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Mourão faz apologia do fascismo e quer punir as torcidas que pedem democracia

O artigo publicado pelo vice-presidente na página editorial do Estadão, parece ter sido escrito por algum assessor da embaixada dos Estados Unidos
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

O general Hamilton Mourão, aquele que foi punido pela presidenta Dilma Rousseff por pregar golpe e hoje ocupa a vice-presidência da República, lá tendo chegado através de eleição fraudada, em artigo hoje demonstra uma total inversão de valores da democracia.

O artigo publicado na página editorial do Estadão, como anteriores, parece ter sido escrito por algum assessor da embaixada dos Estados Unidos. Eles contam com especialistas de grande talento para ajudar a seus áulicos e alimentar a mídia corporativa na sustentação do capitalismo.

O artigo publicado pelo vice-presidente na página editorial do Estadão, parece ter sido escrito por algum assessor da embaixada dos Estados Unidos

Reprodução: Winkiemedia
Hamilton Mourão escreveu artigo polêmico ao jornal Estado de S.Paulo

Cinicamente recorre a Thomas Jefferson, eleito em 1800 por um voto. Estava empatado com Aaron Burr, foi salvo por um voto de um confederado e proprietário de escravos e matador de índios, como ele, e, elegeu-se presidente.

Há que considerar que Jefferson era vic-presidente desde 1797 e secretário de Estado de 1790 a 1793. Em 1803 realizou a façanha de comprar a Louisiana da França pagando 3 centavos de dólar por acre. Tem o mérito de ter sido um dos principais formuladores da Declaração de Independência 1776, e ter fundado a universidade de Virgínia, que hoje leva seu nome.

A Constituição estadunidense teve realmente grande influência principalmente nas jovens repúblicas nascidas ao sul do Rio Bravo, que no intuito de separar-se das metrópoles ibéricas, quase que copiaram a dos EUA. Mas isso é outra história.

Vale essa referência porque o Jefferson era um constitucionalista e lutara pela independência de seu país do jugo da coroa britânica. Eis aí a grande diferença entre Jefferson e este governo pretoriano, que está devolvendo o país à condição de colônia.

É um cínico. Recorre a um dos país da pátria dos EUA para dizer que democracia é a prática existencial de tolerância e do diálogo. Por que não citou a Constituição de 1988? Lá estão definidos todos os princípios que regem nossa democracia.

“Qual a ameaça às instituições no Brasil autoriza a ruptura da ordem legal e social? As cenas de violência? (…) Associar o que está acontecendo ao que aconteceu na Alemanha após a 1ª Guerra que levou à tragédia de Hitler é irresponsável e intelectualmente desonesto.”

diz Mourão referindo-se às criticas manifestadas pelo supremo juiz Celso de Mello, o decano do STF.

A linguagem não é de um general brasileiro.

Será que ele não percebe a simbologia contida nas frases e gestos de seus asseclas? Não viu a foto do presidente de ocupação ladeado por dois ministros, cada um com um copo de leite na mão. Ninguém está tentando comparar vocês com os nazistas, cara pálida. São vocês que se comportam como nazistas, agem como nazistas e, pelo visto, são ideologicamente  supremacistas brancos, coisa de nazista.

Mourão acusa os que domingo foram às ruas de baderneiros.

A Mulher, com desenho da bandeira dos Estados Unidos na máscara, com um taco de beisebol -uma arma- agredindo manifestantes na Paulista e protegidas pela PM, essa não era baderneira?. Por acaso essa violência contra uns e benevolência a outros não é ameaça à paz, portanto, às instituições?

Vejam o que aconteceu em Curitiba. Numa manifestação pacífica na capital paranaense, um cara queimou a bandeira brasileira. Provador bolsonarista que se veste com a bandeira dos Estados e de Israel é quem pode queimar a bandeira brasileira. Só quem bate continência para um Trump, pode queimar a bandeira brasileira. Gente. temos que tomar cuidado com as provocações. Nas manifestações pela democracia sempre haverá um infiltrado. Não aceitem as provocações. Se houver, fotografem o provocador e façam um B.O. pela Internet.

No texto,  Mourão quer convencer quem o lê de que nós, a torcida corinthiana e palmeirense é que somos os baderneiros, a provocar violência.

Diz que estão governando e as manifestações induzem à quebra de institucionalidade.

Esses caras violam a constituição a cada gesto, a cada xingamento, a cada aparição pública, e vêm dizer que nós quebramos a institucionalidade. Pode? É técnica ensaiada.

A ministra Damares, aquela que conversou com Jesus trepada numa goiabeira, diz que quer prender todos os prefeitos e governadores porque estão a proteger sua população… e somos nos que ameaçamos a institucionalidade?

Que Jesus é esse? Jesus, por acaso não é aquele que veio para perdoar e redimir?

Diz o vice-presidente que seissentões e setessentões resolveram voltar a seus anos dourados (anos 1950) de agitação  estudantil.

Ora senhor general…. quem estudou um mínimo de história do Brasil terá saudades daqueles poucos anos em que vivemos sob democracia. A nação tem mais é que se orgulhar também dos oitentões, são gerações que estavam criando uma cultura nacional, através do teatro, do cinema, da literatura, arquitetura, artes plásticas, empolgando o mundo com sua música. Como não lembrar do CPC da UNE, da política externa independente, dos planos econômicos de Celso Furtado?

