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Lula é acolhido na Argentina como líder histórico imprescindível e apto a reconstruir a Pátria Grande

O brasileiro é considerado o provável e único presidente do Brasil em 2022, que porá um freio em Bolsonaro e ao fascismo no Brasil
Helena Iono
Diálogos do Sul
Buenos Aires

Tradução:

Nesta sexta (10), 10 de dezembro, dia internacional dos Direitos Humanos, mais de 250 mil pessoas, entre organizações populares, formações políticas, sindicais, artistas e cidadãos comuns de todo o país, confluíram à Praça de Maio em Buenos Aires, frente à casa Rosada, celebrando os 38 anos de Democracia reconquistada após a ditadura militar, com o advento do governo de Raul Alfonsín (1983).

Uma mobilização histórica, um reencontro aguerrido característico do peronismo/kirchnerismo, com enorme participação juvenil, com a alegria dos combatentes, reocupando as ruas para nunca mais deixá-las. Foi a maior prova multitudinária de força numa pandemia controlada, na defesa da democracia agora ameaçada pelos opositores ao governo atual, legitimamente eleito; uma demonstração de memória indelével do povo argentino pela verdade e justiça, expressada também nos atos de celebração no Museu Bicentenário da Casa Rosada e no comício final na Praça de Maio às mães e avós dos 30 mil desaparecidos, que receberam o prêmio Azucena Villaflor 2021 como as maiores guerreiras pelos direitos humanos.

A presença de Lula abre alas a uma nova etapa de integração latino-americana

Lula da Silva, foi uma das presenças mais esperadas, como líder brasileiro e latino-americano, no palco da democracia, ao lado de Cristina KirchnerJosé Mujica, ao lado da vice-presidenta Cristina e do presidente Alberto Fernández, demarcou-se ontem não só o início de um novo salto necessário ao governo argentino da Frente de Todos, mas também, o renascimento da união de governos progressistas e populares da América Latina.

Lula da Silva, considerado o provável e único presidente do Brasil em 2022, que porá um freio em Bolsonaro e ao fascismo no Brasil, já recebido pelos principais governantes da Comunidade Europeia como um verdadeiro mandatário brasileiro, é também acolhido na Argentina como um líder histórico imprescindível e apto a reconstruir a Pátria Grande.

No seu comovente discurso na Praça de Maio diz que “teve a felicidade de governar o Brasil, no período em que Nestor Kirchner e Cristina governaram a Argentina”. Além disso, citou Hugo Chávez da Venezuela, o índio Evo Morales da Bolívia, Tabaré e Pepe Mujica do Uruguai, Fernando Lugo do Paraguai, Bachelet e Lagos do Chile e Rafael Correa do Equador. 

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“Esses companheiros progressistas, socialistas, humanistas fizeram parte do melhor momento de democracia da nossa Pátria Grande, a nossa querida América Latina”. “Eu me recordo quando terminamos com a ALCA e criamos a UNASUL e a CELACXiomara Castro em Honduras, Ortega na Nicarágua, e Castillo no Peru.

 “Infelizmente pessoas como Néstor Kirchner e Hugo Chávez morreram, outras pessoas foram violadas como Rafael Correa e Dilma Rousseff, depois da violência do lawfare contra mim; o golpe contra Fernando Lugo. Os governos conservadores destruíram tudo o que construímos para o bem-estar social de nossos povos. Sei o que está passando o camarada Alberto Fernández, o que significa a dívida que Macri deixou com o FMI e sua pressão. Por isso, Alberto precisa trabalhar muito para que haja um acordo e que o povo argentino não seja vítima dos neoliberais”. (Entrevista no Página12)

O brasileiro é considerado o provável e único presidente do Brasil em 2022, que porá um freio em Bolsonaro e ao fascismo no Brasil

Leandro Teysseire
A presença de Lula abre alas a uma nova etapa de integração latino-americana.

O balance público e aberto de Cristina e Alberto aos dois anos de governo frente ao povo mobilizado na praça

Um cenário magnífico onde uma vice-presidenta e líder de massas como Cristina Kirchner, recentemente submetida a uma cirurgia, transmite o melhor de suas energias com palavras que fluem em sintonia fina com a vibração do seu povo numa praça histórica onde ecoaram por anos as vozes aguerridas de Peron e Evita. Aí onde a democracia tomou o verdadeiro sabor, do amor às massas trabalhadoras, ao seu direito à vida e à justiça social. Grande emoção de Lula da Silva neste espaço e momento histórico numa Praça de Maio repleta de centenas e milhares de argentines e peronistas, que lhe cantaram: “Volver, vamos a volver!” (Voltar, voltaremos!). E Cristina lhe disse: “Não quero fazer previsões, mas sempre que cantaram isso, não se equivocaram”.

