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ToggleFinalmente, o Presidente Castillo decidiu recorrer à Organização de Estados Americanos – a OEA – para encontrar amparo diante da quase imparável ofensiva de seus adversários unidos em um só propósito: tirá-lo do Governo de qualquer maneira.
Alguns interpretaram o fato como um recurso de afogado. Quase como o último recurso que lhe restava a um mandatário encurralado em uma batalha, por certo, desigual. Outros, perceberam o fato como a expressão de uma vontade sem retorno: Pedro Castillo está disposto a ir até o fim em defesa de seus direitos. E se não conseguir reverter o quadro aqui, não duvida em recorrer às instâncias internacionais.
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Essa é uma pareceria a qual desde o início o Mandatário peruano intuiu que poderia recorrer. Por isso, pôs empenho em procurar um nexo vivo com a OEA, pagando um preço certamente comprometedor: sem renunciar ao seu projeto interno, sua administração não se somou nunca à corrente transformadora representada pelo processo bolivariano.
Relações com os países da ALBA, sim, mas à distância. Amizade com Cuba, Venezuela e Nicarágua, também, mas “de longe” Para não assustar o ogro do norte. Assim, uma convivência mutuamente benéfica – e oportunista, sem dúvida – à qual, agora, o professor rural busca tirar proveito.
Nem o país nem os peruanos têm razão alguma para confiar na OEA. Sua origem, trajetórias e ações de hoje perfilam como acertadamente foi denominada antes: Ministério de Colônias criado pela Casa Branca para manter no redil os países do novo continente.
OEA – Flickr
Bem ou mal, a OEA já está na peleja. E ao iniciar o primeiro round, amparou a Castillo. O que virá agora? Será preciso ver!
Gendarme do Império
Ao longo de mais de 70 anos, a OEA tem confirmado seu papel como gendarme do Império. Assim ocorreu na Guatemala em 1954; Cuba, desde 1959; Granada, em 1983; Nicarágua, dos anos 80 até hoje; Panamá, em 1989; Venezuela, sobretudo desde o começo do novo século.
Em contrapartida, a OEA protegeu, ao longo da sua história, às camarilhas assassinas do projeto brasileiro de 64; às ditaduras sinistras de Pinochet, Videla e Alvarez; não teve asco com o Golpe de Estado que derrubou no Paraguai o Presidente Lugo; nem com o que acabou com o governo de Zelaya, em Honduras; e muito menos com o que aconteceu contra Dilma Rousseff e abrira a porta à figura diabólica de Bolsonaro. Nem tampouco à derrubada de Morales na Bolívia, na década passada. Ali, até meteu a mão.
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A OEA, como se tudo isto fosse pouco, alentou aos bandos delinquentes e aos grupos fascistas que em Caracas pretenderam derrubar Hugo Chávez primeiro e Nicolás Maduro depois; e aos que na Pátria de Sandino se levantaram em 2018, para atormentar o povo da Nicarágua. Tudo uma executória sinistra, certamente, que foi vista pelo mundo com indignação e ira pelos povos do nosso continente.
Que razão teria o povo e o país peruano para confiar na “Carta Democrática” da OEA? Nenhuma, certamente. Imaginá-lo seria como confiar no gato e pô-lo de guardião da despensa. Mas, curiosamente, Castilho poderia esperar algo desse engendro.
Discursos contraditórios
O que ocorre é que os Estados Unidos não têm sempre uma mensagem uniforme. Um é o discurso de Biden, por exemplo; e outro o de Trump. Uma é a prática do Departamento de Estado EUA, e outro o acionar da Agência Central de Inteligência – a CIA – que age muitas vezes por sua própria conta, como também o faz o Pentágono. É que o Imperialismo foi sempre um monstro com várias cabeças. A OEA é uma delas. Além do mais, Biden e Blinken não teriam por que temer Castillo.
Assessorado por diplomatas bem informados, invocou os artigos 17 e 18 da Carta que foram assumidos pela OEA por iniciativa do governo peruano após a crise gerada no início do novo século por Alberto Fujimori e sua quadrilha. A grosso modo, o artigo 17 reconhece a possibilidade de um mandatário que vê em risco o processo político que representa, e seu próprio exercício do Poder, para solicitar a mediação da OEA. E o 18 assinala um procedimento que o ampare em tal circunstância. Ambos os recursos se adequam ao cenário peruano de nossos dias.
Aqui, em efeito, se registra uma carga violenta contra o Presidente da República. Foram apresentadas contra ele várias denúncias e acusações de grosso calibre. Foram formuladas pela Promotoria diversos parlamentares e a “Grande Imprensa”. Mas em todos os casos, se tratou de versões, algumas das quais podem parecer verossímeis, mas nenhuma foi provada por uma razão muito simples: não houve processo algum, e ninguém pôde exercer a defesa do acusado.
Além do mais, quando o ministro falou para justificá-lo, disseram a ele que se calasse, e que renunciasse porque, do contrário, seria “cúmplice” do investigado. E quando algum parlamentar se negou a votar pela vacância, o ameaçaram com a demissão e a prisão. Essa é a garantia do “devido processo” que se colocou ao Presidente?
Há quem diga que “todos os indícios o acusam”, mas ninguém pode ser derrubado nem condenado por indícios. Buscam já “suspender” a Castillo, sem havê-lo julgado. E para consegui-lo, têm incriminado toda a sua família, próximos, colaboradores, amigos. Todos integram “a organização criminosa”, são “cúmplices” dela. Ou o acusam, ou vão presos.
Isso explica o SOS do Mandatário, embora seus adversários o maldigam. Mas eles, que não amam a OEA, foram antes bater na sua porta para anular sua eleição. Buscaram a “ingerência externa” que hoje rechaçam.
Bem ou mal, a OEA já está na peleja. E ao iniciar o primeiro round, amparou a Castillo. O que virá agora? Será preciso ver!
Gustavo Espinoza M. | Colaborador da Diálogos do Sul em Lima, Peru.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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