Puro despeito dessa geração que peitou a ditadura que impôs o arbítrio e o retrocesso. Meus caros generais vocês vão ficar na história por terem desmontado o Ministério da Cultura, acabado com a Funarte, destruído a cinemateca, destruído a Funai, a Funasa, o Impe…. Isso não significa nada apenas para quem é fascista e odeia o povo. Destruir a cultura nacional é o objetivo máximo do império, esse novo imperialismo dominado pelo capital financeiro.

Ainda bem que esses seissentões e oitentões conservam energia e disposição para lutar por princípios, para levar à juventude o significado da história, ajudar na construção do futuro através de sua experiência.

O general Mourão tem a coragem de reiterar que as forças armadas estão desvinculadas da política, que são os civis que estão trabalhando para o país. Diz que seu governo encontrou o país que enfrentava uma catástrofe fiscal.

É muita cara de pau. A paralização econômica vem de longe. A catástrofe fiscal tem um nome: a política de desmontagem das fontes de produção nacional, praticadas por seguidos governos neoliberais submetidos à ditadura do capital financeiro e do pensamento único.

Precisamente, por refletir sobre o que está ocorrendo no país é que todas as torcidas, de norte a sul do país, estão recuperando as ruas que sempre lhes pertenceram por direito.

Oi Mourão! o generalato apagou de seu sangue o gen manauara? Sua cara não nega suas origens. Volte a elas, general. Volte a ser o brasileiro que sua mãe colocou no mundo certamente pensando o quanto lindo e gratificante é ser amazônico. Brasileiro é negro-branco-índio, ou índio-branco negro… mais negro que branco.

O governo de ocupação acaba de escandalizar o mundo com a afirmação de que o Movimento Negro é escória maldita. Quem diz isso é o presidente da Fundação Cultural Palmares, que além do mais nega e execra Zumbi, o grande herói dos negros de todo o Brasil. Quem integra esse governo está traindo seu povo, assassinando gente de seu mesmo sangue.

Supremacismo branco é coisa de nazista, meu general. Esqueceu? Ou, deliberadamente vocês querem mesmo fascistizar o país. Não vão conseguir.

A continuar nesse caminho estarão incitando as massas negras, branca-negra-índia a descerem os morros, saírem das periferias e ocuparem as cidades. Esqueceram o que é o Rio de Janeiro? o que é a Bahia, Minas Gerais?

É isso que vocês querem? provocar grande agitação para pedir ao Tio San que mande suas tropas para aplacar a rebelião?

É o que tinham planejado caso houvesse resistência quando do golpe de 1º de abril de 1964. Ter o apoio das tropas ianques.

O Brasil é outro general. Estados Unidos não tem peito nem para invadir Venezuela porque sabe que será um novo Vietnam. Se invadir o Brasil, será uma nova China, aquilo que tanto temia Kennedy e seus sucessores.

O cara que está a ocupar um posto cuja função é o de resgatar a cultura negra, tem a desfaçatez de dizer que

os negros são a escória maldita…. que os filhos da puta da esquerda não admitem negro de direita. Além do mais, misógino.

De fato, nem negro nem corinthianos de todas as cores admitimos o fascismo, porque vocês não são a direita. Vocês representam um fascismo de ocupação, a serviço do império.

Escuta aqui, cara pálida. Nossas mães se prostituíram para não morrer de fome, para poder alimentar seus filhos, evitar que caiam na miséria; ou, porque foram estupradas e escravizadas por gente como vocês.

Desde os tempos bíblicos é assim. Não há porque se envergonhar por ter uma mãe puta. O Jesus que vocês tanto evocam era acompanhado por putas, pastores, camponesas. O que se percebe, como diz a socióloga Hilda Fadiga, trabalhou muitos anos com os negros revolucionários de Angola, caras com esse comportamento seguramente não têm mãe. Nasceram de chocadeira, não são humanos.

Olhando o gráfico sobre a evolução da pandemia provocada pelo corona vírus, o que se vê é que, hoje, 3 de junho de 2020, ao completar 79 dias de confronto com a pandemia da Covid 19, chegamos a 31.309 mortes, quando completar 100 dias estaremos com 80 mil ou mais.

No longo texto do general que ocupa a vic-presidência, uma só palavra sobre a Pandemia. Usa para conclamar por uma agenda mínima de reformas e respostas e que, para isso, é preciso refletir sobre o que está acontecendo no país. Pois é. Os gestores da economia, chefiados pelo Guedes, já disseram que reformas são essas. Querem vender o país. Tudo.

Para realizar essa encomenda do império, precisam manter você, torcida verde-amarela brasileira, na perplexidade, no medo, na alienação que o torna infenso a tudo o que ocorre em seu entorno, seja alguém espancado, queimado vivo ou morto por um vírus.

A centelha foi acesa. Só as multidões nas ruas obrigará com que o poder político e poder judiciário cumpram com a Constituição e liquidem com esse governo. 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1967. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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