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Candidatura de Moro não vai longe porque vai expor que ele fez do Brasil colônia dos EUA, diz analista

“A verdade é que estamos à mercê do que os EUA definem para nós. Espantoso são as Forças Armadas aceitarem isso”, afirma André Martin
Amaro Augusto Dornelles
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

“90% da população brasileira, ou mais, não sabe que o Moro é agente da CIA. Está comprovado que ele destruiu o Brasil para beneficiar multinacionais, entregou o petróleo brasileiro. Ele faz um papel que interessa à Inglaterra e aos EUA.” 

É o que diz o professor titular de Geografia Política na Universidade de São Paulo (USP) e integrante da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) André Martin, em entrevista exclusiva concedida à Diálogos do Sul.

As pessoas tampouco estão cientes que sua esposa, Rosangela Wolf Moro, foi advogada da Shell e muito menos que o casal teria beneficiado acionistas da petroleira inglesa.

Nesta quarta-feira (10), Moro efetivou sua filiação ao partido Podemos. Assim, está pronto para concorrer efetivamente à presidência da República. O fato ocorre após o agora pré-candidato impedir o favorito às eleições em 2018, Lula, de concorrer, o que deixou as portas escancaradas para Bolsonaro e a corja se apoderarem de Brasília

Se depender da mídia, Moro já está eleito. O Brasil precisa fugir do neoliberalismo, defende a esquerda. Mas quem vai assumir candidatura apontando nacional desenvolvimentismo contra novos liberais?

O ex-juiz que virou espião do Pentágono após ser desmascarado em gravações da VazaJato é festejado pela mídia hegemônica como esperança da terceira via. É mole? O juiz nanico pode virar mega candidato caso todo esse poder se transforme em dinheiro vivo para a campanha…

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Acompanhe, a seguir, a entrevista. Boa leitura!

Diálogos do Sul: Sérgio Moro volta às manchetes do país como candidato a presidente, pelo Podemos. É “carne nova” na sucessão do “explosivo” capitão.  Despedido do governo, o ex-juiz conseguiu um empregão nos Estados Unidos. Ganhava em dólares na Alvarez&Marsal para salvar empresas nacionais — como Odebrecht —  que ele mesmo arruinou.

André Martin: Acho essa coisa de terceira via uma falácia. Na verdade, o que nossa burguesia tem e quer é só o neoliberalismo. Eis o grande problema. Porque o neoliberalismo se apresenta para a burguesia com duas faces, eventualmente três. Mas todas são a mesma coisa. 

Por isso, o grande problema da esquerda é quem será o vice de Lula. Conforme o PT defina o vice na chapa ele e o partido poderão manter-se ou não no neoliberalismo. E para que ele se mantenha no neoliberalismo, a direita joga com Bolsonaro. E agora, desesperada, tenta jogar com a hipotética terceira, recriando a opção Moro. 

Considera que a jogada tem futuro?

Não creio que ela vá muito adiante. Por duas razões: Moro está muito confortável nos EUA — recebendo as gratificações por tudo o que fez contra o Brasil em favor dos norte-americanos. Ele não teria porque voltar e se expor à revelação da verdade (que se tornou pública depois do vazamento das gravações da Vaza Jato). Na minha opinião, a omissão da candidatura Moro é importante porque caso ela venha a se expor o brasileiro saberá a verdade. O que a burguesia quer impedir é que o povo saiba a verdade. 

Qual é a verdade, além das provas do fato dele ser espião dos EUA?

A verdade é que o Brasil tornou-se uma colônia dos EUA com a operação Lava Jato.

“A verdade é que estamos à mercê do que os EUA definem para nós. Espantoso são as Forças Armadas aceitarem isso”, afirma André Martin

Palácio do Planalto
O ex-juiz que virou espião do Pentágono após ser desmascarado em gravações da VazaJato é festejado pela mídia como esperança da 3° via.

