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ToggleNão é de hoje que muitos analistas apontam que a esquerda nacional ainda está atabalhoada com o resultado da eleição de 2018. Enquanto isso, mesmo com baixas e muitas polêmicas, o governo de Jair Bolsonaro segue demonstrando sua resiliência e poder de reação. Dado que é confirmado em pesquisas que revelam aumento da aprovação no Nordeste, tido como um dos redutos petistas – na primeira quinzena de agosto, o DataFolha apontou queda na rejeição a Bolsonaro de 52% para 35%. Para a historiadora Patrícia Valim, é muito reducionismo explicar essa adesão dos nordestinos apenas considerando a concessão do auxílio emergencial durante a pandemia. “Existem várias coisas, há um desconhecimento profundo do Brasil. E já era possível que estivéssemos em outro lugar se tivéssemos estendido um olhar para a História pública amplamente divulgada”, aponta.
Além de problematizar a adesão a Bolsonaro no Nordeste e a falta de sensibilidade de compreender o local, na entrevista concedida por telefone à IHU On-Line, Patrícia desenvolve duas teses centrais. A primeira é que, ao contrário do que se tem dito, a esquerda precisa apostar na polarização para enfrentar o bolsonarismo. “A nossa saída é a polarização, porque senão se estabelecem relações de equivalência e daí o novo sempre ganha. E o novo com auxílio emergencial vai ganhar mais ainda. Esse cenário que você traz, a gente explica por isso, essa é a porta de entrada”, observa. “Somos diferentes e a população precisa entender qual é a diferença, precisamos explicar à população quem somos, o que defendemos. Não estou falando que somos melhores ou piores, mas somos diferentes e a população precisa entender, ter opção”, detalha.
E além de polarizar, a professora defende que se compreenda o que está no centro das lógicas da extrema direita e, em especial, do bolsonarismo. “Nosso argumento é de que é o negacionismo”, aposta. Segundo ela, o negacionismo “não é apenas o ato de negar, mas é o ato de negar em várias etapas e, ao mesmo tempo, você nega e constrói todo um universo histórico, um universo simbólico. Quando se nega uma coisa, tem que colocar outra no lugar”. Como diz Patrícia, quem nega não nega necessariamente como estratégia política, nega numa conversa de família, de amigos e isso vai em fluxo até se conectar com o espectro político. “O negacionismo não é algo vocacionalmente da extrema direita. Se tem o negacionismo em fases e se tem tipos”, reitera.
Reprodução: Twitter
A polarização no Brasil tem se intensificado nos últimos anos.
Por fim, como militante e partidária de esquerda, Patrícia não se furta da crítica ao PT em todo esse processo, pois acredita que a mesma construção histórica que vai simplificar e estigmatizar a vida no Nordeste, vai contaminar a política atual. Assim, se gere o Brasil desde Rio de Janeiro e São Paulo sem levar em conta as complexidades regionais. “A esquerda do Centro-Sul é dirigida hoje, desde que ela foi golpeada, pelos que chamo de ‘os retornados’. São pessoas que voltam para suas localidades e estão muito preocupadas em garantir algum espaço dentro da burocracia partidária” e, logo, perdem o que se denomina como conexão com a rua ou com as realidades locais.
Patrícia Valim é graduada em Pedagogia e História pelo Centro Universitário Fundação Santo André, no estado de São Paulo. Possui mestrado em História Social e doutorado em História Econômica, ambos pela Universidade de São Paulo – USP. Desenvolveu pesquisa de pós-doutorado no Programa de Pós-graduação em História na Universidade Federal da Bahia – UFBA. Atualmente é professora adjunta de História do Brasil Colonial no Departamento de História da UFBA. Entre suas publicações, destacamos os livros Corporação dos enteados: tensão, contestação e negociação política na Conjuração Baiana de 1798 (Salvador: EDUFBA, 2018) e Outras abordagens no Ensino de História (São Paulo: Editora Ática, 2012).
Confira a entrevista
IHU On-Line – Auxílio emergencial e incursões pelo Nordeste brasileiro estão no horizonte do presidente Jair Bolsonaro. Vemos aí alguma aproximação com as estratégias lulistas?
Patrícia Valim – Penso que setores da base de Bolsonaro, ou pelo menos os mais próximos dele, já acenavam que ele não conseguiria governar com alguma tranquilidade, no sentido de tocar sem muita tensão suas políticas, se não houvesse algum tipo de incursão no Nordeste. Historicamente, vê-se que o Nordeste tem um peso significativo nas eleições e essa região se torna importante no contexto geral do resultado da eleição presidencial. Bolsonaro considera entre as questões mais importantes o projeto de nacionalizar um estado “milicialesco” como foi testado no Rio de Janeiro. E o Nordeste é uma região central até hoje, porque acabou conformando aquilo que chamo de cinturão progressista na eleição de 2018.
