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Amparo à família de Moïse não apaga responsabilidade e inércia do Poder Público

Estado deveria se antecipar para evitar atos de violência contra um refugiado que lutava para sobreviver ou contra qualquer outro cidadão
Claúdio di Mauro
Diálogos do Sul Global
Uberlândia (MG)

Tradução:

É muito recente o assassinato de Moïse KabagambeCongo, em busca de paz e trabalho para sobreviver com dignidade; mais um migrante que acreditou na vida democrática no Brasil; mais um migrante que acreditava que no Brasil não há racismo, excludente.

Um jovem trabalhador que tinha direito a receber as diárias pelo seu trabalho, mas que foi tratado como um bandido a ser banido. Assim é, que os responsáveis pelo assassinato afirmaram que tinham a intenção de aplicar um “corretivo” no jovem negro. Daí foi um passo para o linchamento em uma região da cidade que é reconhecida como de controle das milícias.

Esse crime não aconteceu em um bairro popular ou favela do Rio de Janeiro, mas em frente ao quiosque onde Moïse trabalhou, na Barra da Tijuca. Estudos de sociólogos informam que no Brasil há pelo menos um linchamento por dia podendo chegar até três.

Tristes sonhos daqueles que buscam trabalho e melhores condições de vida, o que não se configura em realidade deste país.

As pesquisas do sociólogo José de Souza Martins analisando casos de linchamento, constataram que 2579 pessoas foram vítimas desse tipo de crime; muitas foram salvas pela polícia, mas nem todas tiveram a mesma sorte. Desse total, 1221 vítimas foram agredidas fisicamente, sendo feridas ou mortas por ataques brutais.

Estado deveria se antecipar para evitar atos de violência contra um refugiado que lutava para sobreviver ou contra qualquer outro cidadão

Reprodução/YouTube
O quiosque onde o jovem congolês trabalhava deverá ser entregue para que a família com ele sobreviva

O Brasil, nos atos praticados no assassinato de Moïse e tantos outros, mostra sua verdadeira face que prevalece, um país cujo poder está nas mãos dos brancos, donos das terras e dos meios de produção. Esse é o país do neofascismo, que está no controle político do Brasil, nestes tristes momentos. Há sempre quem dirá que não podemos generalizar essas constatações. Mas, o que acontece é que não prevalecem os endinheirados, que não estão diretamente envolvidos com essas arbitrariedades. Daí, como não há neutralidade nessas disputas, ficam reconhecidos com o que prevalece, ou seja, com a brutalidade que mata negros, mulheres, índios, jovens, desmata floresta e a vegetação nativa.

Os que não comungam com essas concepções, no entanto, são utilizados como “escoras” para vender a imagem de “bons moços”. Esses são os chamados “bons moços” que dão sustentação à vazão para o governo neofascista. Governo que radicaliza nas exclusões e nos assassinatos de desterritorializados, subalternizados que deveriam ter suas vidas respeitadas.

No caso do assassinato de Moïse, as repercussões nacionais e no estrangeiro são de enorme monta. Com isso, as autoridades do Rio de Janeiro que precisariam se antecipar, fazendo prevenção para evitar que ocorram crimes e situações como essa, agora tomaram decisão de transformar os quiosques em memorial em homenagem à cultura congolesa e africana como um todo. 

O poder público deveria se antecipar fazendo prevenção para evitar tais atos de violência contra um refugiado que lutava para sobreviver e contra todo e qualquer cidadão. A propriedade do quiosque é atribuída a um policial militar que seria o patrão de Moïse, fato contestado pela irmã do policial. Ou seja, se a história for comprovada, quem deveria oferecer segurança para os cidadãos assume a autoria do crime. Matar por espancamento, que coisa lamentável. Não há como dizer que foi apenas uma agressão. Foi agressão continuada e em grupo, covardemente.

O quiosque Biruta, onde o jovem congolês trabalhava, deverá ser entregue para que a família com ele sobreviva. A administradora dos quiosques, a Orla Rio, está se comprometendo a isentar a família de Moïse do pagamento de aluguel, que segundo a concessionária poderia variar de 1 mil reais até 12 mil reais por mês. Ainda, a revitalização do quiosque será feita com a prefeitura. Essas informações, assumidas pelo prefeito Paes, foram publicadas pelo portal O Povo.

Assista na TV Diálogos do Sul

Enquanto isso, pululam manifestações por todo o Brasil clamando justiça para o crime hediondo praticado contra Moïse. Esse crime explicita a questão articulada entre os fatos de que os migrantes e refugiados são denegados, ainda mais e com maior veemência quando são negros. Trata-se da história do racismo radicalizada no Brasil. Racismo que se concretiza acidamente na luta de classes. Migrante, negro, subalternizado por diversos motivos… tudo isso junta os elementos explosivos daqueles que o capitalismo entende que precisam ter seus CPFs cancelados. Morram os empobrecidos, essa é a manifestação desta sociedade doentia que habita as estruturas do poder no Brasil.

O Brasil precisa rejeitar essa realidade e promover a vitória da solidariedade de classe. Os subalternizados, negros, LGBT+, mulheres vitimizadas, jovens e adolescentes tratados com desprezo precisam estar unidos para vencer todas as formas de descriminalização, de violência na exploração e segregação de seres vivos.

Claudio di Mauro


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul


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