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Ampliação do Canal do Panamá: A verdade se fortalece quando conhecida

Nils Castro

Tradução:

Nils Castro*

Nils-CastroDiante das controvérsias sobre as obras de ampliação do Canal do Panamá, outra vez os panamenhos estão a enfrentar uma controvérsia com importantes interesses estrangeiros sobre nossos direitos a decidir sobre os recursos do país, e sobre o dever de rechaçar toda pretensão saqueá-los e de nos chantagear. Esses que agora se arvoram estão longe de ser o adversário mais forte e hábil que já tivemos que enfrentar.

Não foi a ACP que reduziu o número de trabalhadores, paralisou as subcontratada e por fim suspendeu os trabalhos,  mas sim o consórcio.
Não foi a ACP que reduziu o número de trabalhadores, paralisou as subcontratada e por fim suspendeu os trabalhos, mas sim o consórcio.

Somos um país pequeno com uma localização geográfica estratégica que as grandes potencias – e diferentes transnacionais – têm cobiçado. Resgatar e defender sua integridade territorial e autodeterminação, assim como a soberania sobre os recursos que facilitam o cruzamento do istmo, sempre exigiram o sentimento de nacionalidade que Justo Arosemena representou durante a dura controvérsia do Estado Federal contra a prepotência e abusos da companhia ferroviária. Um sentimento que combina firmeza e astúcia ou, como García Márquez disse de Torrijos diante dos gringos, uma mescla de mula com tigre.
Não podemos defender a pátria com o ronco de nossos exércitos nem o poder de nossa economia. Mas sim com o domínio do direito e dos mecanismos, meandros e oportunidades de sua instrumentação, juntando integridade, perspicácia negociadora e o apoio social necessário para lidar com êxito os oponentes que dispõem de recursos monetário e midiáticos com que alugar mentes servis, tergiversar os fatos e colocar cavalos de Tróia.
Na controvérsia com o grupo encabeçado por Impregilo e Sacyr, a equipe da Autoridade do Canal de Panamá (ACP) tem sido lúcida, firme e eficaz no manejo de um tema legal e financeiramente complexo, no qual não cabe cometer erros de conteúdo nem de forma. Os que compartilhamos o sentimento de identidade e compromisso nacional, podemos nos sentir satisfeitos; em um país onde já tudo parecia perdido, o exemplo da ACP volta a nos dar algo do que nos orgulharmos. Por isso outros se empenham em desacreditá-la.
Porém, o que é que o mundo sabe sobre o que está ocorrendo aqui? As agências de notícias obedecem às políticas informativas de seus editores, e seus correspondentes as vezes não entendem o que realmente ocorre por trás das aparências. Por isso, esclarecer a opinião pública local, continental e europeia constitui parte vital para a questão, pois a continuidade de melhor informação resulta indispensável para fortalecer a mobilização solidária – nacional e internacional- que o país precisa.
É preciso, por exemplo, deixar claro que o Canal do Panamá não tem nenhum problema. Os panamenhos o modernizaram e agora é mais eficiente, seguro e rentável que nunca, para a maioria dos barcos do mundo, apesar de que logo completará 100 anos. Tanto é que no trimestre passado registrou novos recordes de trânsito, tonelagem e lucros. Por isso a ACP é uma instituição autônoma com grande fortaleza financeira. Quem tem problemas é o outro. A conclusão da rota alargada, paralela ao velho Canal, está atrasada pelas ineficiências operacionais e as desordenadas finanças do consórcio a cargo da obra. E que ainda pretendeu ameaçar o país com paralização dos trabalhos, e agora se deu conta de que a ACP pode concluir a obra por si mesma, e que está disposta a fazê-lo.
Não obstante, alguns correspondentes repetem a cantilena de que o consórcio fundamenta suas demandas em um suposto sobre-custo de 1.600 milhões de dólares. Porém esta é uma quantia fantasiosa, inventada por uns astutos para tentar regatear sem que em momento algum comprovasses essa cifra. Há também certa imprensa que insiste nas perdas dos portos que investiram para poder receber os grandes barcos que transitarão pela rota alargada, passando por alto que a demora não teve origem na parte panamenha, mas nas ineficiências no campo do consórcio e a ardilosa ocorrência de baixar o ritmo das obras  até paralisá-las, para pressionar a ACP. Ou, repetem que o atraso da obra diminuirá os ingressos ao país, sem quantificar as perdas que custaria ceder à chantagem do consórcio.
Esses correspondentes tampouco contam que não foi a ACP que reduziu o número de trabalhadores, paralisou as subcontratada e por fim suspendeu os trabalhos,  mas sim o consórcio. Assim, é o consórcio que deve responder diante das reclamações do movimento operário por prestações e salários que os trabalhadores estão deixando de receber.
Como bem aclarou o administrador do Canal, Jorge Quijano, a ACP pode manejar com êxito a intrincada instrumentação jurídica e cada um dos prazos da controvérsia, porque tem toda a verdade a seu favor. Não obstante, vale recordar que a verdade só prevalece quando é amplamente conhecida, pois é assim que poderá iluminar as vontades de milhões de cidadãos.
*Escritor, diplomata, professor e membro da equipe de colaboradores de Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Nils Castro Um dos mais prestigiados intelectuais da região. É autor do livro “As esquerdas latino-americanas em tempo de criar”

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