Se pegarmos a soma total dos votos, veremos que Jair Bolsonaro não obteve 18% na região. Para ele nacionalizar um estado de milícia, um estado no qual se tem toda diretriz voltada para o armamento e uma lógica militar, ele hoje precisa entrar no Nordeste. E com essa pandemia, e também com essa aproximação ao Centrão, Bolsonaro entendeu que o Nordeste é fundamental nesse projeto de poder. É um projeto que me parece, inclusive, dinástico, pois não tem a intenção de articular esse projeto com outros grupos. Ele está usando o Centrão para se manter no poder e não cair em razão do número de pedidos de impeachment. Essa estratégia adotada não é só lulista, mas é uma estratégia historicamente construída e que foi um dos grandes carros-chefes do lulismo. Mas ela não começa e não se esgota no lulismo.
Segundo os últimos dados da pesquisa realizada pelo DataFolha, Bolsonaro aumenta sua aprovação no Nordeste. Mas a senhora aponta equívocos na análise desses dados. Um deles é a nacionalização de um processo que ocorre no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. Em que consiste esse processo e quais os riscos de se olhar o Brasil como se fosse Rio e São Paulo?
Sou historiadora e professora da Universidade Federal da Bahia, meu mestrado e doutorado é sobre um evento que trata de um crime de lesa-majestade conhecido na historiografia como Conjuração Baiana. Então, pensar a região é uma das minhas principais preocupações como pesquisadora e professora e, inclusive, pensar a polissemia do conceito de região.
A que me refiro quando falo de região? É uma questão importante para mim, para meus orientandos e também pelo fato de ser filiada ao Partido dos Trabalhadores – PT. Desde as últimas eleições venho fazendo um levantamento para o Partido e para as principais candidaturas sobre o comportamento do Nordeste. Sou paulista, mas moro em Salvador há cinco anos e me parece central perceber algumas questões. Uma delas é que, do ponto de vista da História, aquela que é divulgada nos livros didáticos é feita, escrita, pensada e produzida no Rio de Janeiro e em São Paulo. Então, os conteúdos desses livros que são distribuídos pelo Estado brasileiro do Oiapoque ao Chuí foram pensados desde o Centro-Sul, só que tendem a ganhar uma dimensão nacional na escrita desses conteúdos por historiadores dessas regiões. Existem trabalhos mostrando isso, não é uma impressão minha.
E essa perspectiva se estende para a política, porque as sedes dos partidos de maior projeção nacional ficam no Centro-Sul. O PT, por exemplo, tem sua sede na Vila Mariana, em São Paulo, ainda que a sustentação do Partido dos Trabalhadores do ponto de vista nacional atualmente esteja longe do Centro-Sul; aliás, está justamente no Nordeste. Então, para o PT continuar sobrevivendo bem na cena política, é preciso ter o Nordeste muito combativo em relação ao bolsonarismo.
Do passado para o presente
Acontece que esse mesmo movimento que vemos na História, na escrita da História e na elaboração do livro didático – e isso mesmo durante os governos petistas, pois são cinco empresas transnacionais que fazem isso e todas estão em São Paulo e no Rio de Janeiro –, faz com que as inúmeras lutas, desde a chegada do primeiro português até as diversas lutas pela independência do Brasil sejam silenciadas e apagadas a partir dessas assimetrias regionais. Isso tem uma implicação gravíssima na cena política historicamente.
Do ponto de vista da direita, de um projeto de país cuja riqueza é concentrada na mão de poucos, em um país com diferenças econômicas, sociais e culturais, o fato de ter uma região subdesenvolvida perto de outra mais desenvolvida faz com que essa região mais desenvolvida ganhe em cima do subdesenvolvimento da outra região. Se podemos falar de colonização epistemológica quando pensamos a escrita da História, também podemos falar de colonização política. Os próprios encontros nacionais dos partidos não levam isso em conta.
Por exemplo, na última convenção do PT, durante vários encontros que ocorreram na região do Nordeste, eram pessoas do Centro-Sul que vinham falar aqui. Até um dia que fiz um post e publiquei num site questionando: ‘não tem nenhuma liderança política do PT no Norte e Nordeste? Nem homem e nem mulher? Só Centro-Sul faz política?’. O PT sai das eleições de 2018 com quase 48 milhões de votos por quê? Ora, por quê? Poxa vida, isso é um desrespeito.
Equívoco
Então, mesmo no campo da esquerda se tem esse fenômeno que é uma coisa inacreditável. E isso tem um equívoco na origem de um entendimento de Brasil que é pensar que temos um Estado brasileiro surgido em 1930, com Getúlio Vargas. Na verdade, é um Estado que surgiu quando já se tem quase quatro séculos de outros estados, de outro Brasil, com escravidão, com assimetrias, com latifúndio, vários arranjos de trabalho compulsório, várias unidades de produção, ritmos políticos distintos e histórias completamente distintas. Isso tudo faz com que, por exemplo, uma pesquisa nunca entenda o Brasil em sua diversidade regional.
