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ToggleA primeira semana de Gabriel Boric na presidência do Chile, resultou em uma mistura entre o esforço para marcar diferenças de estilo e cumprir promessas de campanha, ao mesmo tempo, ancorada em um banho de realidade sobre o desafio de governar, sobretudo quando prevalecem desconfianças de longa data que põe à prova a vontade e a perseverança.
Ficará registrado na história que, no segundo dia do novo gabinete, a ministra do Interior, Izkia Siches, foi recebida à bala nas imediações do povoado indígena de Temocuicui, ao qual buscava entrar como prova da honestidade presidencial quando diz querer estabelecer um diálogo direto com o povo mapuche em seu território. O assunto ficou mais enredado quando ela, apesar da gravidade do acontecido, decidiu interpor uma denúncia criminal por atentado contra a autoridade, sinal dos novos tempos que correm; mas seu subordinado, o subsecretário Manuel Monsalve disse estar avaliando fazê-lo.
Boric tem uma aprovação de 46,5 por cento na forma como “está conduzindo seu governo”
As coisas não ficaram por aí, mas entre ambos houve outro entrevero quando ela disse que no lugar da emboscada “havia sinais em torno a reivindicações de presos políticos mapuches e creio que essas são partes das conversações que temos que ter”; o subalterno a contradisse afirmando que “as pessoas estão condenadas por um delito tipificado no Código Penal, e dessa perspectiva não são presos políticos”.
Siches finalizou sua semana inaugural contagiada de coronavírus, portanto, em quarentena, o que a afastará das ruas e dos meios, embora siga exercendo e usando suas redes sociais.
Como se o anterior fosse pouco, a semana terminou com a polícia reprimindo à vontade os manifestantes que todas as sextas-feiras se reúnem na denominada Praça Dignidade, em Santiago, reclamando pela liberdade de uns 60 “presos da revolta” que estão nas prisões desde 2019 sem acusações contra eles. Essa atuação policial desatou questionamentos a Siches e a Boric a partir da própria coalizão governamental, o pacto Apruebo Dignidad.
A outra face da moeda, a das coisas que saem bem, conseguiu estar presente quando o governante cumpriu um de seus compromissos com o mundo ecologista: firmar o Tratado de Escazú e enviá-lo para ratificação legislativa, justamente quando a primeira reunião da Conferência das Partes terá lugar entre 20 e 22 de abril em Santiago.
O acordo de Escazú é “um compromisso regional sobre o acesso à informação, à participação pública e o acesso à justiça em assuntos ambientais na América Latina e o Caribe”.
Uma bomba de tempo
Para o cientista político Mauricio Morales, acadêmico da Universidade de Talca, os acontecimentos da primeira semana revelaram que para Boric será complexo conciliar diferenças no interior da coalizão política que a respalda.
“É uma bomba de tempo porque aí convivem três almas: o Partido Comunista, a Frente Ampla e partidos da ex-Concertação. Não há consensos a respeito do que é um preso político, tampouco nas formas de enfrentar a violência nas manifestações nas ruas; adicionalmente deu a sensação de que a ministra tomou a decisão de ir a Temocuicui de maneira autônoma, sem resguardo policial e sem avaliar a periculosidade”, pondera.
Além de considerar que esses acontecimentos podem afetar a confiança cidadã em Siches – uma das personalidades políticas mais bem avaliadas -, adverte que isso deve ser um aviso para que o governo não caia na armadilha de transformar todo ato político em um ato comunicacional.
“A ministra deve entender que parte importante de seu trabalho se realiza sem câmeras e sem luzes e que o Ministério do Interior está submetido permanentemente ao conflito e que mais que gestão comunicacional, o que faz é gestão política”, recalca.
Morales vaticina que será “um desafio maior conduzir esta coalizão de três almas” e que isso obrigará Boric a oficiar como líder do governo e também da coalizão.
Na atualidade, a pesquisa Pulso Cidadão, realizada em 18 e 19 de março e conhecida no domingo, disse que Boric tem uma aprovação de 46,5 por cento na forma como “está conduzindo seu governo”, contra uma desaprovação de 26,1 e 27,4 que “não sabem”, enquanto o gabinete ministerial é aprovado por 37,5 por cento versus 27,5 que o desaprova.
Segundo a pesquisa, os principais problemas do país continuam sendo a delinquência (39,1 por cento), a imigração (29,9), a inflação (25,5), o narcotráfico (22), as aposentadorias (20,2), a saúde (18,6) e os salários (16,2).
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