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Antes de aplicar plano de paz da China, Rússia quer garantir segurança de Donetsk e Lugansk

“Quanto mais difícil se torna a situação, mais necessário é não esmorecer nos esforços para alcançar a paz”, afirmou o diplomata chinês Wang Yi
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

O presidente Vladimir Putin escutou os detalhes da iniciativa chinesa para a paz do porta-voz de um de seus artífices, ao receber nesta quarta-feira a Wang Yi, máximo responsável da diplomacia de Pequim em sua qualidade de presidente da comissão de política exterior do Partido Comunista da China, acima do chanceler Qin Gang na hierarquia do gigante asiático, proposta que também foi feita ao governo da Ucrânia. 

“A cooperação no âmbito internacional entre a Federação Russa e a República Popular da China se reveste de suma importância para a estabilidade da situação no mundo”, destacou Putin ao dar as boas-vindas ao enviado chinês no fragmento que transmitiu a televisão deste país. 

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Wang declarou que a China aprecia muito o fato de que a Rússia tenha reafirmado sua disposição de resolver o problema através do diálogo e das negociações, segundo um comunicado da chancelaria chinesa. 

“Quanto mais difícil se torna a situação, mais necessário é não esmorecer nos esforços para alcançar a paz. Esperamos que todas as partes possam superar as dificuldades, continuar criando as condições para o diálogo e a negociação e encontrar um caminho eficaz para um arranjo político”, comentou o também membro do Politburo do partido comunista chinês.

Wang também conversou com Nikolai Patruschev, secretário do Conselho de Segurança, e com o chanceler Serguei Lavrov.

“Quanto mais difícil se torna a situação, mais necessário é não esmorecer nos esforços para alcançar a paz”, afirmou o diplomata chinês Wang Yi

Kremlin
Proposta da China não supõe a retirada das tropas russas dos territórios ocupados depois de 24 de fevereiro de 2022




Posição “invariavelmente equilibrada”

María Zajarova, porta-voz da chancelaria russa, afirmou em sua entrevista coletiva semanal que a Rússia agradece a posição “invariavelmente equilibrada” da China e “saúda sua disposição de desempenhar um papel positivo perante o arranjo da crise ucraniana”.

Comenta-se que as partes implicadas necessitam tempo para estudar a proposta chinesa, razão pela qual o debate está sendo dado intramuros tanto em Moscou como em Kiev, mas o pouco que foi divulgado aponta que será muito complicado concretizá-la em uma mesa de negociações. 

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A iniciativa que Wang trouxe a Moscou, de buscar uma solução diplomática e não militar para o conflito, incluiria declarar um cessar fogo e tomar medidas para proteger as instalações nucleares no país em guerra, assim como proibir o uso de armas químicas e, o mais importante, respeitar a integridade territorial da Ucrânia até o dia em que se firme um tratado de paz com garantias para todos. 

É a parte mais complicada porque – com base no pragmatismo chinês – sua proposta não suporia a retirada das tropas russas dos territórios ocupados depois de 24 de fevereiro de 2022, condição exigida pela Ucrânia desde o primeiro dia da invasão. 

De ser certas essas informações que chegaram à imprensa, a Rússia poderia estar de acordo com a iniciativa chinesa, mas teria pedido tempo para poder lançar a ofensiva que, pelo menos, lhe permita alcançar os limites administrativos de Donetsk e Lugansk, um dos objetivos proclamados da “operação militar especial”, e para consolidar sua presença no corredor terrestre que une a península da Criméia com o resto do território russo.


Proximidade

Wang, que também é muito próximo ao líder chinês Xi Jinping, teria sugerido a Putin que, se a Rússia estiver disposta a aceitar sua iniciativa, o faça coincidindo com a visita a Moscou do máximo dirigente de Pequim. 

Já apalavrada em princípio essa importante visita, sem data ainda, na opinião de analistas consultados, Putin poderia ter sugerido que Xi o acompanhe na moscovita Praça Vermelha para presidir o desfile militar do Dia da Vitória na Grande Guerra Pátria (como se chama aqui a Segunda Guerra Mundial), em 9 de maio, quando dentro de dois meses e meio espera poder fazer um corte de caixa mais favorável no Donbass.

Putin: Retomar pacto nuclear demanda avaliar armas de membros da Otan, não só dos EUA

Entretanto, o conflito entre o magnata Yevgueni Prigozhin, chefe do grupo de mercenários Wagner e a cúpula do ministério da Defesa russo, enfrentados por atribuir-se qualquer avanço nos campos de batalha, adquiriu nesta quarta-feira (22) um grau a mais de intensidade ao publicar nas redes sociais uma fotografia na qual aparecem espalhados no terreno dezenas de membros de sua “companhia militar privada” mortos nas cercanias de Bakenmut, acompanhada deste texto:

“Estes companheiros morreram ontem. Por fome de munições, que se costuma dizer. Uma quinta parte, uma quinta parte! Mãe, mulheres e filhos receberão seus cadáveres. Quem é o culpado de sua morte? O culpado é aquele que não autoriza o fornecimento de munições. No final da lista de fornecimento deveria aparecer a firma de Valeri Gerasimov (chefe do Estado Maior do exército russo) ou de Serguei Shoigu (ministro da Defesa). Não querem que o Wagner exista”, se queixou Prigozhin.

A resposta da dependência castrense não se fez esperar mediante um comunicado: “Apesar das difíceis condições climáticas na zona da cidade de Bakenmut, foram levadas a cabo 18 missões de aviões de combate para apoiar a ofensiva dos destacamentos de assalto. Portanto, todas as declarações supostamente feitas em nome das unidades de assalto sobre a carência de munições são absolutamente falsas”. 

Até agora o Kremlin não intervém a favor de nenhuma das partes nesse pleito. Seu titular preferiu assistir nesta quarta-feira um concerto multitudinário no estádio Luzhniky de Moscou para felicitar os soldados russos que combatem na Ucrânia e a todos os militares em geral, na véspera do Dia do Defensor da Pátria, que se celebra em 23 de fevereiro, quase coincidindo com o primeiro aniversário da guerra. 

Nas breves palavras que pronunciou, Putin destacou que os soldados russos na Ucrânia “estão protegendo nossos interesses, nossa gente, protegendo nossa cultura, língua e territórios”. Sublinhou também que “combatem com heroísmo, com valentia, nos sentimos muito orgulhosos”.

Juan Pablo Duch | Correspondente do La Jornada em Moscou.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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