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Após a pandemia, é fundamental pôr fim ao pesadelo neoliberal no país de Donald Trump

No país mais rico do mundo, urge que “Paciência” e “Fortaleza” se levantem e convoquem os estadunidenses para pôr fim ao pesadelo neoliberal
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

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Os dois leões de mármore que vigiam a entrada da Biblioteca Pública de Nova York na Quinta Avenida não recebem visitas desde que foram implementadas as medidas contra a pandemia.

Têm sido testemunhas de tanta coisa desde 1911 – desfiles, protestos, o espetáculo cotidiano no centro de Manhattan – mas nada como isto, um silêncio sem precedentes de uma cidade clausurada. Nos anos trinta, durante a Grande Depressão, o prefeito de então, Fiorello LaGuardia, os batizou como “Paciência” e “Fortaleza” – as qualidade que ele dizia que todo novaiorquino necessitava para aguentar a crise. 

Mas nesse tempo havia um presidente chamado Franklin D. Roosevelt, movimentos sociais poderosos, partidos como o comunista e o socialista com grande capacidade de organização (de onde brotaram os conceitos de Seguro Desemprego e Seguro Social que desde então formam parte fundamental do que sobra do estado de bem-estar hoje em dia nos EUA).

No país mais rico do mundo, urge que “Paciência” e “Fortaleza” se levantem e convoquem os estadunidenses para pôr fim ao pesadelo neoliberal

Wikimedia Commons
Um dos leões de mármore que vigiam a entrada da Biblioteca Pública de Nova York

Sanders

Hoje, em lugar de um Roosevelt, temos o governo corrupto e perigoso de Trump, um movimento trabalhista no ponto mais fraco de sua história (embora haja sinais de um possível renascimento) e um partido de oposição, o Democrata, que tem sido em parte cúmplice do desastre com um candidato pouco audaz.

Não serve de consolo que a pandemia tenha comprovado que os herdeiros dos movimentos dos anos 30 e da agenda liberal de Roosevelt – Bernie Sanders, um pouco Elizabeth Warren – tinham razão quando diziam que é preciso uma “revolução política” que recupere a democracia para os 99%, incluindo os imigrantes, e definir a saúde, e o acesso a ela, como um direito humano. 

Sanders escreveu na semana passada que “somos o país mais rico na história do mundo, mas em tempos de desigualdade massiva de renda e riqueza essa realidade importa pouco para a metade do país que vive de quinzena em quinzena, para os 40 milhões em pobreza, para os 87 milhões que não têm seguro de saúde ou têm um insuficiente, e para meio milhão de pessoas sem teto”.

No artigo, publicado no New York Times, ele diz que o país não conta, na verdade, com “um sistema de saúde, que esse setor é um negócio que em meio à pandemia está despedindo milhares de trabalhadores médicos, entre outras coisas. Talvez o positivo dessa crise, afirmou, é que está provocando muitos a questionar os fundamentos do sistema de valores estadunidenses”.

O reverendo William Barber, coordenador da Campanha dos Pobres, comentou que “a doença subjacente… é a pobreza, que estava matando quase 700 de nós a cada dia no país mais rico do mundo, muito antes que alguém soubesse da Covid-19”. 

Chomsky

Noam Chomsky reiterou que “os Estados Unidos sob Trump é um estado falido que representa um perigo sério para o mundo”. Em uma entrevista recente, diz que este país cumpre com a definição técnica de um estado falido: um estado que demonstrou sua incapacidade para atender as necessidades mais básicas de sua população. 

“Por mais de dois séculos, os Estados Unidos geraram uma ampla gama de sentimentos no resto do mundo: amor e ódio, temor e esperança, inveja e desdém, assombro e ira. Mas há uma emoção que nunca havia sido dirigida aos Estados Unidos até agora: lástima… O país que Trump prometeu fazer grande outra vez nunca em sua história pareceu tão lamentável”, escreveu Finlan O’Toole no Irish Times.

O fator fundamental em toda essa dupla crise, pandêmica e econômica, é a agenda neoliberal das últimas quatro décadas que fomentou a pior desigualdade econômica em quase um século. Com o poder político que isto implica, em outros países isso se chama “plutocracia”.

Sim, “paciência” e “fortaleza” são necessárias para aguentar este desastre. Mas também se necessita que os leões deitados convoquem seus admiradores a se levantar para transformar esta crise e pôr fim ao pesadelo neoliberal.

Se escutarmos com muita atenção, no meio do silêncio imposto pela quarentena às vezes se pode ouvir um novo, e antigo, rugido.  

David Brooks, correspondente do La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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