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Mais mortos? Peru agenda protestos e governo Boluarte responde: "Sabemos como responder"

Declarações oficiais indicam que, se já houve 70 mortos na primeira etapa dos protestos, agora haverá mais
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Não há dúvida que o regime atual comete erros a cada dia. Eles aparecem nas declarações cotidianas de Dina Boluarte e seus porta-vozes, nas resoluções do Congresso da República, na conduta do Poder Judiciário, nas decisões do Tribunal Constitucional, no comportamento do Ministério Público e nas ações da “Grande Imprensa”. Todos eles somam uma só vontade que desperta a ira dos peruanos. 

Nos últimos dias ocorreram novos fatos francamente deploráveis. A precária inquilina do Palácio de Governo ameaçou com descaramento toda a população a propósito da mobilização popular programada para este mês julho. Como se não fosse nada, optou por perguntar às pessoas o que querem: Mais mortos? 

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Em idêntica linha, o titular do interior também se referiu ao tema e disse mais ou menos textualmente: “se querem protestar, protestem; nós já sabemos como devemos responder”.

Em outras palavras, a opinião do Executivo é clara. Se já houve 70 mortos na primeira etapa do protesto, agora haverá mais. Só lhes faltou dizer a estes personagens de opereta que a vontade do Executivo é simplesmente somar mortos. 

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Estas declarações não só constituem uma advertência. São, sobretudo, uma ameaça que tem fundamento. O regime não só conta com a experiência acumulada em algo mais de 6 meses de gestão, mas também – se fosse necessário – com a ajuda do exército de outro país. Os soldados ianques, chegados recentemente ao nosso solo, já estarão “operativos” para a data em que está programado o protesto.

Declarações oficiais indicam que, se já houve 70 mortos na primeira etapa dos protestos, agora haverá mais

Reprodução/Twitter
Aceitação de Dina Boluarte registra uma nova baixa e o Congresso da República cai apenas ao 6%

Congresso da República

Por outra parte, e nesse mesmo marco, o Congresso da República faz das suas. Procedendo de maneira anticonstitucional, resolveu que a Mandatária de hoje governe à distância e se valha dos meios eletrônicos para executar suas ações. Por isso, assegurou a Dina Boluarte o “direito” de reter as rédeas do Poder estando no exterior. 

Esta é uma decisão contrária ao texto da Carta Magna, que não por capricho assinala qual é a sede do governo, e contravêm também a prática completa que aponta: cada vez que se dita uma disposição de governo indica-se “dado na casa de governo”. Para os detentores do Poder, a “casa de governo” é uma ferramenta portátil e como tal, se pode transladar de um confim a outro. 

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O Congresso, adicionalmente, destituiu e inabilitou uma promotora suprema pela simples razão de que ela não agiu como ambicionam os hoje ocupantes da sede do Congresso.

Na realidade, a sanção contra Zoraida Ávalos é um ataque aberto ao Ministério Público e tem o caráter de uma vingança. A maioria parlamentar não lhe perdoa ter disposto ações contra pessoas da Máfia, como o promotor Chavarri. Adicionalmente, é uma advertência, uma maneira de dizer a outros promotores que também poderão ser vitimados de igual modo. 

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Neste marco, é deplorável que as votações recentes “somem coincidências”. Não só as bancadas da ultradireita aportaram seus votos, mas também – com honrosas exceções – o fez o “Peru Livre” e alguns representantes do “Bloco do Magistério”. Sem os votos deles, não teria sido possível aprovar as disposições citadas. 

No esforço por construir uma precária “maioria parlamentar”, foram manipulados também os congressistas “vulneráveis”. Os “meninos” que recebem salário e outros acusados por qualquer de suas ações, entregaram seus votos, em troca de que não lhes aconteça nada. Dito de outro modo, fizeram uma troca para “salvar-se”. Essas decisões, além de muitas outras, pintam de corpo inteiro aqueles que integram hoje o Poder Legislativo. Atuam como se tivessem um garrote na mão e o usam como permanente ameaça.

Poder Judiciário

O Poder Judicial não fica atrás. Não só “convalidou” a ilegal detenção e destituição de Pedro Castillo, senão que além disso atacou Betsy Chávez. Essa também foi uma advertência. Uma maneira de dizer: “aqui ninguém está a salvo”. 

O Ministério Público joga o seu próprio jogo. Mas o faz à sombra dos três poderes anteriores, submetidos ao controle da direita mais reacionária. Conduta similar observa o Tribunal Constitucional, que fora eleito por uma soma de votos procedente das bancadas da extrema direita e a adesão também de “Peru Livre”. 

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Todas estas ações, atrás das quais assumo o perfil da Keiko, são saudadas pela “Grande Imprensa” que se empenha em respaldar não o que interesse ao país, mas a ela mesma e seus aliados. É por certo uma maneira de consolidar um bloco que garanta a capacidade operativa da Classe Dominante. 

A cidadania rechaça categoricamente tudo isto. Por isso, a aceitação de Dina Boluarte registra uma nova baixa e o Congresso da República cai apenas ao 6%. 

É claro, então, que a esta reunião de bruxas, o povo a detesta.

Gustavo Espinoza M. | Colaborador da Diálogos do Sul em Lima.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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