O desafio do Brasil profundo
Isso faz com que as políticas públicas, historicamente elaboradas pelos governos que ocuparam as estruturas internas do Estado, não tenham o recorte regional; exceto o PT. E meu argumento é justamente esse, pois quando se tem a dimensão do Brasil profundo – e mostro esses dados num artigo – e mesmo assim há uma opção política de investir na região Centro-Sul, existe ali um problema forte. Tanto é que o centro de elaboração e disseminação médio de divulgação de propaganda é o Centro-Sul. Não por acaso, Rio e São Paulo.
Diferenças regionais
E sobre a pesquisa do DataFolha, em relação a Bolsonaro, quem analisa os resultados está olhando para São Paulo. É muito comum tomar o pobre da região Sudeste do mesmo modo que o pobre da região Nordeste. E não é. Aqui não se tem dente, ter dentição completa é raro; não tem água, um milhão de cisternas pode resolver o problema mais emergencial da falta de água, mas não universaliza. É outra coisa.
Por isso é preciso olhar com cuidado, pensar com cuidado, caso contrário se faz um pastiche e a gente fica patinando porque não sai do lugar, porque não olha para esse Brasil com cuidado, com a calma que a História requer.
Por que se olha para esse Nordeste de forma tão homogênea e como romper com isso, olhando para os estados e suas particularidades?
Temos essa reinvenção do Nordeste – para usar uma expressão do historiador Durval Muniz. É a invenção de um Nordeste que é atrasado, incivilizado, tacanho, servil e sempre submisso e subjugado ao Centro-Sul. Além disso, o subdesenvolvimento do Nordeste é uma decisão política. Não é algo natural, que ocorra em razão de intempéries da natureza, mas é um projeto, uma decisão política. E, assim, temos toda uma História que mostra as pessoas sendo levadas a sair de suas regiões para serem superexploradas no Centro-Sul em um subemprego.
Existe todo um Estado liberal, neoliberal que faz essa narrativa do Nordeste, sobretudo para destacar o desenvolvimento do Centro-Sul com a ideia cafona de locomotiva da nação. É uma coisa estapafúrdia, inacreditável. E esses modelos e ideias, essas invenções, são retomados de tempos em tempos. Se pegarmos as manifestações da classe média mobilizando o verde-amarelismo, mais uma vez na História, veremos que está mobilizando também a ideia de locomotiva da nação. Isso implica perceber que quando se tem uma região como locomotiva da nação, a premissa seguinte é a de que a outra região está na praia, ou seja, uns trabalham para os outros estarem na praia. Eu canso de ouvir isso, quando a questão é outra, obviamente.
Que exista uma direita liberal que se beneficia dessas estruturas e dessa narrativa a gente entende, pois é ela quem constrói isso. Agora, quando a esquerda compra essa narrativa, como aconteceu agora no episódio com os dados da pesquisa sobre a aprovação de Bolsonaro no Nordeste, e que se justifica falando que as pessoas do Nordeste não têm acesso à informação e não estão acostumadas a refletir sobre isso, não dá para aceitar. O que é isso? A gente não explica a entrada do Nordeste por essa porta, isso é uma pegadinha, inclusive, que a direita nos coloca e que a gente acaba reproduzindo, mas não podemos fazer isso.
Barrando estereótipos
Essa ideia da baianidade é uma perversão para subexplorar a região. E assim se vem para cá, faz o que quer, sem cuidados. Enfim, há implicações diversas. O fato é: como podemos começar a barrar isso? Precisamos fazer uma discussão muito fraterna, primeiro, no campo histórico, pensar na História do Brasil, de São Paulo, do Centro-Sul e ver como se está longe de compreender essas diferenças.
Segundo, é olhar para essas regiões entendendo suas assimetrias como construções históricas e olhar para sua população, suas gentes, com agenciamentos próprios. Qualquer projeto de retomada da democracia, não da maneira como tínhamos antes, muito ruim, muito limitada e com muitas assimetrias, mas na construção de uma nova democracia radical, não ocorrerá se não fizermos um pacto para diminuir as desigualdades regionais. Isso se quisermos pensar o país na dimensão que a gente precisa. Ou então, pensarmos nas nossas diversidades respeitando essas diversidades. Eu penso que passa por aí.
Espaço de representação
Passa, também, por dentro dos espaços de representação. É não só ter homens e mulheres, mas também um cuidado com pessoas que possam se construir dentro dessas regiões. Porque elas estão ali construindo no dia a dia, estão construindo política pública, elas sabem do que estão falando também. É você olhar com cuidado e não ser tão arrogante no sentido de achar que o Sudeste explica tudo. Senão, vamos continuar perdendo todas, não tem como pensar um projeto, seja ele qual for, baseado no Brasil profundo historicamente sem levantar essas questões. Não se pode mais ter uma região em detrimento de outras.
