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Foto: Jonathan Miranda / Presidência do Equador

Apagões no Equador detonam aprovação de Noboa e consulta popular pode fracassar

Mandatário aposta todas as fichas em votação, marcada para domingo (21), sobre mudanças na lei trabalhista e na economia equatoriana
Orlando Pérez
La Jornada
Quito

Tradução:

Beatriz Cannabrava

O que, para muitos, seria uma vitória indiscutível na votação popular no próximo domingo (21), hoje gera incerteza e até o risco de uma derrota para o presidente Daniel Noboa. Primeiro, foi afetado pelo assalto à embaixada mexicana e agora pelos apagões de energia elétrica que em algumas cidades chegaram a durar até 32 horas.

E a isso se somam medidas desesperadas: declarar dois dias de feriado nesta quinta (18) e sexta-feira, além de acusar sua ministra de Energia, Andrea Arrobo, de sabotagem. Isso gerou impactos negativos em sua popularidade e popularidade. Segundo o comunicado oficial, nestes dois dias, “os setores estratégicos do governo serão totalmente operacionais e focados 100% na tarefa da resolução da crise energética”.

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De acordo com o consultor político Antonio Ricaurte, da varredura feita em toda a web e em todas as redes sociais, a conversa negativa sobre Noboa aumenta de 28% para 69%. As positivas estão na ordem de 8%, quando há duas semanas estavam acima de 40%. Para Ricaurte, “o erro grave, ao não ter planejado a crise energética, e o que é mais complicado, ter dito ontem: ‘não houve cortes de luz’, e hoje os cortes se incrementaram; produziram uma avalanche de críticas que diminuíram a acessível e a substituição do presidente”.

E isso se expressa nos protestos desta quarta (17), registrados nas localidades com mais apagões e com estudantes universitários em Quito que foram reprimidos pela Polícia. A maior preocupação para os setores produtivos e comerciais é o impacto que os especialistas falam de aproximadamente um bilhão de dólares nesta semana. Inclusive, com a declaração de emergência não se resolveria a crise no curto prazo, pois nas palavras do especialista José Alvear, “nas horas de pico se consomem 4.900 megawatts (MW). A demanda de crescimento por ano é de 300 MW, atualmente temos um déficit de 600MW e se não for corrigido neste 2024, no próximo ano o déficit será de 900MW. E acrescentou: “Já não é o momento de pensar na manutenção das hidrelétricas porque o tempo já não permite esperar essa operação, já que estamos tomando entre 6 meses e um ano e meio”.

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Disso haverá consequências na decisão do povo equatoriano no domingo, segundo a especialista em conversação digital, Alondra Enríquez: “de domingo até hoje (esta quarta-feira) e principalmente de segunda a terça-feira há variações, pois o trabalho comunicacional de jovens pelo NÃO, em duas das perguntas, tinham tendências a ampliar, mas desde ontem aumentou consideravelmente, pelo menos nas redes sociais, para a votação popular em geral e já não só nessas duas perguntas (as relacionadas com o ‘trabalho por horas’ e que as discrepâncias com empresas estrangeiras se resolvem em tribunais internacionais)”.

Enquanto isso, Noboa continuou nesta quarta no proselitismo na província de Esmeraldas, onde disse que seus oponentes políticos “estão nervosos, porque o SIM vai ganhar uma votação popular. Poderão fazer mil piruetas, poderão realizar sabotagens temporárias, mas isso não vai impedir que as pessoas usem sua melhor arma: o voto, para que com o voto lhe seja devolvida a dignidade”. E prometeu boas notícias para a próxima semana, que não adianta, segundo ele “para que não creiam que o presidente está fazendo campanha”. Se refere à entrega de um novo crédito internacional para pagar dívidas com os municípios e prefeituras.

Noboa perde apoios e fica sozinho na América Latina

Milhares de pequenos negócios perderam seus rendimentos diários por cortes de luz que em algumas províncias equatorianas superaram as cinco horas em média. Esta situação, prevista, não deveria ocorrer depois que em janeiro passado a Assembleia Nacional aprovou uma lei de “zero apagões” para facilitar ao governo várias ações para enfrentar as estiagens e para a potencialização elétrica nas centrais térmicas e hidrelétricas.