Como se vê no seu discurso, Cristina deu uma aula de objetividade ao se referir à questão do FMI. Tema este inevitável, que é nevrálgico não somente na planificação econômica da atuação do Estado para o bem-estar social, e na erradicação da miséria, mas nas implicações políticas. Louvável como Cristina discute, publicamente, reforçando a unidade no campo da esquerda e das forças populares. “Presidente, sei que temos muitas dificuldades, mas sempre digo que perante grandes adversidades, há que ter grandes ações”. 

Pediu a Alberto Fernández “que as partes digam ao FMI que nenhum acordo que não contemple a recuperação da economia será aprovado”. Além disso, chamou a que o FMI contemple “cada dólar que foi ao exterior na fuga de capitais promovida no governo de JxC (Cambiemos), para que se pague a dívida com o Fundo”. …. “O FMI soltou a mão do nascente governo democrático, mas não o fez com o que veio depois de nós (Macri), ao qual deram todo o trabalho” …. “deram-lhe 57 bilhões de dólares para ganhar as eleições e não conseguiram dobrar a vontade do povo”. 

O discurso de Alberto responde concedendo ao chamado de Cristina:   “Não se preocupe, Cristina, não vamos negociar nada que ponha em risco isso; não tenha medo”. …”Muitas vezes o FMI largou a mão dos presidentes e assim criou uma crise institucional na Argentina. Se o FMI me soltar a mão, estarei segurando a mão de cada um de vocês, de cada argentino e de cada argentina”. … “A democracia é também não esquecer o genocida e aqueles que nos endividam”. 

Na realidade esse é um debate necessário que gira em vários setores da Frente de Todos e da esquerda em geral, o que Cristina e Alberto tratam de explicitar e não deixar à deriva da especulação dos meios opositores, ávidos a dividir e derrubar o governo. Como presidente, não deixou de apresentar metas para o início do próximo período de gestão, políticas voltadas aos aposentados, mulheres e setores empobrecidos pela pandemia, melhor distribuição de renda e salários, desconcentração da riqueza. 

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Enfim, nenhum ajuste em função da dívida com o FMI deverá ser tolerado. E terminou: “Vamos construir outra Argentina, uma Argentina livre, justa e soberana como nós, peronistas, sempre fizemos” Certamente, celebrar a democracia é antes de tudo garantir, além do direito à palavra e ao voto, o direito à vida, educação gratuita, trabalho, casa, aposentadoria digna. Isso é indubitável na plataforma do PT de Lula da Silva como na Frente de Todos. Comemorar a democracia, não significa que ela já foi conquistada na sua plenitude pelos governos progressistas e populares. É preciso reforçar a atuação do Estado e o controle orçamentário social. Como alguém disse: comemorar a democracia é um dia de luta, não é um ponto final. Há muito que fazer. 

Nas entrelinhas da mensagem de Cristina, “Presidente, eu sei que temos muitas dificuldades, mas sempre digo que ante as grandes adversidades, grandes ações” podem-se interpretar que na nova etapa de governo é preciso aprofundar a atuação do Estado em questões como na agro-exportadora Vicentin, no campo energético, comunicacional, como na década kirchnerista atuou-se nos Correios Argentinos e YPF. 

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Os avanços, como as reformas no campo Judicial não estão descartados no ano 2022, após ganhos políticos importantes nas últimas eleições. As características deste ato comovedor pela democracia sinalizam um cenário político promissor para o governo da Frente de Todos, em termos de unidade interna e de relação com a militância na Praça, o que deverá estender-se no dia a dia dos bairros e centros de trabalho e nas escolas.  Mas, o recado principal que deram os argentinos ontem é que a vitória de Lula Presidente em 2022 é fundamental para as possibilidades dos avanços na Argentina e como Pátria Unida e Grande em toda a região. 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Helena Iono Jornalista e produtora de TV, correspondente em Buenos Aires

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