E toda essa construção que se faz não passa por um profundo desconhecimento do Brasil? Como compreender o fato de que, no Brasil colônia, as capitanias do Nordeste eram mais cobiçadas e com o tempo essa região passou a ser vista como mais empobrecida?
Existem várias coisas, e você está certo, há um desconhecimento profundo do Brasil. E já era possível que estivéssemos em outro lugar se tivéssemos estendido um olhar para a História pública amplamente divulgada, que é a História largamente consumida por vários setores. É mostrar a diversidade deste país, a História das regiões. Isso é muito importante, pois o Nordeste não se resume a praia, tampouco a cana-de-açúcar para exportação do período colonial. Ele tinha – e ainda tem – tudo ao mesmo tempo.
Durante as manifestações de junho de 2013, eu fiz um levantamento das capas das revistas de circulação nacional e percebi que a Bahia apareceu umas quatro ou cinco vezes; foi capa da Valor, da Exame e da Isto É. As capas eram assim: Bahia, a nova China do Brasil. A quantidade de dinheiro, de investimento chinês na Bahia – e no Nordeste até hoje – é inacreditável. Superava, em muito, o investimento da China no Sudeste. A quantidade de alunos matriculados nas universidades públicas no Nordeste nesse período ultrapassou os matriculados no Sudeste. Isso tem uma implicação histórica e ainda estamos colhendo os frutos. Isso passa pela construção do cinturão progressista. Existem novos agentes, novas epistemologias, novas maneiras de existir e resistir na esfera pública. Isso muda o país.
O Nordeste não está apartado, é o Centro-Sul que tem esse discurso. Não podemos cair nessa viagem. Conhecer a história dessas regiões, não só do Nordeste, mas de todas, significa conhecer a diversidade e respeitar o diverso. Mas, também, significa aquilo que falta nos governos de centro-esquerda, que é o letramento político. É preciso ensinar o que é diversidade, o que é respeitar; é preciso ensinar valores republicanos, ensinar o que é e como respeitar uma democracia, caso contrário você não vai saber o que está perdendo, não vai ter dimensão do golpe, de tudo que tiraram de você, daquilo que poderia ter. Os americanos chamam isso de letramento político e isso é importante, é uma saída fundamental e é uma decisão política.
Colonização epistemológica
E isso é algo muito difícil de se convencer. Só para se ter ideia, aqui na Bahia, por exemplo, e nos demais estados governados pelo PT, o livro didático consumido não é escrito e nem feito aqui. Como eu disse antes, o livro didático é escrito e produzido no Centro-Sul. O conjunto das histórias, dos fatos, dos eventos que compõem essa História que é narrada nesse livro didático não tem nada a ver com a História do Nordeste. É uma colonização epistemológica pesada, profunda. Ela é construída.
Vejamos outro exemplo. Houve uma novela da Rede Globo chamada Velho Chico, que foi muito comentada porque tinha o rio São Francisco como protagonista. É uma coisa maravilhosa, embora o rio fosse fake, porque o rio usado nas filmagens era o Paraguaçu, que passa na Bahia rumo ao recôncavo – um dos atores morreu, de fato, engolido pelo rio São Francisco. Observe que estamos falando de uma novela que passa em horário nobre, do Oiapoque ao Chuí, inclusive fora do país, tendo um rio baiano que atravessa o Nordeste.
Mapa do Rio São Francisco
Pois bem, a casa do pai da mocinha ficava na região do recôncavo baiano. Quando se olha, da primeira cena à novela toda, percebe-se que não tem um liquidificador na casa dessa pessoa. Toda a estrutura das cenas parece um quadro de Debret do século XIX, com uma estrutura arcaica, de um Nordeste pesado, velho, carcomido por um passado que é refletido na cafonice das roupas dos personagens que eram o pai e a madrasta da mocinha. Isso é uma coisa inacreditável.
Reprodução da obra de Debret, em que reconstrói o nordeste do Brasil colônia, imagem que para muitos ainda é atual
Quando se passa a analisar as cenas, vão se percebendo coisas como, por exemplo, um samba do recôncavo que é transformado em algo impressionante. A mocinha chega dos estudos na Europa, montada num cavalo branco, numa festa em que se distribui cachaça – e isso é verdade, é muito comum aqui – e as pessoas começam a “virar no santo” a partir do samba. As cenas são como se as pessoas estivessem tendo ataques epiléticos, caem no chão. Isso é cena de “virar no santo”, mas isso não existe no samba do recôncavo.
