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No Chile, 70% aprovam impeachment de Piñera; Senado vota destituição na semana que vem

Aprovação de Piñera oscila em torno de 15%. Ele é considerado responsável por "infringir abertamente a Constituição e as leis” e de “comprometer gravemente a honra da Nação”
Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

Após uma sessão de 22 horas, só interrompida um par de vezes, a Câmara de Deputados do Chile aprovou por 78 votos a favor, 67 contra e três abstenções, uma acusação constitucional contra o presidente Sebastián Piñera, algo inédito na história do país que poderia concluir com sua destituição em poucos dias mais, quando ao seu governo só restam quatro meses. 

Os parlamentares começaram a sessão às 10 da manhã de segunda-feira, enquanto o desenlace aconteceu cerca das 7:30 horas de terça-feira. O “herói da jornada” foi o deputado socialista Jaime Naranjo, de 70 anos, o qual falou sem cessar, com apenas duas pausas, durante quase 15 horas para ganhar tempo e possibilitar que dois parlamentares cujos votos eram imprescindíveis para aprovar a acusação pudessem chegar até a sede do Parlamento, após superar suspeita de contágio de Covid-19.

Corresponde agora ao Senado, que atuará como júri, pronunciar-se, o que sucederá na próxima semana. Embora as coisas ali parecem melhores para o governante, porque a oposição só conta com 24 dos 29 votos que são requeridos para ratificá-la. 

Seja como for, trata-se de um golpe terrível e demolidor para Piñera, um a mais para sua segunda presidência que resultou um desastre desde a explosão social de outubro de 2019, justamente quando ele dizia que o país era “um oásis de paz” e pretendia construir uma espécie de liderança internacional a partir da realização no país da 25ª Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que foi transferida para a Espanha por causa da instabilidade política social. 

Aprovação de Piñera oscila em torno de 15%. Ele é considerado responsável por "infringir abertamente a Constituição e as leis” e de “comprometer gravemente a honra da Nação”

Twitter reprodução
A Câmara de Deputados do Chile aprovou por 78 votos a favor, 67 contra e três abstenções, uma acusação constitucional contra o presidente

Segundo julgamento político de Piñera

É a segunda ocasião que Piñera enfrenta um julgamento político; a primeira, e que fracassou, foi em novembro de 2019, à raiz das flagrantes violações aos direitos humanos cometidas na repressão aos protestos sociais, que deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos. 

Piñera, cuja aprovação oscila em torno de 15%, foi considerado responsável por “infringir abertamente a Constituição e as leis” em matéria de probidade e por “comprometer gravemente a honra da Nação”. 

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O julgamento político foi engatilhado pelos Papéis de Pandora, que delataram Piñera e sua família negociando, em 2010 durante sua primeira presidência, no paraíso fiscal das Ilhas Virgens a venda de 33 por cento de um projeto mineiro no norte do Chile, por 138 milhões de dólares, condicionado a que a zona onde se instalaria a mina, no recebesse proteção do meio ambiente, porque isso poderia obstaculizar o negócio. 

Mas a acusação foi além e recordou que Piñera que tem quase 3 bilhões de dólares de fortuna pessoal, durante toda a sua vida misturou negócios e política, agindo sempre sob a suspeita dos conflitos de interesse, o uso de informação privilegiada à qual tinha acesso e abusando de sua posição de poder para beneficiar-se sobre terceiros. 

O texto da acusação fazia notar isso ao dizer que “o que ocupa nossa atenção não é um erro pontual ou, inclusive, um ato isolado de cobiça ou aproveitamento do poder para benefício próprio. Não. Trata-se de uma conduta que acompanha o senhor Piñera desde sempre, conhecida por todos, e que prejudicou muitos compatriotas ou o país inteiro”.

Desde o governo, em estado de choque, o ministro Secretário Geral da Presidência, Juan José Ossa, afirmou que “foi aprovada uma acusação injusta, com um uso eleitoral evidente desde que se apresentou. E mais, se nós fazemos uma autocrítica, estamos tristes pelo que vimos, um show político, um show midiático, inaceitável e muito doloroso para a democracia, mais que para o Governo”. 

“Esperamos que no Senado impere a sensatez, mas sentimos muita tristeza por esta ferida que se fez ao país; há uma oposição que busca destruir o Governo”, agregou. 

Nas pesquisas, 70% dizem estar a favor da destituição. 

Aldo Anfossi, Especial para La Jornada desde Santiago do Chile

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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