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Combate ao coronavírus expõe faceta sórdida de países ricos: vidas são descartáveis

A situação causada pela Covid-19 é mais grave onde há governos de direita que destruíram parque industrial nacional. Sucateamento agora exige um preço alto que as autoridades teimam em esconder
Rogério do Nascimento Carvalho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

A pandemia do coronavírus que o mundo vive permite entender a forma como os países agem diante do quadro de agravamento em seus sistemas de saúde internos.

Importante ressaltar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) ao decretar emergência de saúde de importância internacional e dias depois elevar para a categoria de pandemia, fez com que as nações mais industrializadas se atentassem para sua limitação da capacidade de operação para atender a demanda de seus nacionais. 

Ficou evidente que, uma vez infectados, os cidadãos passariam a depender de serviços de saúde oferecidos pelos governos e que o sistema colapsaria em pouco tempo.

A situação causada pela Covid-19 é mais grave onde há governos de direita que destruíram parque industrial nacional. Sucateamento agora exige um preço alto que as autoridades teimam em esconder

Reprodução: Air Force Photos
Medicos em todo mundo lutam contra a falta de equipamentos e EPIs

Os recentes exemplos de Itália e Espanha demonstram este fato. Com o sistema interno de saúde esgotado, passaram a contar com o auxílio de nações estrangeiras, como Rússia, China e Cuba para proporcionar atendimento e remediar os pacientes, já que a falta de insumos e de Equipamento de Proteção Individual (EPI) é crônico no atual momento.

Entretanto, há de se notar que a falta de coordenação global também auxilia no agravamento do quadro. Enquanto chefes de Estado e de governo debatiam a necessidade de adotar medidas de contenção pela via do distanciamento social e da quarentena, os números de infectados chegavam à marca dos milhões e mortos ultrapassaram a cifra de 17 mil, no momento em que publico este artigo. 

Os números foram capazes de alterar a diretriz de discursos de líderes mundiais, como Donald J. Trump, motivado pela campanha de reeleição e não pelo sofrimento da população que não tem acesso público de saúde, diga-se de passagem.

A situação é mais grave onde há governos notadamente de direita, que insistem em destruir o parque industrial nacional, bem como em reduzir paulatinamente os investimentos em ciência, tecnologia, ensino e pesquisa. O sucateamento agora exige um preço alto que as autoridades teimam em esconder.

O fator China

Na atual guerra de combate à Covid-19 os países, inclusive o Brasil, ciente de suas limitações já exaradas pelas autoridades do Ministério da Saúde, necessitam obter insumos no exterior, notadamente da China, para enfrentamento da pandemia em território nacional. Para isso, o governo central brasileiro já decretou estado de calamidade pública, o que o permitirá efetuar compras sem licitação e, ainda, estar autorizado pelos demais poderes a não cumprir as regras da Lei de Responsabilidade Fiscal, desde que os gastos sejam exclusivamente direcionados ao combate à covid-19.

Este não é um problema exclusivo do Brasil. Os demais países também estão com alta demanda e baixa produção, o que indica o mesmo caminho em direção à China, que, por sua vez, não consegue atender todas as solicitações ao mesmo tempo, criando uma dependência ao mesmo tempo em que monopoliza a produção, deixando o mundo de joelhos. Basta uma análise rápida para saber que isso não é salutar para a manutenção de independência de qualquer nação. É aí que mora o perigo. 

A China é o maior parceiro econômico do Brasil — recentemente as relações diplomáticas sino-brasileiras comemoraram 45 anos —, mas tal diplomacia pode ou poderá estar estremecida, já que parte de membros do legislativo e executivo apontaram o país asiático como causador da pandemia e têm conspirado contra os interesses da nação. O fato demonstra o amadorismo da política externa do Itamaraty e o povo irá sentir os reflexos disso.

Capitalismo sórdido

Além da crise desnecessária com a China, assistimos perplexos à tomada unilateral de decisões de países como Estados Unidos da América e França que têm confiscado produtos de combate à pandemia destinados a outras localidades, isso quando não oferecem preço maior do que o normal para obtê-los.  

Nesta síntese, denota-se que em tempos de crise e de guerra, como agora, no momento de combate ao coronavírus, é importante ver como os países capitalistas mais ricos buscam assegurar para si os meios produzidos, já que eles não são suficientes para atender à demanda mundial. Trata-se, portanto, da face mais sórdida do capitalismo e do nacionalismo preconizados pela política do America First que, além dos EUA, atinge outros países da Europa onde a crise é severa e a preocupação com os demais, vazia. 

O egoísmo dos principais países capitalistas se reflete nos países periféricos, pois para eles importa defender e proteger a vida de seus cidadãos: a dos demais são descartáveis.

* Rogério do Nascimento Carvalho é doutorando no Programa de Integração da América Latina – Universidade de São Paulo (USP) e mestre pela Escola de Guerra Naval

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Rogério do Nascimento Carvalho

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