Esses exemplos são para pensarmos numa ideia de Nordeste absolutamente atrasada e que justifica uma narrativa da direita do Centro-Sul que diz que o Nordeste não quer trabalhar e que vive do Bolsa Família em razão do atraso. No entanto isso não é verdade. E quando se pega uma pesquisa como a do DataFolha, quando há sociólogos que respondem da maneira como respondem, eles não estão agindo de modo diferente, pois se está reforçando essa leitura absurdamente equivocada e classista. Mas isso não procede, inclusive do ponto de vista estatístico. Tem muita região do Centro-Sul que recebe mais recursos assistenciais que estados do Nordeste. A ideia é que o tempo todo é preciso mediar essa narrativa do Centro-Sul. Mesmo as mais bem-intencionadas narrativas dos campos progressistas têm como prática pegar fenômenos e dados do Centro-Sul e estender para o resto do Brasil. Isso é uma perversão.
Os estados do Nordeste com as maiores taxas de recebimento do auxílio emergencial são Maranhão e Piauí. No entanto, os estados com as maiores taxas de aprovação do governo Bolsonaro são Bahia e Ceará. Como analisa esse cenário?
A proposta que faço para essa entrada de Bolsonaro – aliás, rascunhei isso no começo deste ano, quase sem saber, num texto intitulado “Por quem os sinos dobram na esquerda petista?” – é a de que estávamos naquele momento, no começo do ano, numa sinuca de bico e que Bolsonaro não encontraria resistência se os governos petistas continuassem agindo muito afinados com a política econômica e cultural dele. E foi dito e feito. Como se explica que no Maranhão e no Piauí – mesmo Piauí sendo governado pelo PT – não tenha crescido o apoio na mesma medida? Se explica com as políticas adotadas, por exemplo, na Bahia. É o que faz parte de uma tese maior, em que Vladimir Safatle diz que a esquerda morre. Mas quando a esquerda morre? Obviamente que é uma morte simbólica, mas é quando ela deixa de polarizar com a direita. É uma tese que vai absolutamente na contramão desses liberais quando propõem que é preciso acabar com a polarização. A nossa saída é a polarização, porque senão se estabelecem relações de equivalência e daí o novo sempre ganha. E o novo com auxílio emergencial vai ganhar mais ainda. Esse cenário que você traz, a gente explica por isso, essa é a porta de entrada. É como abrir a porta para o assaltante, receber com tapete vermelho e oferecer a ele um chá às cinco da tarde.
Temos aqui na Bahia, por exemplo, a privatização da agência reguladora da água – estou falando de água –, temos a militarização das escolas estaduais, temos uma reforma da previdência que foi feita à revelia dos servidores públicos, sem diálogo e com a tropa de choque dentro da Assembleia Legislativa – nuca vi um negócio desses, nem a direita fez isso. Também tem um governador que polemiza o tempo todo com o Ministério Público, quando poderia andar em parceria, tem políticas que não colocam nada de dinheiro na cultura etc. Enfim, tudo que Bolsonaro faz em dimensão nacional tem sido feito aqui em dimensão estadual. O sujeito vai ver diferença onde?
“Como a gente sai dessa?”
Eu acho que essa é a explicação e isso torna a vida da esquerda mais complicada. Não adianta darmos uma explicação simples e rápida se não vai apontar saída. Como a gente sai dessa? Acho que essa é a pergunta. Penso, e os dados mostram, que a resistência a Bolsonaro tem que se dar aqui. No Maranhão e no Piauí existem focos duros de resistência. Bolsonaro avançou em relação à aprovação que ele tinha aqui, que era muito baixa, mas está longe de ter hegemonia dentro do Nordeste. Acredito que a gente ainda tem condições de reverter esse jogo por aqui.
Retomada pelo Nordeste
O Nordeste é cada vez mais importante para uma retomada da democracia nacional. Mas não pode ser como sempre foi do tipo ‘o Nordeste salva para a gente continuar danando com ele depois’. Não pode mais ser assim, é preciso parar, fazer um grande pacto. Precisamos compreender que aqui no Nordeste a dentição completa é privilégio. E estou chamando de privilégio aquilo que não se consegue universalizar, tudo que pode ser universalizado não é privilégio. E ter os dentes completos, por aqui, é privilégio. Já viram uma coisa dessas?
O sujeito nasce e não tem a opção de escolher se quer ficar plantando e criar as cabrinhas dele. Ele não quer ser pobre no Centro-Sul, não quer receber Bolsa Família. Se você perguntar, ele quer ficar na beira do rio São Francisco, plantando as coisinhas dele. A família dele está ali há séculos, não tem que tirar o sujeito dali para construir Belo Monte, botá-lo no meio do nada e dar a ele Bolsa Família. Não pode tomar a terra do sujeito e fazer dele um pobre.
