doutrina Monroe, do ano 1823 do século 19: “A América para os Americanos”.

Após as tentativas fracassadas de mudança de regime na Venezuela nos primeiros anos deste século 21, os EUA então multiplicaram o cardápio de novos mecanismos e dispositivos para interferir, desestabilizar e golpear governos progressistas, considerados hostis e desafiadores aos seus interesses históricos e estratégicos.

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As clássicas quarteladas do século 20 deram lugar a golpismos de novo tipo.

Manipulação de redes sociais, infiltração de mercenários, financiamento de ONGs e oposições mercenárias, retórica anticorrupção, sanções ilegais, guerra informacional e ajuda financeira a governos vassalos compõem o diversificado cardápio para a desestabilização de democracias e derrubada de governos constitucionais.

A corrupção de juízes, procuradores, policiais, parlamentares, mídia e “formadores de opinião” para perseguir e aniquilar inimigos [lawfare], além disso, foi largamente empregada em vários países da região para recobrir com “verniz institucional” processos de violação das democracias

Argentina, Brasil, Equador, Peru e Venezuela foram os alvos mais notórios desta estratégia jurídico-midiática-empresarial-militar e parlamentar.

Na Venezuela, contudo, a retórica da guerra fria, de invasão bélica e ameaça da guerra civil continua sendo reiteradamente repetida pelos EUA e governos vassalos na região, principalmente Colômbia e Brasil.

Protestos em Cuba, assassinato de Jovenel Moïse, no Haiti, e golpes de Estado recentes em Brasil e Bolívia são algumas das evidências das garras do império sobre a região

Facebook – reprodução
“A América para os Americanos”.

Histórico recente

Mas, de modo geral, se observa que os estratagemas para a recolonização hemisférica passaram a ser mais elaborados, como se observa no inventário parcial da atuação – por vezes nem tão oculta – dos EUA nos últimos anos:

  1. 2008: governo boliviano acusou os EUA de patrocinarem conflito separatista no departamento de Santa Cruz de La Sierra [Meia Lua]. Líderes da extrema-direita boliviana reuniram-se diversas vezes na embaixada dos EUA para planejar o plano de secessão;
  2. 2009: golpe em Honduras com a destituição, prisão e exílio ilegal do presidente Manuel Zelaya;
  3. 2012: golpe no Paraguai, com o impeachment sumário perpetrado em menos de 72 horas sem causa, sem processo e sem direito à defesa do presidente Fernando Lugo;
  4. 2012: criação da Aliança do Pacífico com governos vassalos para debilitar papel da UNASUL e CELAC;
  5. 2013: espionagem da presidente Dilma e da PETROBRÁS que pode estar relacionada com os preparativos da Lava Jato;
  6. 2013: cursos dos Departamentos de Justiça e de Estado e agências de inteligência dos EUA para procuradores, juízes, políticos, policiais federais e oficiais das Forças Armadas;
  7. 2013: “primavera brasileira” com as jornadas de junho e processos de desestabilização;
  8. 2013: avião presidencial de Evo Morales foi obrigado a fazer pouso de emergência em Viena depois dos EUA obrigarem países europeus a proibirem pouso técnico para reabastecimento em viagem de regresso de Evo da Rússia, colocando a vida do presidente em risco. Motivo: suspeitavam que Evo trazia Edward Snowden para conceder-lhe exílio na Bolívia;
  9. 2013: diplomata tucano Eduardo Saboia, encarregado de negócios da embaixada do Brasil em La Paz arquitetou e executou pessoalmente a fuga do senador oposicionista Roger Pinto, condenado criminalmente pela justiça da Bolívia [como prêmio, o diplomata tucano tornou-se chefe de gabinete de Aloysio Nunes no Itamaraty no governo golpista e ilegítimo de Temer];
  10. 2015/2016: derrubada da presidente Dilma. Em 18 de abril de 2016, dia seguinte à aprovação da fraude do impeachment na Câmara, o senador tucano Aloysio Nunes viajou a Washington para 3 dias de encontros com altas autoridades estadunidenses;
  11. 2017: eleição de Lenin Moreno para reverter a “revolução cidadã” no Equador;
  12. 2017: formação do Grupo de Lima com governos vassalos para avançar plano de atacar a Venezuela;
  13. 2018: governos vassalos dos EUA abandonam a UNASUL, organismo pelo qual os países da região equacionavam conflitos regionais pacificamente e sem interferência da OEA, organismo totalmente teleguiado por Washington;
  14. 2018: esvaziamento da CELAC, organismo que congrega todos os países do hemisfério americano e que deixa de fora apenas EUA e Canadá [espécie de OEA sem EUA e Canadá];
  15. 2018: pressão dos EUA para FMI conceder empréstimo eleitoral de US$ 57 bilhões ao governo Macri, da Argentina, para impedir a eleição do peronismo [Alberto e Cristina] ao governo;
  16. 2019: designação de Juan Guaidó como “presidente autoproclamado” [sic] da Venezuela;
  17. 2019: simulacro de ajuda humanitária para invadir a Venezuela com apoio dos governos Bolsonaro e Ivan Duque;
  18. 2019: Luís Almagro, da OEA, falsificou informes para anular eleição legítima de Evo Morales e justificar o golpe perpetrado pela extrema-direita boliviana com o apoio material, político e diplomático dos governos Macri/Argentina, e Bolsonaro/Brasil;
  19. 2020: enfraquecimento do MERCOSUL por meio do acordo com a União Europeia e tentativas de flexibilização da Tarifa Externa Comum do Bloco;
  20. 2020: agentes e apoiadores do governo brasileiro seguem caminho de Olavo de Carvalho e refugiam-se nos EUA – irmãos Weintraub, blogueiro Allan dos Santos, empresário cloroquiner Carlos Wizard, juiz-ladrão Sérgio Moro etc;
  21. 2021: viagem da vice-presidente dos EUA à América Central para difundir o eixo de ação dos EUA de “combate à corrupção” para a região [sic];
  22. 2021: presidente venezuelano Nicolás Maduro denunciou que o comandante do Comando Sul dos Estados Unidos Craig Faller e o diretor da CIA William Burns visitaram Colômbia e Brasil com objetivo de preparar plano para assassiná-lo;
  23. 2021: diretor da CIA se reuniu no Brasil com o chefe da ABIN, generais do governo militar e com Bolsonaro.
  24. No último 7 de julho o presidente do Haiti Jovenel Moïse foi assassinado por mercenários de nacionalidade colombiana e estadunidense.
  25. E, para completar este inventário provisório, destacam-se ainda os estranhos protestos “patrióticos” que espocaram em Cuba neste domingo, 11 de julho. Neles, “patriotas” usavam máscaras faciais estampadas com a bandeira dos EUA, também agitadas nos protestos.

Os EUA agravaram o bloqueio ilegal a Cuba para asfixiar o país e causar o caos social que anima reações contrarrevolucionárias como as que estão em curso.

A América Latina está no centro da disputa geopolítica que os EUA travam com Rússia e, principalmente, com a China, por isso a intensificação do ativismo imperial para derrubar governos e mudar regimes.

A política externa do establishment estadunidense é bipartidária.

Ou seja, é a política externa que tanto o Partido Democrata como o Partido Republicano executam para a concretização do projeto de dominação imperial no mundo, como se observa neste resumido inventário que cobre episódios ocorridos na América Latina durante os governos Bush, Obama, Trump e Biden.

São gritantes as marcas das garras dos EUA sobre a América Latina.

Jefferson Miola é colaborador da Diálogos do Sul


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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