Após oito dias de uma paralisação declarada indefinida e que complicou o abastecimento em importantes cidades e o despacho de exportações perecíveis, o grêmio dos proprietários de caminhões no Chile obteve concessões do governo destinadas basicamente a congelar durante os próximos quatro meses o preço do óleo diesel, e também melhorar a segurança dos motoristas nas rodovias.
A mobilização, consistente em centenas de caminhões estacionados ao longo de quilômetros nas estradas, com bloqueios parciais que deixam lenta a circulação, foi iniciada no último dia 21 pela Confederação de Transportistas Força do Norte, uma das quatro patronais existentes, mas foi se estendendo ao longo dos dias para o centro do país, conseguindo afetar as proximidades da capital e o deslocamento ao vizinho importante porto de Valparaíso.
Embora as outras três e maiores organizações não tenham entrado formalmente na paralisação, deram apoio tácito e foram parte das conversações com o governo e com o grande empresariado concentrado na Confederação da Produção e do Comércio (CPC), que emprega os transportistas e negocia tarifas.
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Entre os compromissos pactuados, o governo aceitou somar outros US$ 1,5 milhões ao Mecanismo de Estabilização do Preço dos Combustíveis (MEPCO), que opera como subsídio evitando fortes flutuações, e tramitar em meados de dezembro com caráter de discussão imediata um projeto de lei para congelar durante 120 dias o preço do diesel.
Em matéria de segurança, a administração prometeu melhorar a segurança em sete pontos entre as regiões de Arica e Coquimbo, pelo Norte, onde haverá presença policial preferencialmente em horário noturno, enquanto que em 2023 serão construídas seis zonas de estacionamentos para serem usadas como lugares de descanso na Macrozona Norte.
![Em 8 meses do governo Boric, essa foi a segunda vez que a categoria ocupa estradas e congestiona abastecimento de alimentos](https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/wp-content/uploads/2023/10/974f8a7472b81fa68f2a8c2dabafc4db_50aa3276db927ee7bb740e46bedcb310.png)
Con la fuerza del norte – Reprodução/Twitter
No Chile, 90% da carga é transportada por estradas ao longo dos 5 mil quilômetros de extensão do país
Em contrapartida, o governo não cedeu – em demonstração de dureza – retirar as 34 acusações que apresentou contra manifestantes que bloquearam vias e impediram a livre circulação por delitos previstos na Lei de Segurança Interior do Estado.
Nos pouco mais de oito meses do governo de Gabriel Boric, esta foi a segunda vez que os caminhoneiros ocuparam estradas e complicaram o abastecimento de alimentos, combustíveis e carga em geral, ao mesmo tempo que atrasam a transferência aos portos de mercadorias de exportação como fruta, madeira e minérios, causando substantivas perdas quando se trata de bens perecíveis que devem ser embarcados em tempo.
Isso se deve ao fato de que no Chile 90% da carga é transportada por estradas ao longo dos 5 mil quilômetros de extensão do país, desde a fronteira com o Peru e a Bolívia, no Norte, até as terras patagônicas e os gelos austrais pelo Sul. Apenas os 10% restantes são movidos por estrada de ferro, enquanto que a cabotagem marítima é mínima e ocorre essencialmente nos arquipélagos do Sul e para as ilhas oceânicas (Juan Fernández e RapaNui) no Pacífico.
O transporte por estrada de ferro foi desmantelado durante a ditadura militar (1973-1990), o que, segundo relatos, ocorreu em parte como recompensa ao papel que os caminhoneiros desempenharam em sabotar a governo do presidente Salvador Allende, concretando duas longas paralisações durante semanas e bloqueios de rotas em 1972 e 1973, que prejudicaram severamente a cadeia de fornecimento.
Isso lhes deu historicamente um imenso poder de chantagem sobre os governos e lhes permitiu obter importante prebendas, por exemplo: recuperam até 80% do imposto específico sobre o óleo diesel; além disso, tributam mediante um sistema de renda presumida que não consegue estabelecer a verdadeira magnitude de suas rendas e lucros.
Aldo Anfossi | Correspondente do La Jornada em Santiago do Chile.
Tradução: Beatriz Cannabrava
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