Discurso da segurança
Quando um governo de esquerda faz um negócio desses o sujeito vai votar em quem? Em quem promete segurança, porque é um combinado. Não adianta achar que Bolsonaro atua em uma frente só. Ele tem um grande projeto de nacionalizar o Estado miliciano e isso passa por vender uma narrativa de que ele dá segurança para as pessoas, e isso não procede. Temos no país uma predominância imensa de mães solteiras criando seus filhos sozinhas, um genocídio da população negra, alvo de PMs. Veja como a gente fecha a equação. Se não tem um governo progressista de esquerda polarizando com o fascismo, se iguala e se perde o jogo. E aqui estamos falando de fascismo, porque não se trata de um liberal radical, mas de um fascista. O sujeito é genocida; ele calcula, no governo dele, um tanto da população que pode morrer e está operando nessa dimensão.
Analistas apontam que a esquerda brasileira parece embebida numa letargia enquanto alas da direita e extrema direita avançam. Um dos fatores que levariam a esse cenário é que a esquerda teria perdido o contato com a rua. Você concorda? E o que seria esse ‘perder o contato com a rua’?
Concordo e não concordo. Não concordo porque é isto: a esquerda do Centro-Sul é dirigida hoje, desde que ela foi golpeada, pelos que chamo de “os retornados”. São pessoas que voltam para suas localidades e estão muito preocupadas em garantir algum espaço dentro da burocracia partidária. E aqui falo da esquerda hegemônica, petista, porque não adianta falar das formas que sozinhas não acumulam, não têm como mudar, propor. Há uma série de coletivos e partidos que estão construindo um caminho, mas ainda do ponto de vista histórico e quantitativo se tem uma potência que é o Partido dos Trabalhadores, uma potência eleitoral extremamente capilarizada, com mais de dois milhões de filiados.
Por exemplo, na Fundação Perseu Abramo há uma disputa fratricida. Sou conselheira da Perseu Abramo e houve um desmonte com políticas altamente sofisticadas que vinham das gestões de Marcio Pochmann. Agora, tem ali uma turma que faz um negócio inacreditável. São pessoas que estavam desde a fundação do PT e se formos acompanhar, vemos que dia e noite, noite e dia sai o boletim do que o presidente da Fundação Perseu Abramo pensa sobre o mundo. Cara, na boa, não queremos saber o que ele pensa.
São pessoas que estão com muita dificuldade de construir coletivamente, porque nessa altura do campeonato estão muito cansadas, já se tem um certo acúmulo histórico, como é o caso de José Dirceu, e que tentam sobreviver dentro dessa lógica e dessa burocracia partidária. Isso no Centro-Sul. Aqui não, temos uma esquerda que vai muito para a rua, que está muito no sertão, aposta muito na economia solidária, está muito ali nos coletivos que têm sido construídos. Por isso, acho que essa lógica da rua não se dá no Nordeste.
Letargia na esquerda
Se há uma letargia da esquerda de modo geral? Eu acho que há e ela é menos a vontade de estar na rua, é uma dificuldade também de qualificar e entender o bolsonarismo. Se você não entende aquilo a que vai se opor, fica difícil marcar uma posição. Há uma dificuldade de entendimento do bolsonarismo e a realidade tem mostrado que não é um bloco, não é algo que está dado. Necropolítica é a palavra mais dita e menos compreendida dos últimos tempos.
O bolsonarismo é algo que vai além de Bolsonaro. Se Bolsonaro sair de cena, se aposentar, vamos continuar tendo um problema imenso porque é um modo de vida, é um projeto econômico, é um “paulo-guedismo”, mas também é Damares nos dando a linha, é o negacionismo dando a linha do Estado. Ou seja, ele tem suas dimensões. E há uma dificuldade de entendimento dessas dimensões todas.
Depois, ainda há uma dificuldade de análise, pois estão analisando de modo errado os fenômenos. Acho que os instrumentos analíticos da realidade precisam ser mudados, precisam ser calibrados. Por exemplo, a análise sobre essa pesquisa do DataFolha não acumula politicamente, não mostra caminho nenhum. Se diz só que Bolsonaro avançou porque a população do Nordeste é iletrada, não tem acesso à informação e pronto. Mas isso quer dizer o quê? Suponhamos que isso seja verdade – não é –, mas suponhamos. Isso leva aonde? Se faz o que com esse dado? Então se acaba naturalizando algo que não é natural. É uma construção, é um debate, está tensionado, se está disputando. Isso se vê numa equipe imensa. Precisamos calibrar os instrumentos analíticos do real.
Governadores
A outra coisa é que precisa chamar os seus governadores e dar uma situada neles. Eu não preciso ser ou virar evangélica para dialogar com os evangélicos que votaram em Bolsonaro. Eu só não posso ter superioridade moral; não posso tentar convencer um evangélico a não ser evangélico. Entendo que esse seja o caminho dos governadores petistas, da esquerda. Não precisa operar no bolsonarismo para ganhar eleição. Ao contrário, precisa entender isso. Mas eles se negam terminantemente a entender.
