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Antropóloga refuta tese de que Janja ignorou embaixador do Irã como forma de protesto

Nas redes, progressistas correram para disseminar a ideia de que primeira-dama protagonizou ato em repudio ao regime do país iraniano
Plinio Teodoro
Revista Fórum
São Paulo (SP)

Tradução:

Durante a recepção de chefes de Estado no Itamaraty após a posse, no domingo (1º), uma cena chamou a atenção durante o cumprimento de Lula (PT) à delegação do Irã, comandada pelo embaixador Hossein Gharibi.

Na chegada dos representantes do governo iraniano, a primeira-dama Rosangela Silva, a Janja, que estava ao lado de Lula, se afasta e fica ao lado de Lu Alckmin, atrás do vice-presidente, Geraldo Alckmin.

Janja e Lu não cumprimentaram os iranianos. Dois deles fizeram um gesto, parecido com um aceno, distante para Lu.

A primeira-dama não explicou o afastamento, que foi entendido como um protesto de Janja contra políticas de repressão do governo iraniano às mulheres, que iniciaram uma série de manifestações no país principalmente após a prisão de Mahsa Amini, de 22 anos, por mostrar seu cabelo.

Mahsa morreu, segundo as autoridades iranianas, vítima de um ataque cardíaco após ser detida no dia 13 de setembro. Já ativistas afirmaram que houve violência na abordagem da “polícia da moralidade” e iniciaram uma onda de protestos, apoiada até mesmo pelos jogadores da seleção do país, que ficaram em silêncio durante a execução do hino no Catar.

Nas redes, progressistas correram para disseminar a ideia de que primeira-dama protagonizou ato em repudio ao regime do país iraniano

Captura de tela – YouTube
É improvável que Janja tenha protagonizado um ato de protesto contra o Irã no dia da posse, explica pesquisadora

Diante da repercussão da cena entre Janja e os diplomatas iranianos, a embaixada do Irã no Brasil emitiu um tuite explicando que o afastamento da primeira-dama brasileira se deu por causa do “protocolo iraniano”, em que homens não dão as mãos para cumprimentar mulheres.

“Ser visto no vídeo, na saída da delegação anterior, o cerimonial da Presidência (amarelo) informa a Janja sobre o protocolo iraniano e que a delegação iraniana seria a próxima a cumprimentar o Presidente Lula. Portanto, ela se afastando do Presidente, seguindo orientação do cerimonial”, alegou a embaixada iraniana.

As imagens mostram que durante a aproximação da delegação do Irã o embaixador Fernando Igreja, responsável pelo cerimonial da posse, conversa com Janja, que se afasta e se coloca ao lado de Lu Alckmin.

Para a antropóloga Francirosy Campos Barbosa, especialista em Islã, é improvável que Janja tenha protagonizado um ato de protesto contra o Irã no dia da posse.

Hijabfobia e a violência contra mulheres muçulmanas que optam por usar o véu islâmico

“Homens não estendem as mãos a uma mulher e isso não é falta de respeito, ao contrário, é lido como respeito à mulher. O que achei estranho é o afastamento corporal da Janja, ela não precisava sair do lado do Presidente, pois bastava acenar com a cabeça, que é o que fizeram os representantes do Irã”, diz.

Nas redes, no entanto, progressistas acreditam que o gesto foi um protesto da primeira-dama brasileira pelo tratamento às mulheres pelo regime no Irã.

“A mulher que não cumprimentou o governante do Irã. Eu tenho muito orgulho de você @JanjaLula”, tuitou Paulo Vieira.

Segundo Francirosy, o distanciamento corporal de gêneros diferentes é visto como educação e respeito nos países islâmicos.

“Precisamos naturalizar determinados protocolos e não transformá-los em algo exótico e cheio de comentários que não condizem com a realidade. Quando estive no Irã fui muito respeitada, e os homens preferiram se comunicar com meu colega Paulo Hilu. Achei diferente e aproveitei o que era uma gentileza, respeito”, afirma.

Plinio Teodoro | Revista Fórum


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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