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Apoio ao genocídio em Gaza pode fazer Biden perder voto de sindicatos cruciais à reeleição

Postura da Casa Branca também tem minado a adesão de jovens, muçulmanos e árabe-estadunidenses em estados-chaves do mapa eleitoral
David Brooks
La Jornada
Washington

Tradução:

O sindicato nacional de trabalhadores de serviços SEIU, nos EUA, com quase dois milhões de afiliados, apelou esta semana por um cessar-fogo imediato em Gaza, somando-se a milhões de professoras, trabalhadores automotrizes, defensores de direitos humanos, organizações progressistas judaicas e muçulmanas, entre outros ativistas e artistas que exigem um fim à guerra de Israel contra os palestinos. Alguns denunciaram a cumplicidade dos Estados Unidos com o que qualificam como crimes de guerra.

“Apelamos por um cessar-fogo imediato, a libertação de todos os reféns, e a entrega de alimentos, água, remédios e outros recursos para salvar vidas ao povo de Gaza“, declarou o líder do SEIU. Em sua declaração cuidadosamente redigida, o sindicato, que inclui desde trabalhadores da área da saúde aos de limpeza e manutenção de edifícios, denunciou os ataques do Hamas de 7 de outubro, mas enfocou a sua condenação nos ataques militares de Israel sobre civis e a crise humanitária em Gaza que isso está desatando, sublinhando que “trabalhadores do SEIU se veem refletidos nos trabalhadores de saúde em Gaza”.

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A declaração da direção sindical se produz depois que várias de suas seções mais poderosas ao redor do país já haviam se pronunciado a favor de um cessar-fogo. Com isso, o SEIU se soma ao sindicato automotivo nacional UAW, com seus 350 mil afiliados, que em dezembro endossou os apelos internacionais por um cessar-fogo, junto com várias seções de sindicatos da educação em Chicago, San Antonio, Portland, Oregon, entre outros. No entanto, uma ampla parte da liderança nacional de vários sindicatos ainda não se atreveu a se pronunciar.

Depois de várias seções do grêmio de professores National Education Association, com três milhões de membros, terem emitido um apelo por um cessar-fogo em Gaza, sua dirigente Becky Pringle declarou em dezembro: “Nos somamos a outras organizações, junto com líderes judeus e muçulmanos ao redor do planeta, em um apelo urgente pelo fim à violência”, embora não tenha mencionado “cessar-fogo”.

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Randi Weingarten, presidenta sionista do grêmio Federação Americana de Professores, viajou a Israel pouco depois dos ataques do Hamas em outubro, mas em dezembro, depois de múltiplos protestos e até manifestações de seus afiliados, se viu obrigada a declarar o apoio a um “cessar-fogo bilateral negociado” que promova “o processo de 2 Estados para 2 povos”.

Enquanto estas declarações são muito mais limitadas que as ações mais progressistas, como as dos estivadores sindicalizados na Califórnia, que se recusaram a carregar ou descarregar barcos destinados a Israel, ou o sindicato eletricista United Electrical Workers, que apelou por um cessar-fogo imediato, demonstram uma crescente demanda de suas fileiras para opor-se a essa guerra, sobretudo por trabalhadores mais jovens.

Ao mesmo tempo, ativistas árabe-estadunidenses, muçulmanos e judeus, tanto dentro, como através de várias organizações, têm impulsionado as demandas em apoio a um cessar-fogo, assim como para pressionar o governo de Joe Biden a frear seu envio de armas a Israel.

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Postura da Casa Branca também tem minado a adesão de jovens, muçulmanos e árabe-estadunidenses em estados-chaves do mapa eleitoral

Foto: Joe Biden/X
Até Barack Obama tem alertado Biden sobre a possível erosão de apoio entre os jovens em razão das políticas pró-Netanyahu

Esta semana, o governo municipal de Chicago postergou um voto sobre uma resolução apelando por um cessar-fogo, mas Detroit, Atlanta e San Francisco estão entre mais de duas dúzias de governos locais que aderiram ao apelo.

If Not Now (Se não agora), um agrupamento ativista de jovens judeus, estendeu uma faixa gigantesca de mais de 15 metros desde a famosa torre sobre uma colina em São Francisco com a mensagem “Judeus dizem: deixem que Gaza viva” e repetiram em coro “não em nosso nome”. Explicaram que entre seus objetivos imediatos estava criticar os dois senadores federais da Califórnia, assim como a ex-presidenta democrata da câmara baixa em Washington, Nancy Pelosi, afirmando que “os políticos californianos devem se envergonhar por seu espantoso fracasso em apoiar um cessar-fogo, e em lugar disso apoiar o genocídio de Gaza“.

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Embora estes legisladores federais da Califórnia e uma maioria do Congresso em Washington ainda ofereçam apoio incondicional à política internacional de Biden, que inclui bloquear qualquer tentativa de impor em cessar-fogo, vários membros da câmara baixa escreveram ao secretário de Estado exigindo que o governo estadunidense se oponha à expulsão de palestinos de Gaza, o que vários líderes israelenses marcaram publicamente como seu objetivo.

Esta crescente oposição à política de Biden em seu apoio incondicional a Israel é politicamente perigosa, já que estes sindicatos são chave para o apoio eleitoral do presidente em busca da reeleição. Tal como reportou o La Jornada, essa política oficial também está minando o apoio de Biden entre os jovens, comunidades muçulmanas e árabe-estadunidenses em estados-chave do mapa eleitoral como o caso de Michigan. De fato, Biden tem programado uma viagem a Michigan para este mês, mas a governadora democrata desse estado, Gretchen Whitmer, advertiu no último domingo (21) que “poderia” enfrentar protestos pelas políticas da Casa Branca em torno de Gaza.

O ex-presidente Barack Obama, segundo relatos, também esteve advertindo Biden – que foi seu vice-presidente – sobre a possível erosão de apoio entre os jovens. Uma fonte próxima a Obama comentou ao Talking Points Memo: “a verdade é que não só necessitamos que os jovens votem em novembro, mas também que trabalhem duro, se envolvam, se mobilizem, que apelem a seus amigos e se entreguem plenamente nisto”.

Por ora, o apoio da guerra de Israel contra os palestinos começa a ter cada vez mais um custo político para o governo de Biden e seus aliados. Só nesta terça-feira (23), Biden, ao dar um discurso em um evento de sua campanha na Virgínia, foi interrompido 13 vezes por democratas que exigem um cessar-fogo.

Jim Cason e David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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