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ToggleA pandemia do coronavírus que o mundo vive permite entender a forma como os países agem diante do quadro de agravamento em seus sistemas de saúde internos.
Importante ressaltar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) ao decretar emergência de saúde de importância internacional e dias depois elevar para a categoria de pandemia, fez com que as nações mais industrializadas se atentassem para sua limitação da capacidade de operação para atender a demanda de seus nacionais.
Ficou evidente que, uma vez infectados, os cidadãos passariam a depender de serviços de saúde oferecidos pelos governos e que o sistema colapsaria em pouco tempo.
Reprodução: Air Force Photos
Medicos em todo mundo lutam contra a falta de equipamentos e EPIs
Os recentes exemplos de Itália e Espanha demonstram este fato. Com o sistema interno de saúde esgotado, passaram a contar com o auxílio de nações estrangeiras, como Rússia, China e Cuba para proporcionar atendimento e remediar os pacientes, já que a falta de insumos e de Equipamento de Proteção Individual (EPI) é crônico no atual momento.
Entretanto, há de se notar que a falta de coordenação global também auxilia no agravamento do quadro. Enquanto chefes de Estado e de governo debatiam a necessidade de adotar medidas de contenção pela via do distanciamento social e da quarentena, os números de infectados chegavam à marca dos milhões e mortos ultrapassaram a cifra de 17 mil, no momento em que publico este artigo.
Os números foram capazes de alterar a diretriz de discursos de líderes mundiais, como Donald J. Trump, motivado pela campanha de reeleição e não pelo sofrimento da população que não tem acesso público de saúde, diga-se de passagem.
A situação é mais grave onde há governos notadamente de direita, que insistem em destruir o parque industrial nacional, bem como em reduzir paulatinamente os investimentos em ciência, tecnologia, ensino e pesquisa. O sucateamento agora exige um preço alto que as autoridades teimam em esconder.
O fator China
Na atual guerra de combate à Covid-19 os países, inclusive o Brasil, ciente de suas limitações já exaradas pelas autoridades do Ministério da Saúde, necessitam obter insumos no exterior, notadamente da China, para enfrentamento da pandemia em território nacional. Para isso, o governo central brasileiro já decretou estado de calamidade pública, o que o permitirá efetuar compras sem licitação e, ainda, estar autorizado pelos demais poderes a não cumprir as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal, desde que os gastos sejam exclusivamente direcionados ao combate à covid-19.
Este não é um problema exclusivo do Brasil. Os demais países também estão com alta demanda e baixa produção, o que indica o mesmo caminho em direção à China, que, por sua vez, não consegue atender todas as solicitações ao mesmo tempo, criando uma dependência ao mesmo tempo em que monopoliza a produção, deixando o mundo de joelhos. Basta uma análise rápida para saber que isso não é salutar para a manutenção de independência de qualquer nação. É aí que mora o perigo.
A China é o maior parceiro econômico do Brasil — recentemente as relações diplomáticas sino-brasileiras comemoraram 45 anos —, mas tal diplomacia pode ou poderá estar estremecida, já que parte de membros do legislativo e executivo apontaram o país asiático como causador da pandemia e têm conspirado contra os interesses da nação. O fato demonstra o amadorismo da política externa do Itamaraty e o povo irá sentir os reflexos disso.
Capitalismo sórdido
Além da crise desnecessária com a China, assistimos perplexos à tomada unilateral de decisões de países como Estados Unidos da América e França que têm confiscado produtos de combate à pandemia destinados a outras localidades, isso quando não oferecem preço maior do que o normal para obtê-los.
Nesta síntese, denota-se que em tempos de crise e de guerra, como agora, no momento de combate ao coronavírus, é importante ver como os países capitalistas mais ricos buscam assegurar para si os meios produzidos, já que eles não são suficientes para atender à demanda mundial. Trata-se, portanto, da face mais sórdida do capitalismo e do nacionalismo preconizados pela política do America First que, além dos EUA, atinge outros países da Europa onde a crise é severa e a preocupação com os demais, vazia.
O egoísmo dos principais países capitalistas se reflete nos países periféricos, pois para eles importa defender e proteger a vida de seus cidadãos: a dos demais são descartáveis.
* Rogério do Nascimento Carvalho é doutorando no Programa de Integração da América Latina – Universidade de São Paulo (USP) e mestre pela Escola de Guerra Naval