Semanalmente, a mídia hegemônica noticiava viagens de Moro à matriz sem sequer revelar o motivo na maioria das vezes. Virou rotina…

Pois é, o governo Bolsonaro é só a continuidade disso: o títere que serve à submissão do país. Moro é o mais radical defensor de tal posição. Devo lembrar que toda a nossa burguesia, a mídia — nosso capitalismo de araque — continuam ligados nessa postura submissa. Basta ver o silêncio (sepulcral) diante da vacina russa Sputnik. Ela era para ser produzida no Brasil e vendida na América Latina. Essa era a estratégia russa para a América Latina. Então, o silêncio em torno da sabotagem ianque à Sputnik foi aceito candidamente sem qualquer discussão…

Nem a CPI tratou do assunto…

A verdade é que estamos à mercê do que os Estados Unidos definem para nós. O que é mais espantoso são as Forças Armadas aceitarem tudo isso.

Por falar em milico, qual é a sua opinião sobre a candidatura de Santos Cruz? Ela não poderia enfraquecer a força do juiz espião?

Essa turma adoraria uma chapa Moro com Santos Cruz. Seria a consagração para eles, uma continuidade do bolsonarismo sem Bolsonaro. Mas isso é tudo inviável, pois Bolsonaro leva a isso. A terceira via é uma falácia. Se se buscar continuar com o neoliberalismo, o ex-capitão é que vai ficar como representante dessa corrente. Eles não vão ter tempo para criar uma imagem humana para o neoliberalismo. Esta imagem humana é o próprio Lula. Esta é que é a questão. Na verdade, o que o Brasil precisa é fugir do neoliberalismo. E até agora não há nenhuma candidatura apontando nessa direção.

Porque o PT flerta com o neoliberalismo?

Eles não assumem essa questão como central. No último 7 de setembro, o país comemorou o bicentenário da Independência. Sabe o que precisamos comemorar? Independência ou Morte. Ou nos tornamos uma potência industrial, soberana, afastada da submissão aos EUA, ou vamos sucumbir como uma colônia, protetorado. 200 anos depois, estamos decidindo outra vez se a nação quer sobreviver, quer a independência ou a morte. O que acho difícil é as forças que estão se organizando entenderem isso. Nessa próxima eleição acho difícil alguém apresentar isso, que é essencial para o povo brasileiro. As candidaturas não estão demonstrando claramente a decisão histórica tão importante como essa, a ser tomada neste momento, em favor do nacional desenvolvimentismo.  

Moro conta com o apoio da imprensa dominante como se fosse um santo guerreiro da causa popular — a despeito da farta cobertura de seus crimes pela mídia de Europa e EUA. O ego do fulano não poderia falar mais alto na hora de arriscar a candidatura?

Pode sim. É preciso pôr os pés no chão, você tem razão. O Podemos — cria do velho Álvaro Dias, que vislumbra seu espaço na política batendo na tecla da luta contra a corrupção — vai tentar desesperadamente emplacar Moro candidato. O sonho dourado neoliberal é a chapa Moro com Datena como vice. Ciro Gomes também quer Datena como vice. Já o Fernando Henrique Cardoso (PSDB) trabalha com uma chapa Ciro Gomes e Eduardo Leite (PSDB). Isso aí não vai dar em nada, vai coalhar. 

André Martin é professor titular de Geografia Política na Universidade de São Paulo (USP) e integrante da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED).

Eduardo Leite não pode ser subestimado. Afinal, o agrado que ele fez aos ianques não deve ter passado despercebido. Antes mesmo de Fidel Castro e a Revolução Cubana, Brizola nacionalizou empresas dos EUA como ITT e Born’Share de eletricidade. Leite vendeu parte da CEEE pela merreca de R$ 100 mil. 

Claro que não, do ponto de vista eleitoral a chapa é inteligente, não dá para menosprezar. Para FHC — na opinião dele, é a melhor opção para uma terceira via. Já dentro do PDT, é difícil separar a imagem de Ciro do nacional desenvolvimentismo, estatismo. O fato é que eles estão desesperados. A burguesia busca essa terceira via para não se identificar com o bolsonarismo. Mas isso não vai ser possível, eles vão tentar de qualquer jeito, vamos ver o que vai acontecer. 

O DEM se fundiu com o PSL pra criar o partido União Brasil. Eles não têm candidato, talvez o Moro entre nessa também. Outra ideia trabalhada é a chapa Moro com Luiz Henrique Mandetta — o primeiro ministro da Saúde. São todos balões de ensaio que não sobrevivem à força de Bolsonaro. A questão chave é: vamos continuar com o neoliberalismo? Entramos no jogo das três candidaturas postas? O jogo do grande capital é esse: dar opções, mas são todas as candidaturas neoliberais: Bolsonaro, Lula e uma terceira via que segue a mesma estrada.

