A palavra – essa breve série de letras que dá forma ao pensamento – é a base sobre a qual descansa a civilização inteira. E assim como pode construir pontes entre comunidades de diferentes culturas, também pode converter-se na ferramenta para destruir os fundamentos de uma sociedade.
Para a imprensa, tal como sucede com a literatura ou a poesia, a palavra é a própria vida. Sem condições, sem limites além dos próprios da ética e da razão, a palavra constitui o veículo por meio do qual se mantém a sociedade informada e, sobretudo, o meio para expressar as ideias e comunicar-se com os demais seres humanos.
Por isso é tão perigosa quando utilizada como arma ofensiva para distorcer a verdade, para induzir ao engano e como uma potente ferramenta de manipulação, estratégia particularmente prejudicial e perigosa em sociedades sumidas no silêncio imposto pela força das armas e pelo capricho dos ditadores. Porque depois de um prolongado encerro político – quase uma condenação à morte a qualquer expressão livre –, quando finalmente se começa a vislumbrar certa expressão de liberdade, o abuso e a distorção da mensagem podem levantar um muro ali onde já se havia derrubado o anterior, condenando a sociedade a um silêncio ainda mais ominoso e injusto.
A manipulação através da palavra é uma afronta contra os direitos humanos, mas também um retrocesso na rota para o conhecimento e a compreensão das forças que definem as sociedades. O império da verdade, esse valor intangível cuja existência depende da vontade e da ética, constitui uma pedra fundamental para a construção de um marco de direito e justiça, justamente a etapa em que se concentram os maiores ataques contra a liberdade e o respeito pelos direitos humanos.
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Ao carecer de recursos infalíveis para discriminar entre a verdade e a mentira, somos uma massa maleável para aqueles que possuem o controle
Este é um pecado de lesa humanidade de incalculáveis dimensões, se consideramos o dano que ocasiona a um processo democrático, cuja solidez só necessita de uma faísca irresponsável para saltar em pedaços. A palavra parece um elemento inócuo, mas não é. Penetra na consciência das pessoas, as faz experimentar reações diversas, as compromete a tomar decisões e executar ações, impulsionadas pelas ideias que transmite. Por isso, resulta tão tentador o fato de possuir as rédeas desse poder – desde meios de comunicação com alcance massivo ou por distintas plataformas políticas – cuja incidência sobre a coletividade tem a capacidade de mudar a rota da história.
A História, precisamente, nos tem ensinado com particular abundância como um discurso potente e hábil possui o poder de transformar o pensamento de todo o povo apelando aos seus impulsos básicos, aproveitando-se de suas carências, conduzindo-o para a ação. A legitimidade deste recurso – sempre e quando o poder dessa palavra possua um valor positivo – reside na intenção por trás desse apelo.
Em tempos passados, tanto como no mundo que nos rodeia hoje, seguimos dependendo daquilo que outros nos comunicam. Pode-se afirmar que sob o fluir da palavra, escrita ou oral, subjaz a necessidade de acreditar nela. Por isso, ao carecer de recursos infalíveis para discriminar entre a verdade e a mentira, somos uma massa maleável para aqueles que possuem o controle da informação e a propriedade das plataformas de onde a transmitem ao mundo.
A força do discurso incide com ênfase no pensamento dos povos.
Carolina Vásquez Araya é colaboradora da Diálogos do Sul na Cidade da Guatemala.
Tradução de Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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