Isto ocorreu há poucos dias da votação popular na qual Noboa aposta tudo, e quando a sessão extraordinária da CELAC condenou por unanimidade o assalto à embaixada mexicana em Quito. Em função disso, o governo equatoriano decretou a emergência energética e que não dizer aos especialistas não resolverá nada porque “não se tomaram a tempo as medidas urgentes”.

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Se até o final da semana já havia perdido apoios substanciais em pelo menos onze perguntas da votação popular, o mal-estar pela falta de energia elétrica desencadeou a relutância intensiva da cidadania nas redes sociais e em algumas localidades que protestaram na rua. Segundo algumas pesquisas (com autorização de publicação no Equador), nas duas perguntas mais polêmicas Noboa perderia; a que propõe reformas constitucionais para implementar o “trabalho por horas” e para que o Estado equatoriano reconheça a arbitragem internacional para solucionar controvérsias sobre investimento estrangeiro.

Por isso a ocorrência de Noboa: acusou que os apagões – frequentes desde o domingo (14) – fazem parte de uma sabotagem contra sua votação popular, não por falta de investimento ou manutenção da infraestrutura elétrica como advertem especialistas no tema, aos quais disse que “mais que doutores, são uns idiotas”. “Nós não permitiremos que isso passe porque o fazem de miseráveis antes da votação popular, porque sabemos que a tinham perdido, e avisamos que no domingo as pessoas votarem ‘SIM’ na votação popular”. De fato, para surpresa de muitos, ao cair da tarde desta terça-feira, um grupo de policiais e militares ingressou nas instalações do Ministério de Energia buscando evidências dessa suposta sabotagem e tratando mal os funcionários que resistiram a serem revistados e questionados.

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Também na terça-feira, de manhã, medidas extremas foram anunciadas. Segundo Noboa: “nestes dias vivemos certas desgraças, algumas causadas por equatorianos que tratam de afetar seu país e sua população”. O que não disse é que esta crise vem de várias semanas, pois castigada por uma seca que tem várias hidrelétricas perto de níveis críticos, a Colômbia deixou de exportar energia elétrica ao Equador.

Para Marco Acuña, presidente dos Colégios de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos de Pichincha, desde março foi anunciado a Noboa que os apagões tinham que se iniciar para proteger a infraestrutura elétrica, pois estava sujeito ao máximo. Pondo-a em risco, só por temas políticos, e esclareceu que os apagões eram previsíveis ainda com a Lei de Competitividade Energética e ao incremento do IVA (a 15% desde 1º de abril), porque não foram tomadas medidas adequadas e urgentes, que incluem investimentos.

Efeitos imediatos

O primeiro efeito foi a saída da ministra de Energia, Andrea Arrobo. Igualmente, o presidente apresentou uma denúncia ante a Promotoria porque ela teria sabotado algumas centrais elétricas. E acrescentou – mais “picante” – em seus discursos frente aos jovens empreendedores em Guayaquil: o Centro de Inteligência Estratégico (CIES) “está trabalhando para dar com os responsáveis ​​​​que serão processados ​​​​como traidores ao Pátria e por ameaça à segurança nacionais”.

Visto como um ato de desespero, resolvi cobrir 50% das contas elétricas das casas deste mês de abril. “É uma decisão para compensar a ação dos miseráveis. Não vamos dar mais apagões nesta semana”, afirmou. Para o analista político Mauro Andino, “falar de sabotagem sem provas é vergonhoso. Noboa repete as práticas discursivas de seus antecessores, culpando outro sem fazer carga de sua inoperância e de sua equipe. Não se pode neutralizar a mentira e a equipe como ferramenta política. Tem o controle quase absoluto do Estado e lança teoria semelhante da conspiração para justificar os apagões?”.

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Ao explicar a decisão de pedir a renúncia ao ministro Arrobo, o secretário de comunicação, Roberto Izurieta, disse que já não é apenas um problema técnico, mas que se “precisa de uma pessoa que tenha a firmeza e a confiança do presidente da República para afrontar os desafios que têm este ministério (o de Energia) de capacidade de gestão e luta contra a corrupção”.

No entanto, ao encerrar sua intervenção com jovens guayaquilenhos, Noboa sentenciou: “Não daremos descanso a nenhum desses crimes, acabará com a esperança da juventude da família equatoriana”.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Orlando Pérez Correspondente do La Jornada em Quito.

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