O que está querendo dizer é que falta à esquerda hegemônica enterrar alguns modelos analíticos e figuras do passado para de fato se compreender esse novo fenômeno?
Aí também não, porque assim você me coloca numa situação complicada. Veja bem, com relação a José Dirceu, eu subscrevo tudo que ele fala. Apesar de ele ter sido altamente criminalizado na esfera pública, ele é alguém dentro do PT que está entendendo tudo o que está acontecendo. É muito antenado com as questões e para ele é muito claro, como para uma parte do PT, que não dá mais, pois há premissas de uma ruptura, o golpe, que precisam ser mudadas. E as políticas precisam ser pensadas a partir delas, as estratégias precisam ser elaboradas considerando que o golpe é um golpe. Não adianta eu ficar acusando que é um golpe e continuar pensando estratégia política como se o golpe não tivesse acontecido.
Dois exemplos práticos: há apoio a uma liderança bolsonarista em Belford Roxo, no Rio de Janeiro. Observe dois pesos e duas medidas. Daí, Valter Pomar vai lá e faz um salseiro porque não pode apoiar bolsonarista. Não pode, ok. Mas se olha aqui para a Bahia, qual é o candidato do PT para disputar a prefeitura de Salvador? É policial. E qual o candidato a vice dessa policial? Um sargento. O que é isso? É uma loucura. O bolsonarismo é isso, chega, abre a porta da sua casa, estende o tapete vermelho, pede para sentar na sua sala e você serve o chá no melhor jogo de porcelana. Aí justificam dizendo que em Salvador existem as alianças e sei lá o quê… Mas não é assim que funciona, não estamos mais brincando. Essa candidatura é um equívoco.
A candidatura de São Paulo, da forma como foi escolhida, é uma vergonha, e já se apontou isso inúmeras vezes. José Dirceu, eu, uma turma tem apontado isso publicamente. Agora, o que aconteceu? A coisa foi tão feia que um grupo se obrigou e tem se obrigado a se manifestar publicamente, um grupo de petistas históricos, e apoiadores históricos, contra o PT. É isso que estão conseguindo. Então, é preciso calibrar os mecanismos de análises, e aí reforço essa ideia de que não estão tendo condição de entender o que é o bolsonarismo, sem querer parecer arrogante.
Olhar diverso
Também é preciso olhar o Brasil de maneira diversa, é preciso entender que uma fundação partidária tem por objetivo formular política pública e não ficar incensando o que o presidente acha ou deixou de achar, ele não foi nomeado para isso. Está lá temporariamente e tem que produzir, tem que entender a realidade e não está entendendo. É isso que precisa fazer, se quiser continuar como força hegemônica.
De novo: polarizar é preciso
Dentro da esquerda eu acho que é um projeto construir hegemonia. Não precisa construir hegemonia tosca, pode construir uma hegemonia interessante, mas não desse jeito. Porque não é que o bolsonarismo vai avançar, ele vai fazer terra arrasada. Por isso temos que barrar Bolsonaro. Mas se barra como? Polarizando. Vai ter que polarizar a esquerda, centro-esquerda, não vai ter outra alternativa que não seja a polarização. Somos diferentes e a população precisa entender qual é a diferença, precisamos explicar à população quem somos, o que defendemos. Não estou falando que somos melhores ou piores, mas somos diferentes e a população precisa entender, ter opção. Quando não se polariza, se tira a opção da população, e aí o novo sempre aparece. Isso desde que o mundo é mundo. Temos um problema partidário.
O PSol, nesse sentido, se coloca de uma maneira muito mais arrojada – não gosto desse termo, mas na falta de um melhor – porque ele olha, vê e ouve, cresce muito na política nacional com o [Guilherme] Boulos. [Fernando] Haddad é maravilhoso, tem um entendimento da realidade muito interessante, mas é massacrado dentro do PT o tempo inteiro, ficam massacrando porque ele é liberal. Mas, e daí? Isso quer dizer o quê? Quando se coloca um governador feito Rui Costa, é o quê? Ele é um revolucionário que saiu da Revolução Russa?
Quais os desafios para a esquerda nacional na construção de caminhos alternativos ao bolsonarismo?
Há uma questão que tenho pensado com o colega Alexandre de Sá Avelar, professor na Universidade Federal de Uberlândia. Nós vamos publicar um artigo que vai sair na Revista Cult em que temos desenvolvido o argumento de que o bolsonarismo vai ser derrotado quando a gente entender qual é a linha central do seu governo. O que ocupa o centro da ideologia bolsonarista, o centro da política bolsonarista no século XXI? Nosso argumento é de que é o negacionismo.
O negacionismo não é apenas o ato de negar, mas é o ato de negar em várias etapas e, ao mesmo tempo, você nega e constrói todo um universo histórico, um universo simbólico. Quando se nega uma coisa, tem que colocar outra no lugar. E Bolsonaro vai construindo uma ideia de sociedade que já está bastante naturalizada entre nós. Isso faz parte da entrada dele no Nordeste. Ao não pensar essa possibilidade acho que a gente perde um tanto.
