Quatro dias depois das eleições gerais, a realidade sobre a dramática situação econômica que deixa o governo do presidente argentino, Mauricio Macri, para seu sucessor Alberto Fernández, da opositora Frente de Todos, evidencia-se em que enquanto o dólar baixa por imposição das autoridades, as reservas do Banco Central continuam se evaporando e nesta terça-feira se perderam outros 94 milhões de dólares.
Desde as passadas primárias de 11 de agosto, foram 22 bilhões de dólares para os quais ninguém encontra justificação. Da mesma maneira, tenta-se saber para onde foram os 45 bilhões de dólares entregues pelo Fundo Monetário Internacional ao governo de Macri, que emitiu um Decreto de Necessidade e de Urgência para ampliar o orçamento de 2019 em uns 686 bilhões de pesos para cobrir gastos de gestão, dos quais uns 308 bilhões e 693 milhões serão destinados para o pagamento do serviço da dívida pública.
Horas depois do triunfo de Fernández, o Banco Central dispôs que a partir desta semana o limite de venda e compra de dólares será de apenas 200 por mês através de contas bancárias e de cem dólares para compra em efetivo, para manter as reservas até que assuma o novo governo em 10 de dezembro. Até a sexta-feira passada o limite era de 10 mil dólares.
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a partir desta semana o limite de venda e compra de dólares será de apenas 200 por mês
A medida fortaleceu o peso, que ganhou 0,24 cento, para fechar nesta terça-feira em 59,46% e forçou os investidores a se desprenderem dos seus dólares. Operadores destacaram que prévio às eleições os bancos foram superados diante da quantidade de pessoas que demandaram dólares ou que, temerosos, esvaziaram suas contas em divisas; mas, passadas as eleições as casas bancárias estão desertas.
Em todo caso, aumentam as filas nas chamadas “cuevas”, casas de câmbio ilegais. Na central rua de pedestres Florida multiplicam-se os chamados “arbolitos” donde o dólar foi cotado a 69 pesos, três acima do câmbio oficial.
Por outra parte, à raiz das denúncias sobre inconsistências advertidas durante as eleições gerais e por irregularidades encontradas na confecção das listas, e as suspeitas que pesam sobre a empresa Smartmatic contratada pelo governo de Macri para o escrutínio provisório, fontes do FdT asseguram que, na realidade, a fórmula Alberto Fernández-Cristina Kirchner ganhou por 10 pontos a Mauricio Macri-Miguel Pichetto, e não por 8 como se informou oficialmente, indica o portal El Destape.
O reconhecido informático Ariel Grabaz deu alguns dados quanto à validade do escrutínio definitivo; e se sabe que haveria muito mais de meio milhão de votos a favor do FdT que não teriam sido contabilizados no provisório, diz Garbaz.
Por outra parte, a Câmara Federal de Buenos Aires, revogou dois processos contra a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner sobre a causa armada com base das fotocópias dos cadernos apresentados pelo ex-motorista Oscar Centeno, que disse que os havia queimado e nas últimas horas outro juiz federal tomou uma dura resolução diante da suposta aparição de seis cadernos, uma nova invenção e uma manobra escandalosa.
Embora se mantenha outro processo por corrupção em obra pública contra a ex-presidenta e agora vice-presidenta eleita, juristas destacam que nesse não há provas concretas.
Em outro grande escândalo judicial se ficou sabendo que o governo não só espiou ilegalmente os movimentos de magistrados de todo o país e dos juízes da Corte Suprema, mas também de governadores peronistas e “até foi vítima desse tipo de operação um importante mandatário provincial da União Cívica Radical (UCR), Alfredo Cornejo, máximo sócio do Partido Proposta Republicana de Macri”.
De acordo com o periódico digital Infobae, à investigação que é tramitada pelo juiz federal Rodolfo Canicoba Corral somaram-se agora dados que permitiram acreditar que foram vigiados os movimentos dos governadores Alicia Kirchner (Santa Cruz), Oscar Domingo Peppo (Chaco), Mariano Arcioni (Chubut) e Hugo Mario Passalacqua (Misiones), da atual oposição peronista. Também foram espionados deputados e funcionários públicos. O tema de um manejo mafioso da justiça será um dos maiores escândalos dos quatro anos do governo de Macri.
*Stella Calloni, Correspondente – La Jornada, Buenos Aires.
**Tradução: Beatriz Cannabrava
***La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
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