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Quem seria o candidato a vice do PT pra satisfazer o neoliberalismo?

Tem uma corrente no próprio PT que defende a indicação de Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda de Lula e atual Secretário da Fazenda e Planejamento do Estado de São Paulo. Ou então Luiza Trajano, dona do Magazine Luiza. Deixaram para traz o filho de José Alencar — antigo vice na chapa vencedora do PT. Foi descartado, quem está forte é a Luiza Trajano. Se for por essa linha acho que o PT vai se complicar.

Esta amnésia hipócrita da imprensa sobre o papel de Moro no golpe contra Dilma Rousseff — desmascarado na Vaza Jato — serve para turbinar a candidatura dele?

Ora, a imprensa é corresponsável pelo golpe contra a Dilma. O bolsonarismo é fruto da Lava-jato e a mídia não quer se misturar com isso. Tenta se diferenciar.

Por quê?

A mídia quer salvar o neoliberalismo. O problema é que agora o neoliberalismo está irremediavelmente enroscado com Bolsonaro. É impossível sair disso. É por isso que na escolha do vice, o PT e Lula precisam romper com a agenda neoliberal — quer vigora no Brasil desde Collor

O PT perdeu a eleição por causa disso: a burguesia temia que Lula levasse o País para um sistema estatizante, socialista, comunista. Não foi nada disso. Mas agora eles ainda pensam na hipótese de o PT voltar a uma agenda mais nacionalista, socialista. Nada disso eles querem. Ora, se a burguesia não quer dar uma migalha para o povo, então eles devem continuar com o Bolsonaro.

Não acredito em outra candidatura que não seja a do próprio Bolsonaro. O capital vai ficar com Bolsonaro. No máximo vai tentar chantagear o PT. Ou Lula aceita a agenda deles, ou eles ficam com Bolsonaro. Aliás, só não há impeachment [de Bolsonaro] por causa disso.

Porque a burguesia não quer o impedimento de alguém que enfia os pés pelas mãos cada vez que abre a boca?

Nem Congresso Nacional, nem mídia, nem Bolsa de Valores. Ninguém quer saber desse assunto, pois todos estão ganhando dinheiro. E bem ou mal, o presidente é uma ameaça a Lula.

O isolamento internacional do país, a queda do investimento estrangeiro, nada disso pesa?

Trata-se de um isolamento de imagem, o saque continua. Eles todos são hipócritas também, o saque do Brasil para eles é bom. Isolam o pateta e continua o saque do país.

Moro não seria um instrumento muito mais dócil, maleável?

90% da população brasileira, ou mais, não sabe que o Moro é agente da CIA. Está comprovado que ele destruiu o Brasil para beneficiar multinacionais, entregou o petróleo brasileiro. Ele faz um papel que interessa à Inglaterra e aos EUA. 

É um agente do imperialismo inglês e ianque. É muito importante a ligação da família dele com a Shell. Rosangela Wolf Moro foi advogada da Shell e Moro beneficiou os acionistas da petroleira inglesa. Estão minando a Petrobrás por dentro e por fora. Por dentro com os acionistas minoritários, com essa política de busca de dividendos a qualquer custo e por fora destruindo a empresa. 

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Explica melhor essa questão dos dividendos, por favor.

Não se tem nenhuma restrição à distribuição de dividendos. Então a Petrobras passa a ter a política de buscar o maior lucro possível durante o ano para distribuir o maior volume possível de dividendos aos acionistas minoritários — uma verdadeira caixa preta. Quem são os donos de 49% das ações? Moro é um deles, tem muitas ações. 

Ele ganhou muito dinheiro com a Petrobras. Vergonha absoluta, o país foi traído. A maior corrupção possível é a traição à pátria. É inaceitável que os militares tenham se rendido ao ex juiz. Eles condecoraram Sérgio Moro com a medalha do pacificador, dada pelo Exército a quem presta serviços relevantes ao país. 

Herói da Pátria por combater a corrupção! Militares que se presaram a isso deveriam entregar seus cargos. Por estupidez ou traição deliberada, entregaram o país que tinha toda a condição de se tornar uma das maiores potências mundiais para cair para nesta vexatória posição de pária mundial.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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