Graças ao negacionismo ele tem conseguido naturalizar o fato de haver mais de 100 mil mortos pela covid-19. Então, nega a gravidade da doença, nega os protocolos para evitar o contágio da doença, dissemina notícia falsa, vende um remédio, vira o tiozão garoto-propaganda de um remédio, as pessoas acreditam piamente, ele vem a público e diz que está curado graças à cloroquina e as pessoas passam a repetir essa frase.
Quando esteve com a Covid-19, Bolsonaro intensificou a campanha pelo uso de cloroquina (Foto: reprodução redes sociais do presidente)
Papel da imprensa
E aí a imprensa tem um papel fundamental porque não pode naturalizar essas falas negacionistas. A imprensa não pode chamar um ministro como aquele [Osmar] Terra para dar uma entrevista, porque ele não tem formação, não tem condição, o que ele fala é mentira. Quando se coloca alguém em rede nacional para falar mentira se está naturalizando o negacionismo.
Bolsonaro se elege a partir disso, nega a ditatura civil-militar e chama de revolução, vem a público em 2016 elogiar um torturador e não foi preso por isso, e naturalizavam isso, fizeram várias reportagens perguntando para as pessoas se isso era um problema. Ao naturalizar essas mentiras, se acaba por estabelecer um regime histórico verossímil.
Fenômeno negacionista
Isso não é um fenômeno só brasileiro. O negacionismo é a tática central da política dos países de extrema direita no século XXI. E Bolsonaro se faz a partir disso, é um desdobramento desse modo de fazer política, desse modo de vida. Bruno Latour recentemente deu uma entrevista dizendo que o negacionismo científico não só não nega como tem uma capacidade de criar um outro tipo de relação entre o homem e a Terra, o seu território. E é aí uma ideia de país absurdamente conservador, sem conflito, sem mobilidade, sem diversidade.
O negacionismo não é algo vocacionalmente da extrema direita. Se tem o negacionismo em fases e se tem tipos de negacionismo. Existe um teórico do negacionismo, um psicólogo chamado Israel Charny, que teoriza o que chama de negacionismo inocente: é o sujeito que acaba mobilizando a mentira, a negação, a materialidade de um acontecimento no almoço de domingo, não tem a pretensão de estabelecer um novo regime. É a mesma coisa quando se nega que a situação do clima seja algo gritante e que não é preciso estabelecer políticas e protocolos, colocar no centro do debate. Não haverá saída se o clima não for colocado numa relação outra do homem com a natureza. Negar esse caminho é negar o próprio real, o presente.
Quando o mundo inteiro tem discutido outros protocolos de abordagens das PMs, o Brasil não está tocando nesse assunto. Não é só Bolsonaro. Nesses governos de esquerda, inclusive aqui na Bahia, onde a candidata é PM, o genocídio da população é negado. Ele é silenciado, a esquerda não toca no assunto e a direita nega. A gente está mal, bem mal.
E, afinal, há saídas?
Há saídas e elas precisam ser articuladas. Precisam começar explicitando a negação. Nós precisamos restaurar um regime de historicidade verossímil, dizer o que não é, que somos diferentes, marcar posições e olhar e prestar atenção no mundo, para o acúmulo político no mesmo campo. No mundo todo, por exemplo, a pauta antirracista é fundamental. Aqui no Brasil ela é colocada, por um setor da esquerda, como pauta identitária. O mundo todo denunciando que o Brasil é o país que mais mata população LGBTQI+ e há dirigentes de esquerda que consideram e chamam isso de pauta identitária. Ficam naquela disputa sobre quem é mais esquerda, o cara que acha que a classe é mais importante ou o que acha que o gênero é mais importante. Não é essa a discussão.
Precisamos derrotar o bolsonarismo, mas é preciso começar a derrotar o bolsonarismo dentro da esquerda. Temos que situar a esquerda do que está acontecendo no mundo. Isso é calibrar os nossos instrumentos de análise do real para poder responder questões à altura do bolsonarismo. Afinal, o bolsonarismo não é fruto de alguém que delira, é uma política racional, muito bem pensada, tanto é que ele está ganhando todas. A gente não ganha nenhuma. Até quando ele erra, ele ganha.
Não é só a agenda paulo-guedista. É um regime, um modo de estar no mundo, é uma resposta desses setores ao avanço de regiões, de setores da sociedade ao empoderamento de mulheres, de negros, da população LGBTQI+, tudo isso é uma resposta. E não é algo tangencial; a luta antifascista, a luta feminista estão no centro do debate. Veja o que fizeram com a menina de dez anos que foi estuprada. Esse campo de batalha para mim é a prova cabal de que isso que estou falando faz algum sentido.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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